
Foto: Divulgação/Fiocruz Amazônia
O Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD/Ficoruz Amazônia), em parceria com o Ministério da Saúde (MS) e a Vice-Presidência de Ambiente, Assistência e Promoção à Saúde (VPAAPS), da Fundação Oswaldo Cruz, realiza, no Amazonas, o Projeto Saúde e Bem Viver: Cuidar de si e do Território. A iniciativa é voltada para a promoção do cuidado e formação de equipes multidisciplinares (e-Multi) e/ou equipes de saúde da família (eSF), da Atenção Primária à Saúde, com foco na saúde mental.
A finalidade é ampliar e qualificar a atenção à saúde aos usuários e trabalhadores por meio de tecnologias de cuidado integral. O público-alvo são profissionais das equipes eMulti e eSF de até dez municípios, com no máximo 70 mil habitantes, por cada estado brasileiro que adote Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS). No último dia 28/04, foram iniciadas as atividades de formação dos profissionais de saúde dos 10 municípios amazonenses contemplados pela iniciativa – Careiro, Barreirinha, Eirunepé, Iranduba, Lábrea, Silves, Urucurituba, Novo Airão, Tabatinga e Tefé.
O projeto de formação em serviço de 120 horas é coordenado pelo Instituto Aggeu Magalhães/Fiocruz Pernambuco, responsável pela criação e coordenação do Observatório Nacional de Saberes e Práticas Tradicionais, Integrativas e Complementares em Saúde – ObservaPICS, da Fiocruz. No Amazonas, aproximadamente 300 alunos participam do projeto sob coordenação do ILMD/Fiocruz Amazônia, em parceria com a Scretaria de Estado da Saúde (SES-AM).
O pesquisador da Fiocruz Amazônia Rodrigo Tobias, que atua como coordenador estadual do Saúde e Bem Viver, explica que as atividades formativas se estenderão até setembro de 2025. Ao final, será possível realizar um diagnóstico abrangente das ações e intervenções em cuidado integral na promoção à saúde mental e uma mostra estadual de experiências que resultarão num documento reunindo exemplos de práticas integrativas e complementares que darão suporte aos trabalhadores da saúde no cotidiano dos serviços no Amazonas.
“Este curso representa uma oportunidade concreta de fortalecer o cuidado em saúde mental na atenção primária, valorizando saberes do território e promovendo práticas que colocam a vida e o bem viver no centro da ação do cuidado em saúde”, comenta Luana Alpires, coordenadora pedagógica do curso. O projeto é uma iniciativa do Núcleo de Gestão da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS do Departamento de Gestão do Cuidado Integral da Secretaria de Atenção Primária à Saúde do Ministério da Saúde (NTG-PNPIC/DGCI/SAPS/MS), coordenado pelo ObservaPICS,
De acordo com Rodrigo Tobias, o foco está na promoção do cuidado integral às demandas de saúde mental presentes na Atenção Primária à Saúde nos municípios com equipes multiprofissionais e da Estratégia de Saúde da Família habilitadas e que possuam coordenação de Saúde Mental e registro de ofertas de sessões de PICS. Pela SES-AM, atuam no projeto as enfermeiras Lívia Lima, articuladora territorial do projeto, e Diana Oliveira, gerente da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), da SES-AM. O projeto conta com uma equipe de tutores que farão o acompanhamento das turmas no interior, com atividades virtuais e presenciais.
Sobre as PICS
As Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) são abordagens terapêuticas que visam a promoção, prevenção e recuperação da saúde, utilizando recursos que complementam o tratamento convencional. São práticas que enfatizam a escuta acolhedora, a construção de laços terapêuticos e a conexão entre o indivíduo, o meio ambiente e a sociedade. As PICS buscam a prevenção de doenças e a promoção da saúde, utilizando conhecimentos tradicionais e abordagens integrativas, baseadas em uma visão holística do ser humano, considerando a interconexão entre corpo, mente, espírito e ambiente.
