Episódio da capivara Filó e as lições à comunicação e à política

Episódio da capivara Filó

Episódio da capivara Filó continua rendendo. Hora de avaliar as lições

O episódio envolvendo o titoker Agenor Tupinambá, o Ibama e a capivara Filó traz uma enxurrada de lições. Na comunicação, um lado atirando com canhão e um órgão, que representa a Nação, se defendendo com estilingue. O jornalismo “online” levando “barrigadas” dos fatos. A política, teoricamente defensora da Democracia, impondo a força do “mass media” a um adversário inerte, sem disfarçar a ânsia de faturar.

O fantasma do jornalista é a barrigada, isto é, o fato noticiado que não corresponde à verdade. Exemplo, as inúmeras “mortes” do cantor Roberto Carlos, que continua vivinho da silva. É diferente da fake news, ou notícia falsa, quando o veículo inventa um fato com o objetivo de prejudicar instituição ou pessoa.

A barrigada prejudica a imagem do veículo. O online, jornalismo em cima dos fatos, não tem tempo entre captação e impressão, como o jornal tradicional. Este portal opta por acompanhar a linha dos fatos, como ocorreu no caso da capivara Filó, este sábado (29/04).

 

Episódio da capivara, a linha dos fatos

Sábado é um dia no qual os veículos “baixam a guarda”, diminuindo equipes, dando folgas. Mesmo assim, a equipe deste portal, com a valentia de sempre, acompanhou os fatos em cima do lance. O noticiário foi amplo. Veja, clicando nos parágrafos, que são links:

A vaquinha virtual do titoker, para pagar a multa de R$ 17 mil, passou dos R$ 70 mil.

Deputada estadual Joana D’Arc (candidata ao Oscar?), aos prantos, denuncia que Ibama impede visitas a Filó. 

Depois ela invade a sede do Ibama-AM.

O marido da deputada toma o microfone do vereador Rodrigo Guedes e anuncia que Filó será libertada. Mas, instantes depois, a versão que circula é que foram permitidas apenas visitas.

Chega a decisão da Justiça Federal, juíza Rafaella Cássia de Souza, que responde pela 7ª Vara Federal Ambiental e Agrária da Seção Judiciária Federal do Amazonas (SJAM). Não tem nada de devolução, nem visita. Apenas a espera de manifestação do Ibama-AM. Ela é a juíza preventa, aquela que vai julgar a causa, em definitivo, nessa primeira instância.

Deputada diz que encontrou vacinas e outros medicamentos vencidos no Ibama.

Sai a decisão, do plantão judicial federal, juiz Márcio André Lopes Cavalcante, ordenando que o Ibama devolva Filó ao tiktoker.

Filó é devolvida a Agenor pelo Ibama.

Ibama diz que capivara terá que ser devolvida em unidade de conservação.

Como se vê, o portal seguiu a timeline do dia, com notícias que se contradizem, atropeladas pelos fatos. É um belo exemplo de como as coisas acontecem e do caráter volátil da informação em nossos tempos.

 

Canhão contra estilingue

Agenor segue 157 pessoas, é seguido por 1,8 milhão e atingiu 36,2 milhões de curtidas, isto é, pessoas que viram e aprovaram seus reels (vídeos curtos) no TikTok.

O Ibama, que se envolveu na polêmica, como órgão ambiental brasileiro, responde através de uma assessoria central, burocrática, que fica em Brasília. Manda “Nota Oficial”, horas, dias, depois dos acontecimentos e por e-mail, um instrumento já considerado anacrônico pela mídia atual.

Sem qualquer crítica aos jornalistas envolvidos, uma vez que essa é a estrutura de que o órgão dispõe, fica o repúdio aos dirigentes. Atrasados! Quem não cuida da comunicação, nos tempos modernos, não pode ter queixa das consequências. E estas podem se transformar em prevaricação, uma vez que a síntese, dessa derrota iminente, pode ser o incentivo ao uso de animais silvestres como pets.

