O impeachment com Lindberg ‘Cara-Pintada’ contra e Collor a favor, Braga, Vanessa, Omar e Temer

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Temer chegou a ser nomeado principal articulador político de Dilma, mas acabou sendo desautorizado pela prática

A sessão do Senado Federal que admitiu o impeachment e, consequentemente, o afastamento da presidente Dilma Rousseff, foi um momento cheio de curiosidades. A primeira e mais gritante foi a militância barulhenta do senador Lindbergh Farias (PT-RJ) e a discreta manifestação do também impedido ex-presidente e atual senador Fernando Collor de Mello (PTC-AL). Lindbergh apareceu para o País, em 1992, como o cara-pintada mor, à frente das virulentas manifestações que levaram o então presidente Collor à renúncia.

Agora, com o feitiço virando contra o feiticeiro, o ex-cara-pintada bradou, repetidas vezes: “Impeachment sem crime é golpe”. Collor, com a única evidência de que havia presenteado um Fiat Elba à secretária e inocentado pela Justiça a seguir, foi apeado da Presidência da República.

Em seu discurso, para um plenário atento e silencioso, Collor disse que “chegamos ao ápice de todas as crises, às ruínas de um governo, às ruínas de um País”. E votou a favor da saída de Dilma. Ele leu trechos do livro que Marco Antônio Vila vai lançar sobre a vida dele.

Lindbergh e Collor estiveram, até então, no mesmo barco de defesa do Governo Dilma.

E os nossos senadores?

O senador Eduardo Braga (PMDB-AM) calculou mal a visibilidade que seu pedido de licença de saúde teria. Apenas ele e Jader Barbalho (PMDB-PA) lançaram mão desse artifício para não votar a admissibilidade do impeachment. Ambos foram cirúrgicos, ao pedir apenas 30 dias de afastamento, quando o regimento interno do Senado só admite posse de suplente com períodos superiores a 120 dias. A senadora Rose de Freitas (PMDB-ES), que sofreu um AVC dias antes da sessão, compareceu à Casa, mas fez um voto em separado, por escrito, e não foi contada entre os 78 dos 81 senadores presentes. Ninguém se absteve. Nenhum voto em branco foi registrado. O único que não votou, por força regimental, foi o presidente Renan Calheiros.

Braga quis escapar do fogo cruzado da patrulha de seu partido, Michel Temer à frente, e do dever de lealdade com Lula e Dilma. Pegou mal. Ficou fora do novo ministério anunciado nesta quinta (12/05).

Omar Aziz (PSD-AM) aproveitou o discurso para elogiar Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), por defender Dilma com unhas e dentes, e dar uma estocada em Braga. “Não concordo com sua posição, mas a senhora teve coragem de vir aqui defendê-la. Não se acovardou”, disse.

Vanessa cumpriu seu papel. O PCdoB jamais teve votos para obter o que obteve dos governos Lula-Dilma. Ocupou o Ministério do Esporte e, usando-o como instrumento, a maioria das secretarias estaduais de Esporte. Tem hoje o Ministério da Defesa, o comando das Forças Armadas, com Aldo Rebêlo. O próprio Eron Bezerra, marido de Vanessa, demitido do Governo do Amazonas, com a vitória de José Melo sobre Braga, virou secretário nacional de Ciência e Tecnologia. É, hoje, o partido com o maior número de filiados no Amazonas. Como não defender uma boquinha, um bocão!, dessas?

Michel Temer, finalmente, chega à Presidência. Ainda é interino, mas sabe que depende dele – com uma boa pitada de atenção do TSE – e de uma gestão que traga esperança ao povo brasileiro, a efetivação no cargo.

Dilma, na saída, fez mais um discurso daqueles. Disse que “o sem voto (Temer) não terá condições de fazer frente às reformas necessárias para tirar a economia brasileira da crise”. E ela? Porque deixou o País mergulhar na crise? Nada a ver. Parece mais deslavada torcida pelo quanto pior melhor.

O “sem voto” Itamar Franco, que substituiu Collor após o impeachment, criou as condições para que seu ministro da Economia, Fernando Henrique, juntasse a equipe responsável pela implantação do Real – a cama na qual o PT deitou durante 13 anos.

O cenário, enfim, mudou. O protagonista, porém, é, no mínimo, temerário. O Amazonas não pode esquecer a dependência da Zona Franca e que os acordos de Temer são com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), inimiga histórica do modelo. A bela retórica do discurso de estreia, com frases completas – estava fazendo falta num discurso presidencial – não pode tirar, nem mesmo diminuir, o senso amazonense de vigilância.

A esperança tem que ser construída no dia-a-dia. Ou funcionará como um copo d’água servido a afogado.

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3 comentários

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  1. Augusto da Costa disse:

    Sobre o temor do conglomerado de empresas de SP (Fiesp), tendo como patrocinador o Skaf….Não resta dúvida que nós amazonenses seremos massacrados, assim como já estão sendo a cultura, as mulheres,negros e outras representatividades, nesse governo que se assemelha a época da ditadura.
    Para mim não tem nenhuma surpresa, tendo apoio de alas mais conservadora desta sociedade como bancada da bala, ruralistas e evangélicos (evangélico não é mesmo que protestante, é pior), poderia se esperar o quê? Agora é só aplaudir os investigados na Lava Jato (ministros) Gedel, Eduardo Alves e Jucá.

  2. Maria Mirtes Martins Cohen disse:

    Marcos, o nosso sistema de governo é presidencialista. Pelas regras constitucionais não se pode tirar do poder um governante pelo voto de desconfiança. Tu és golpista?

  3. Nati disse:

    Ninguém fala que Collor sambou na cara da Fiesp e dos poderosos. Bicho teve mais peito que a esquerda. Talvez fosse louco.

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