Estado fará licitação para comprar 60 fuzis para polícias. Armamento vai ampliar poder de fogo contra tráfico de drogas

Com verba de emenda parlamentar o Estado fará licitação para comprar 60 fuzis calibre 556. Fotos: Divulgação

Com duas fronteiras abertas por onde entram armamento pesado para abastecer traficantes, o Amazonas se prepara para fazer sua primeira licitação para compra de fuzis calibe 556.

Serão adquiridos 60 armas, no valor de R$ 514 mil, decorrente de recurso de emenda parlamentar do senador Omar Aziz (PSD), de 2017. O Governo do Estado, via Secretaria de Segurança Pública, aguarda liberação da verba pelo Tesouro Nacional.

Os fuzis serão usados pela Polícia Civil, que receberá 20 armas, e 40 pela Polícia Militar, especialmente para os grupamentos de operações especiais e de assalto e resgate.

Fronteiras

Amazonas e Manaus estão mais vulneráveis como porta de entrada para armas de grosso calibre pelas fronteiras da Colômbia e Venezuela. E as forças de segurança se preparam para apreender um maior volume de armamento como fuzis russos, americanos e até israelenses.

O armamento de poder destrutivo, segundo especialistas, não configura uma rota de tráfico de armas, mas está diretamente relacionada ao tráfico de drogas e às facções criminosas, que precisam mostrar força, poder e se defender.

Transporte e facções

Segundo consultores de segurança ouvidos pelo Portal Marcos Santos, apesar de não ter ocorrido uma prisão, por exemplo, na BR-174 (Manaus-Boa Vista), envolvendo armamento pesado, fuzis e armas de grosso calibre passam pela região e acabam podendo chegar a cidades como Rio de Janeiro e São Paulo.

Mas basicamente o destino do material é garantir segurança para o transporte de drogas e de traficantes e suas regiões, especialmente no combate entre facções criminosas. Das fronteiras, armas chegam a Rio Branco (AC) e de lá descem pelo rio Negro para Barcelos e Novo Airão.

Fuzis estão disponíveis em razão do não cumprimento de um acordo internacional firmado entre o governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), de desmobilização, desarmamento e reinserção no mercado de trabalho.

As armas, que deveriam ser devolvidas ao governo e para a ONU, são utilizadas para escolta da droga pelos dissidentes das Farc. E terminam por ser contrabandeadas na lei da oferta e procura.

Defesa de traficantes

“Essas armas começaram a surgir em cenários para defesa das organizações criminosas e no momento da divisão da Família do Norte. Traficantes passaram a adquirir armas de grosso calibre, usadas para o transporte da droga que vem da fronteira. E algumas acabam sendo adquiridas por traficantes rivais para disputa de territórios”, explica o diretor do Departamento de Repressão ao Crime Organizado (DRCO), delegado Guilherme Torres.

Quatro fuzis

Este ano, a Polícia Civil já retirou das ruas três fuzis que estavam com os chamados soldados do tráfico da FDN, que iriam atacar uma boca de fumo do Primeiro Comando da Capital (PCC), numa ação do Departamento de Investigação sobre Narcóticos (Denarc), em conjunto com servidores da Secretaria-Executiva-Adjunta de Inteligência (Seai).

As armas eram dois fuzis soviéticos, modelo AK-47, e um americano AR-15. A Polícia Militar ainda fez a apreensão de um outro AK-47 na semana passada, com dois suspeitos de tráfico.

Piratas

A presença dos piratas ao longo dos rios Solimões e Japurá, rotas do tráfico, também colabora para a entrada desse armamento no Estado, por se tratar de mercadoria valiosa e vulnerável, uma vez que colombianos fazem escolta de entorpecentes até certo ponto do rio, protegendo a carga.

O diretor do DRCO lembra que no Rio de Janeiro, por exemplo, desde 2015 tem ocorrido apreensões de muitos fuzis da Venezuela. “E são fuzis novos, modelo AK-47, de alto poder de destruição. A rota de entrada do armamento é a mesma do tráfico. E a crise na Venezuela e a abertura dessa fronteira são fatores que pesam no contrabando de armas para o Amazonas”.

A automática soviética é uma das mais vendidas no mercado negro, pelo preço, resistência e facilidade no uso. No Rio, a apreensão de fuzis venezuelanos tem batido recorde. A arma de guerra é cada vez mais usada para qualquer tipo de crime nas ruas cariocas.

Segundo a SSP, o armamento de grosso calibre, de uso restrito, ainda vem de desvios do próprio sistema de segurança e de empresas privadas, durante assaltos.

Sem paridade

Para o diretor do DRCO, o fuzil é arma de guerra e o Brasil é um país constitucionalmente conhecido como não beligerante.

Quanto à comparação do combate das forças de segurança, armadas com pistolas Taurus, por exemplo, contra fuzis, o delegado afirma que a polícia segue leis que acabam, no extremo, garantindo direitos de criminosos. “O crime acaba usando isso como escudo protetor, enquanto a polícia precisa “pisar em ovos” sob pena de responsabilização civil, criminal e administrativa”.

Bolívia

Pressão de armamento disponível para contrabando também vem de outro país, a Bolívia. Com a ampliação da Milícia Nacional Bolivariana para mais de meio milhão de integrantes e reforço de uma automática para cada miliciano, fuzis são produtos que acabam ficando disponíveis no mercado negro. É a lei da oferta e da procura.

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