
Fissura na Democracia: os tucanos da época José Serra, Geraldo Alckmin (hoje vice-presidente da República) e Aloysio Nunes, discutindo no Senado o escândalo dos aloprados. Foto: André Coelho/ O Globo
Escândalo político acaba de ser revelado em Parintins. Um grupo, agindo à margem da lei, pretendia dominar nada menos que 80% dos votos do Município. Há todo tipo de crime. Prevaricação, com adiamento da prisão de assaltantes de bancos, que só ocorreria para convalidar a presença policial na Terra dos Bumbás. Milícia, com 28 policiais paraenses destinados a neutralizar lideranças do interior do Município. E até o planejamento da corrupção de policiais federais. Tudo para reverter o quadro político local e garantir vitória para a candidata Brenna Dianná, sobre Matheus Assayag.
Uma câmera, com escuta ambiental, estava localizada na sala da reunião para “acertar detalhes”. O vídeo vazou e o escândalo ganha proporções ainda não totalmente estimadas. O grupo, inteirinho, saiu de Parintins às pressas e, de passagem, eliminou vídeos das câmeras de vigilância do aeroporto.
A eleição para a sucessão na Prefeitura, com prefeito já reeleito e sem poder concorrer, é bem clara: Matheus Assayag, candidato de Bi Garcia, e Brenna Dianná, candidata do governador Wilson Lima, estão próximos do empate na sede municipal. No interior, onde o prefeito trabalha desde que foi vereador pela primeira vez, em 1992, e está prestes a completar 16 anos como prefeito, Matheus lidera com folga.
A vazante, poderoso adversário para Matheus, porque podia até impedir a chegada de urnas aos seus redutos eleitorais, foi superada. Bi Garcia construiu pequenas estradas de terra, ligando comunidades que ficavam historicamente isoladas a outras, com rios perenes, eliminando o problema.
Restava o recurso extremo, a ação dos aloprados e a fissura na Democracia.
O quadro remete a São Paulo, 2006: um grupo de petistas conhecidos foi preso em um hotel, na capital paulista, às vésperas da eleição para governador. Comprava, em espécie e em dólar, um dossiê (falso) contra o candidato José Serra. O presidente Lula, em quem o escândalo chegou, reagiu prontamente: “São uns aloprados”. E assim o episódio ficava nacionalmente conhecimento como “O escândalo dos aloprados”. Serra se tornou governador, com 57,93%, contra 31,68% do petista Aloizio Mercadante.
Lula, aliás, não teve dúvida, durante o Escândalo do Mensalinho, no Congresso Nacional. Demitiu, nada mais nada menos, que o “primeiro-ministro” da época, o chefe da Casa Civil da Presidência da República, José Dirceu.
Há uma fissura na Democracia, evidente, no episódio de Parintins. O poder, entregue a aloprados, ignora leis e se transforma em ditadura, a imposição da vontade de poucos sobre todos. Escutas ilegais, milícia, compra de agentes públicos, o poder da força… nada disso tem tolerância, mínima que seja, no sistema legal brasileiro. Aguarda-se os próximos eventos. Não tem como a Justiça Eleitoral transformar num traque, a explosão de uma bomba atômica como essa.
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