
Celby Rodrigues (centro), com Vera Brossman (esquerda) e Solange do Valle, a caminho de Parintins
Parintins recebe, a partir desta segunda (15/04), o carioca Ceuby Rodrigues. A Câmara Municipal lhe entregará, entre outras homenagens, o título de Cidadão Parintinense. Trata-se de um reconhecimento merecido e um momento que mexe com a memória de toda uma geração.
Lá se vão quase 50 anos, desde que Ceuby pisou em solo da Ilha Tupinambarana pela primeira vez. Chegava a bordo do Projeto Rondon, que estabeleceu em Parintins um Campus Avançado da UERJ, num prédio que fica bem pertinho do Bumbódromo.
Carioca, campeão panamericano dos 110 metros com barreiras, Ceuby era o coordenador de esportes da UERJ. Tinha entre os alunos atletas que integravam seleção brasileira em diversas modalidades. O Projeto Rondon oferecia algumas compensações escolares, mas, sobretudo, estava baseado no voluntariado. Ele convenceu grandes atletas a trocarem as praias cariocas pela Ilha, quente e úmida, às margens do rio Amazonas.
Havia uma conjunção positiva pelo esporte. O prefeito de Parintins era Benedito Azedo, de saudosa memória, que não mediu esforços em estruturar o esporte na cidade. Roberto Gesta de Melo, hoje membro do Comitê Olímpico Internacional (COI) e dirigente reconhecido mundialmente, respondia pela Superintendência de Desportos do Amazonas (Sudam).
Ceuby, com seus alunos, formou monitores em Educação Física e replicou a prática esportiva aos milhares na pequena cidade. Gesta mandou para lá, em seguida, os grandes treinadores do Estado, Geraldo Teixeira, no atletismo, Thales Verçosa, no voleibol, Almir Liberato e Valmir no handebol. Eles viram a semente plantada e regaram ainda mais a geração vitoriosa criada por Ceuby.
Há muitos episódios que reavivarão a memória de quem viveu aquela época. Nilba Reis Fernandes era atleta de handebol. Ceuby pediu que fosse ao treino de atletismo e fizesse um arremesso “como quisesse”, isto é, sem as técnicas específicas da modalidade. Ela quebrou distâncias, ele o mudou de esporte e deu o pontapé inicial para torná-la recordista sulamericana do arremesso de peso por décadas.
O time de vôlei de Parintins, treinado por Elias Moura, formada nas hostes de Ceuby, ganhou a medalha de bronze nos Jogos Estudantis do Amazonas (JEAs), numa Manaus que frequentava corriqueiramente a Seleção Brasileira Juvenil. Era o tempo, basta lembrar, de Paulo Avelino e dos irmãos Álvaro e Edvard. Paulinho, como era conhecido, só não esteve na Seleção Brasileira medalha de prata olímpica porque não quis. Álvaro, um talento equivalente ao do grande William, idem.
O próprio Elias Moura, aliás, foi escolhido por Thales Verçosa como auxiliar técnico, numa seleção amazonense juvenil que estava entre as quatro melhores do Brasil. Dois atletas, este Marcos Santos que voz escreve e Claudionilson Cid, o Clau, integraram essa seleção vencedora.
Foi o tempo de uma chuva de parintinenses nas seleções do Amazonas das diversas modalidades.
A motivação era tanta que até os meninos, sem idade para competir em seleções juvenis, se empolgavam com o clima. Um deles, vizinho do Urubuzal (local onde se praticava as diversas modalidades), chamado Bi Garcia, hoje é prefeito de Parintins e fã de carteirinha de Ceuby.
Ceuby Rodrigues leva consigo, nesta volta a Parintins, quase 50 anos depois, Vera Brossman e Solange do Valle. Vera era especialista em handebol. Solange, uma campeã sulamericana do atletismo.
O envolvimento desse pessoal com a cidade se tornou tão grande que Vera, tocando violão afinadinho, criou uma marchinha para a Seleção de Parintins, que disputou os JEAs: “Ô quem vem lá/ torcida amiga/ ô abre alas Parintins já vai passar/ vermelho e branco é cor de guerra/ É Parintins que estremece a terra”. O ginásio Renê Monteiro estrondava com a colônia parintinense, em peso, apoiando o time de voleibol, ao som da musiquinha.
Ceuby, coração parintinense, recebe o que sempre lhe pertenceu. Nesses quase 50 anos, jamais deixou de ter algum contato com a terrinha e cultivou os amigos que lá deixou. Cada atleta e cada “monitor em Educação Física”, devidamente diplomado pela UERJ, tem no coração um pedacinho reservado para esse tempo e essa gente, que ele comandava com pulso firme.
Dizer obrigado é pouco. Mas é o que resta para quem, distante, se curva agradecido ao grande mestre do esporte.
Bem-vindo, Ceuby Rodrigues, Cidadão de Parintins.
Você fez um histórico esplêndido sobre a história do esporte em Parintins, as pessoas citadas merecidamente, parabéns por ter uma memória maravilhosa!!!