
Israelitas comemoram aniversário no Amazonas e Benjamin, presidente do CiAM, abraça o pai, Saul Benchimol, professor celebrado do curso de Economia da Ufam
Participamos, logo existimos. O Comitê Israelita do Amazonas (CIAM) prepara grande festa para comemorar os 90 anos de fundação. Trata-se de grupo expressivo de comerciantes, professores, empreendedores estabelecidos no Estado. “Temos 200 anos de imigração na Amazônia. Os primeiros judeus, vindos do Marrocos, foram para Belém, depois para o interior do Amazonas e então vieram para Manaus. Em 1929 foi fundada essa organização, o CIAM, para representar os judeus no Amazonas”, explica o empresário Benjamin Benchimol, 46. Ele é o atual presidente do CIAM.
O CIAM tem cerca de 800 membros. Pequeno? Então vamos aos sobrenomes: Benchimol, Assayag, Benzecri, Benoliel, Benzion… “Não me peça para falar os sobrenomes porque vou esquecer algum e vão me cobrar” (risos), diz Benjamin. “Há muitos amazonenses com sobrenomes judeus, que não são da comunidade. Eles vieram de cidades como Parintins e Itacoatiara. Somos parte da história do Amazonas e até hoje lutamos para contribuir”, diz.
Os irmãos Samuel e Saul Benchimol fundaram o Grupo Bemol, com as lojas Bemol e a Fogás. Ambos foram professores renomados do curso de Economia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Benjamin é filho de Saul e sobrinho de Samuel.
História
Havia uma sinagoga na avenida Sete de Setembro, bem anterior aos 90 anos do CIAM. “Os 90 anos da fundação são um marco importante. Nós somos mais antigos que o Estado moderno de Israel. Fazemos parte de uma organização com história”, lembra Benjamin.
O empresário afirma que, em geral, os judeus têm vivido em paz, em convívio harmônico, no Amazonas. Isso se dá com cristãos católicos e protestantes, muçulmanos e membros de outras religiões. “Sempre aconteceram episódios pontuais de antisemitismo, como ocorre em todo o mundo. Não é diferente. Sempre haverá alguém que odeia judeu por ser judeu. Mas no geral temos convivência harmônica e a história judaica continua no Amazonas. Com sorte será assim por muito tempo ainda”, enfatiza.
Nazismo no La Salle
Judeus amazonenses foram surpreendidos com recente episódio em que alunos do Colégio La Salle postaram foto com a saudação nazista. O colégio, logo em seguida, publicou retratação. O CIAM, porém, não ficou satisfeito. “A gente vê o episódio com muita tristeza. São jovens, alunos, estudantes. Fazer bobagem é natural do jovem. Mas eram jovens que representavam a Alemanha, com uma professora do primeiro ano. Nem os alemães gostariam de ser associados com o nazismo. Foi um período negro da história alemã. O povo alemão não é só o período nazista e a gente queria esclarecer isso”, diz Benjamin.
O CIAM pediu ao La Salle que abrisse espaço para integrantes da comunidade explicarem aos alunos o que foi o nazismo e o holocausto. “A gente queria que eles pudessem entender quanto o período nazista foi duro para os judeus. Talvez isso ajude a melhorar a sensibilidade dos alunos quanto a esse fato. Recebemos uma resposta do La Salle, ontem (17/05), que não contemplou nosso pedido para explicar a história. A gente queria trazer luz e sensibilidade aos alunos. Só isso”, diz o presidente do comitê.
O La Salle, laconicamente, respondeu que “já tomou medidas cabíveis e não coaduna com nenhuma posição discriminatória”. “Foi uma resposta que não atendeu ao nosso pleito. Queríamos um tempo do professor de História para falar sobre o holocausto, nas turmas de 1º ano. A gente queria falar dos mortos. Foram 6 milhões de judeus, milhões de negros, deficientes… Pessoas mortas pela cor da pele, religião ou raça. Tudo por causa dessa ideologia. A gente queria mostrar os horrores do holocausto, para trazer sensibilidade e conhecimento para esses e outros alunos. A função educativa é sempre importante. Infelizmente, o colégio não abriu espaço para trazer um pouco mais de informação sobre esse período”, diz o dirigente.
Comunidade
Os judeus estão espalhados pelo Brasil. Se são apenas 800 associados no Amazonas, em São Paulo eles chegam a 70 mil.
A Assembleia Legislativa, recentemente, marcou a comemoração dos 71 anos do Estado de Israel. “Vamos fazer um evento na Hebraica-Manaus, específico, para comemorar os 90 anos do CIAM. Vamos convidar autoridades, no dia 19 de junho”, diz Benjamin.
Festas religiosas
Festas judaicas (yom tov, chag ou taanit), obrigatórias no Pentateuco, cinco primeiros livros da Bíblia, são comemoradas em Manaus. Rosh Hashanah (Ano Novo Judaico), Yom Kippur (Dia do Perdão), Sucot (Tabernáculos) e Pessach (Páscoa) são os principais. “A comunidade judaica está ativa, praticando e mantendo o espírito judaico vivo em Manaus e no Amazonas”, ressalta Benjamin. “Temos também muitos movimentos protestantes, que celebram festas judaicas”, lembra.
O judaísmo foi a primeira religião monoteísta. “O cristianismo é embasado no judaísmo. Quase tudo tem origem no judaísmo. Depois tivemos o islamismo, também tendo como base o judaísmo. O Antigo Testamento serve como base para outras religiões. Tem um pouco dos princípios do judaísmo nas religiões monoteístas, que fazem a maior parte da população mundial. Modernamente, as religiões foram criando suas doutrinas e tradições, festas, eventos, práticas, e se diferenciando. Mas, no fundo no fundo, alguns princípios permanecem entre todas elas. A gente ainda observa isso, modernamente. São princípios e valores comuns. Isso é muito importante”, diz Benjamin.
Triste é infeliz episódio para uma instituição de ensino.