Clima de guerra: Com falta de oxigênio, AM tem interrupção no serviço e transfere pacientes para outros Estados

Clima de guerra

Clima de guerra nos hospitais e pronto-socorros, provocado por apagão de oxigênio, leva à transferência de pacientes para outros Estados

Com as altas taxas de infecção por Covid-19, fase roxa no Estado, a mais alta de todas, e recordes de sepultamentos em Manaus, nesta quinta-feira (14/01), a crise da falta de oxigênio deixou o sistema de saúde à beira do colapso. Há relatos e apelos de médicos, enfermeiros e do presidente do Sindicato dos Médicos no Amazonas (Simeam), Mario Viana. O Governo do Estado encontrou ajuda em cinco Estados, em face da pandemia, que estão recebendo e acolhendo pacientes enviados pelo Amazonas. A máxima de décadas, segundo a qual o melhor hospital do Estado é o avião, mudou para “o avião agora é o único hospital”.

Algumas unidades de atendimento ficaram sem oxigênio hoje, como o SPA da Redenção. Estão críticas as reservas no Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV), Hospital de Medicina Tropical, Hospital e Pronto-Socorro Delphina Aziz. Na Zona Sul, o produto duraria apenas mais algumas horas. No Getúlio Vargas, os bombeiros estão dando suporte ao atendimento.

 

Clima de guerra

O governador Wilson Lima e demais representantes do Comitê de Resposta Rápida – Enfrentamento Covid-19, composto pelos Governos do Estado, Federal e Municipal, fizeram pronunciamento sobre ações frente ao recrudescimento da pandemia do novo coronavírus no Amazonas.

Wilson Lima deu esclarecimentos sobre os fatos das últimas horas em Manaus e disse que está no momento mais crítico da pandemia. Disse é que uma situação sem precedentes, para conseguir insumos, e a principal dificuldade tem sido a aquisição de oxigênio. “Estamos fazem um esforço para complementar o fornecimento, com apoio do Ministério da Saúde, da Força Aérea Brasileira (FAB) e parte desta equipe continua no Amazonas. Esforço e dificuldade que enfrentamos neste momento para fazer com que o oxigênio chegue a essas unidades hospitalares”, disse o governador.

Conforme o secretário de Estado da Saúde (SES-AM), Marcellus Campêlo, as autoridades foram comunicadas, ontem (11/01), à noite, de um colapso no plano logístico montado, dentro da contingência de oxigênio, o que causará interrupção no fornecimento de algumas horas no Estado.

 

Transporte de pacientes

O Plano de Contingência está na quinta fase e na quinta-feira passada receberam relatos da principal empresa sobre entrega de insumos e alta demanda. “Pedimos ajuda ao Ministério da Saúde e não mediram esforços para apoiar na logística, junto com as Forças Armadas e todo um conjunto, dando apoio à entrega de oxigênio na rede estadual. Tivemos um pico de fornecimento e de aumento da demanda acima do esperado, mesmo trabalhando com margem de segurança. A demanda surpreendeu um dos maiores conglomerados de gás medicinal do mundo, que está tendo dificuldade”, disse Campêlo.

A White Martins, essa “maior empresa” de que fala o secretário, disponibilizou carretas para transporte, em busca de atender a necessidade. Mas vai levar de três a quatro dias para a chegada. O transporte mais ágil é via aérea, feito pela FAB, e o produto está vindo de São Paulo, Belém e Fortaleza. O consumo diário de Manaus é de 76 mil metros cúbicos e a produção das empresas não passa de R$ 28 mil metros cúbicos.

“Cinco Estados, incluindo Goiás, estão participando do plano de cooperação, para transportar pacientes de Manaus, que estão na fase moderada, que ainda dependem de oxigênio, mas estão estáveis para fazer a viagem com assistência médica a bordo para as cidades envolvidas. Eles estão sendo acolhidos com segurança e apoio psicossocial em redes de saúde”, falou o coronel Franco Duarte, secretário de Atenção Especializada à Saúde do Ministério da Saúde.

 

Cenário de guerra

A White Martins sempre trabalhou, em Manaus, com 50% da produção, conforme explicou, ontem (11/01), o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. Tem capacidade para produzir 25 mil metros cúbicos de oxigênio gasoso por dia. Produzia 15 mil. Hoje, o consumo hospitalar em Manaus é de 70 mil/dia. Duas outras empresas menores produzem mais 3 mil, num total de 28 mil metros cúbicos dia. “Isso sem contar a demanda dos novos leitos que irão abrir”, disse Pazuello. A conta não fecha.

“Toda a fabricação no Brasil está impactada. Estamos fazendo uma ponte-aérea com aviões da FAB e aviões civis contratados. Cada Hércules C-130 traz 6 mil metros cúbicos por viagem. Avião cargueiro civil traz 3 mil metros cúbicos. Uma ponte-fluvial responde por um terço da demanda. “Precisamos de ponte terrestre, com carreta, pela BR-319”, disse Pazuello. Fica patenteado, mais uma vez, o prejuízo a falta que faz o asfaltamento na rodovia federal que liga o Amazonas ao resto do País.

Serão compradas dez usinas geradoras de oxigênio, com recursos do Governo do Estado. O Ministério vai transportar e instalar tudo em quatro dias. Cada usina produz 5 mil metros cúbicos cada. “Isso resolve o problema de Manaus”, garantiu.

 

Relatos

O presidente do Sindicato dos Médicos do Amazonas, Mario Viana, divulgou vídeo nesta manhã de quinta-feira (14), onde pede uma ação imediata das autoridades para que seja feito de forma emergencial o abastecimento de oxigênio nos hospitais de Manaus. Em áudio, ele informa que hoje, de meia-noite até 8h15, morreram 19 pacientes no Hospital e Pronto Socorro 28 de Agosto.

Vários áudios e vídeos têm circulado, com as informações de falta de oxigênio. “Pacientes que necessitam de oxigênio estão sendo ambuzados, mantidos pelo esforço dos profissionais médicos e técnicos”, disse Viana. Ambu é o nome da empresa que desenvolveu o respirador manual e a sigla em inglês para “Artificial Manual Breathing Unit” (Unidade Manual de Respiração Artificial).

“Situação terrível que temíamos e denunciamos que poderia chegar. Faço um apelo a todas as autoridades e profissionais de saúde para que se unam de forma emergencial para encontrar solução para o problema. Transportar oxigênio de outros Estados, em caráter de guerra, é uma necessidade para se salvar vidas. Que Deus nos ajude”, disse Mario Viana.

“Hoje é para entrar para a história. É para ficar marcado. As pessoas estão morrendo sem oxigênio”, disse uma médica em um dos áudios. O dispositivo máscara-balão (Ambu®) é acoplado à face do paciente e o balão apertado manualmente (“ambuzado”). É um ventilador com bolsa.

“Faço um apelo diretamente ao presidente da República, Jair Bolsonaro, de decretar intervenção na saúde no Estado. É um cenário de guerra e o caos está instalado. Apesar dos esforços do Pazuello, a situação é crítica. É preciso ter um comando unificado, comitê de crise instalado em vários setores para dar solução a esta situação de guerra que vivemos”, disse o presidente do Simeam.

Ouça os áudios e veja os vídeos:

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