São exemplos de PICS: acupuntura, yoga, meditação, fitoterapia, homeopatia, biodança, aromaterapia, arteterapia, ayurveda, entre outros. No total, 29 práticas e terapias são reconhecidas pelo SUS, tendo como benefícios prevenção e tratamento complementar de doenças crônicas – como hipertensão, diabetes, fibromialgia e depressão –, redução do estresse e da ansiedade, melhoria da qualidade de vida com a promoção do bem-estar físico, mental e emocional, fortalecimento do vínculo terapêutico, com a escuta acolhedora e a construção de laços entre o paciente e o profissional de saúde.
ObservaPICS
O Observatório Nacional de Saberes e Práticas Tradicionais, Integrativas e Complementares em Saúde (ObservaPICS) está vinculado à Vice-Presidência de Ambiente, Promoção e Atenção à Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (VPAAPS/Fiocruz). Tem como objetivo gerar evidências científicas, a partir das evidências práticas acerca dos saberes tradicionais e práticas integrativas no Sistema Único de Saúde (SUS), para contribuir para a tomada de decisão, no campo das políticas públicas, tanto no Brasil quanto na América Latina.
O ObservaPICS tem como missão promover a reflexão teórico-conceitual e observar, com mapeamento e análise crítica o conhecimento e modos de cuidar da saúde preservados por povos tradicionais, como indígenas e comunidades afrobrasileiras, e o diálogo dessas experiências com o SUS, bem como as 29 Práticas Integrativas e Complementares em Saúde reconhecidas pelo Ministério da Saúde no Brasil, sua validação e interação com o modelo biomédico predominante.
Para desenvolver suas atividades, o ObervaPICS conta com apoiadores técnicos (bolsistas) e pesquisadores colaboradores de diferentes unidades da Fiocruz e de instituições parceiras. A pesquisadora da Fiocruz Pernambuco Islândia Sousa, coordenadora nacional da iniciativa e do ObservaPICS, afirma que “a formação Saúde e Bem Viver nasce da realidade dos territórios do SUS e promove o cuidado com quem cuida”.
Encontros em Manaus
Na Fiocruz Amazônia, a preparação de tutores do Projeto Saúde e Bem Viver envolveu a realização de dois encontros em Manaus, um que permitiu a aproximação desses temas para fortalecer os encontros com os alunos e o outro que estabeleceu as diretrizes de atuação pedagógica da trilha de formação em serviço. A psicóloga sanitarista Ana Elisabeth Reis, estudante de Doutorado em Psicologia Clínica e Cultura na Universidade de Brasília (UNB), atua no projeto como tutora da equipe da Saúde da Família do município de Tabatinga. Para ela, a formação foi extremamente enriquecedora.
“Tivemos a oportunidade de conhecer as práticas integrativas que estão sendo desenvolvidas pelos profissionais nos municípios, práticas que estão fortalecendo e promovendo saúde mental. Isso ampliou nossa visão sobre saúde na Amazônia, evidenciando o potencial e a inovação que surgem mesmo em contextos desafiadores, como o da falta de acessibilidade, infraestrutura e qualificação. Estou na expectativa de encontrar profissionais com grande potencial, pois vejo este momento de aprendizagem como uma troca de saberes, temos muito mais a aprender com eles que promovem a saúde mesmo com tantos desafios”, afirmou.
Junto com Ana Elizabeth, atuam como tutores do projeto no Amazonas, Ândria Tavares (Barreirinha), Viviane Verçosa (Careiro), Glenda Moura (Iranduba), Diana Oliveira (Lábrea), Walessa Bentes, Carolina Fadoul (Novo Airão), Nilson Bezerra (Silves), Gustavo Zanatta (Tefé) e Sandra Cavalcante (Urucurituba). Cada município terá uma turma com 30 alunos, sendo 15 de nível superior e 15 de nível médio, e ao final do curso em setembro cada turma fará uma mostra de experiências.
Deixe um comentário