O Ibama tem orçamento, recursos, para se defender melhor. Mas está sucateado, sem pessoal, sem rumo. Isso, noves fora o embate político bolsominions X lulaminions, com vontade política, poderia ter soluções melhores, nesses quatro meses do Governo Lula. Atirou com estilingue para se defender do canhão de comunicação voltado contra a instituição.

 

Política de seguidores

Há políticos, com honrosas exceções, para os quais seguidores são mais importantes que eleitores. No Amazonas ainda mais, depois que Amom Mandel enveredou pelas redes sociais e se tornou fenômeno, recordista de votos para deputado federal. Ignoram que ele tinha ação, na vida real, estruturada. Obrigou o Ministério da Educação a reeditar o Enem, na pandemia, e brigou contra o famigerado “cotão”, um pacote de dinheiro para privilégios, da Câmara Municipal.

Joana D’Arc, para se reeleger, fez a segunda campanha mais cara de deputado estadual. Só ficou atrás do atual e futuro presidente da Assembleia Legislativa, Roberto Cidade. O resgate de um pet aqui, outro ali, aparentemente, não produz mais o mesmo resultado. O episódio da capivara Filó caiu como uma luva para ela.

Joana chorou, esperneou, acampou, dizem que invadiu o Ibama. Lá de dentro não parou de postar, nas redes sociais, enquanto o marido tomava conta do serviço de som instalado do lado de fora.

A deputada deixou margem para que se perguntasse: por que essa infra toda nunca foi usada para defender pacientes, no sistema de saúde? Ou mesmo os moradores da BR-319, entre os quais o próprio Agenor Tupinambá (que se serve dela para chegar a Autazes), vivendo no meio de buracos e lama, com duas pontes caídas?

Indignação seletiva é um tipo de cinismo que merece repúdio. Não é que quem não fez, não pode fazer nada mais, nunca. É que demagogia é execrável.

A pequena Filó, sobrevivente de uma capivara, capturada e morta, traz muitas lições para todos. Uma delas, a do juiz Márcio André, na decisão liminar:

“…toda essa controvérsia envolvendo a apreensão do animal que, supostamente, estaria sendo criado pelo autor como pet, é fruto de um profundo desconhecimento da realidade do interior do Amazonas e de um choque cultural…”

Choque cultural? A Pan-Amazônia tem 38 milhões de habitantes. A Amazônia brasileira 28,1 milhões. Agenor tem, portanto, mais admiradores (likes) que os moradores da Região no Brasil.

O País insiste em desconhecer a Amazônia e suas peculiaridades. Quem nasceu e viveu no interior teve em casa um animal de estimação retirado da vida selvagem, arara, periquito, papagaio, macaco, tartaruga, tracajá, paca (mais feroz que cachorro como guarda do dono).

Esses animais gostam de carinho – quem não gosta? O problema é que, hoje, transmitem doenças graves. Está aí o ebola para comprovar.

A legislação não entende o modo de vida do caboclo. Tem muito índio que é menos indígena que ele.

A tartaruga, uma iguaria regional, é um excelente exemplo. A “educação” ambiental ensinou que comê-la é atacar a natureza. Vieram as unidades de conservação, os criatórios e a espécime, preciosa fonte de proteína, voltou a ficar disponível, legal e, de certa forma, abundantemente. Agora, quando se acha alguém que saiba abatê-la e prepará-la, as crianças se recusam a comê-la.

O modo de vida amazônico, caboclo, não pode ser confundido com grelhação. Deixem Filó com o tiktoker. Esqueçam dele. Que fique proibido de divulgar vídeos ou sequer mencioná-la em rede sociais. Fiscalize-se. Em pouco tempo, tudo estará esquecido. O animal merece isso, no curto ciclo de vida que tem. Mexa-se mais nesse vespeiro, com a inabilidade atual, e o desastre só será aprofundado.

Filó, a caminho da gaiola levada por Agenor para recebê-la, mostrava-se visivelmente estressada. É uma sobrevivente. Da morte da mãe, do “guardador”, da Joana, do Ibama… Tadinha dela.

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