
Manoel do Mingau é um dos personagens do mercado Walter Rayol, na Cachoeirinha, que ainda serve um café disputado
Houve um tempo, que se esfumaça na memória, na qual Manaus não tinha supermercado e, menos ainda, shopping centers. A vida girava, então, em torno dos mercados. Ali, os frequentadores se tornavam tão habituais que construíam amizades para toda a vida. Hoje, ao visitar esses locais, ainda é possível recolher histórias maravilhosas, como é o caso do monopólio, na capital da Zona Franca, que pertenceu ao Seo Manoel do Mingau.
Tudo começou com um pequeno boxe no Mercado Municipal Walter Rayol, na Cachoeirinha, homenagem ao político que foi presidente da Câmara Municipal e prefeito da cidade. Depois, com a diversificação do produto (aveia, maisena, banana, arroz etc.), Seo Manoel foi ampliando o negócio. Chegou a ter pontos de vida do Centro à Cidade Nova.
A lógica era bem simples: onde houvesse uma repartição pública, escola ou evento, lá estava pelo menos um carrinho vendendo o mingau do Seo Manoel.
Aquilo, que começou pequeno e invisível – quem ia prestar atenção num sujeito que vendia mingau? –, foi crescendo. Virou uma indústria. Seo João, hoje próspero dono do maior café do Walter Rayol, não tem dúvidas: “Ele era muito grande. Todo mundo conhecia. Chegou a ter mais de 200 funcionários”, explica.
Café do Seo João
O Café do Seo João é outro fenômeno. O mercado foi perdendo clientes e ficando vazio. Ainda veio a revitalização, inaugurada em dezembro de 2020, mas os boxes fechados emprestam um ar de abandono àqueles corredores. “Para o meu negócio foi bom. Comprei outros boxes e hoje tenho, só de fogões, 12 trabalhando para mim”, conta o proprietário.
Vivo, ativo e presente até hoje, Seo João, nascido no sertão de Minas Gerais, também tem orgulho de ter participado do nascimento do X-Caboquinho. “Uma juíza, que trabalhava na Justiça do Trabalho, quando funcionava aqui ao lado, me pediu para colocar tucumã no pão. Eu fiz, mas coloquei pouquinho, só dois tucumãs. Ela foi para o café ao lado e pediu para colocar mais. Percebi, depois, que o tucumã vende. Hoje compro 38kg de polpa, nos dias comuns, e até 50kg, nos domingos e feriados”, revela.
Seo João, café lotado, senta à mesa com os fregueses e compartilha histórias, com um jeito simples e direto. “Olha aí o Edson Melo, que trabalha na Difusora. Ele vem aqui quase todo dia”, aponta. O radialista “tira” o horário das 4h às 6h, antes do Jornal da Manhã, e faz o desjejum no mercado.
As histórias do Walter Rayol se estendem ao Seo Antônio, que conta com enorme freguesia para o charque, entregue cortadinho, pronto para a Jardineira. Ou dona Elizabeth, dos patos e das galinhas caipiras.
Essa crônica, no entanto, começou com Seo Manoel do Mingau. O que foi feito dele? Adoeceu, vendeu os pontos e, finalmente, aos 83 anos, uma filha, que mora na Irlanda, veio visitá-lo. Penalizada com a doença do pai, ela o levou para lá, onde mora até hoje.
Histórias do mercado Walter Rayol, na Cachoeirinha.
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