Comprar ou alugar um imóvel? tire duas dúvidas

Existem aspectos relevantes na hora de decidir sobre a compra ou locação de um imóvel que independem de situações transitórias – como mercados em alta ou baixa – e que ainda assim, raras são as vezes em que essa decisão é fundamentada em reflexões importantes como perfil de risco, objetivos de vida, momento do setor imobiliário, bem como o tradicional cálculo financeiro para saber se de fato essa decisão possui coerência econômica. O consultor financeiro André Salerno dá as dicas:

Perfil de risco

Decisões que envolvam representativos montantes – a exemplo da aquisição de um imóvel – deve ser avaliada levando-se em conta seus riscos. Muito embora a aquisição de imóveis represente uma decisão de baixo risco (excluída aqui a hipótese de compra de imóveis na planta), deve-se considerar não somente os riscos que envolvem essa operação, mas também um importante risco que poucas vezes é considerado. Chama-se Imobilização de um importante capital.

Tome como exemplo um possível comprador de um imóvel por volta dos 30 anos, que possui a totalidade dos recursos para a compra de um apartamento no valor de R$ 300 mil. Caso essa pessoa decida comprar esse imóvel, ela estaria imobilizando esse recurso e tiraria qualquer possibilidade de que esse dinheiro fosse utilizado para “trabalhar” a seu favor. Isso se daria através do recebimento mensal de rendimentos de aplicações financeiras ou ainda em projetos profissionais que poderia trazer novas oportunidades rentáveis (empreendedorismo).

Objetivos de vida

Em muitos casos essa decisão é tomada por uma vida toda. Um casal recém-casado que pretende comprar um imóvel deve considerar, por exemplo, quantos filhos pretende ter, se essa aquisição será feita de forma a acompanhar o crescimento da família, ou ainda questões profissionais que podem envolver uma mudança de cidade, estado ou até mesmo de continente.

 Momento do setor imobiliário

O ritmo do setor imobiliário nas grandes capitais brasileiras tem apresentado uma maior estabilidade de preços ou queda em alguns casos. Conforme pesquisa do Secovi-SP (Sindicato da Habilitação de São Paulo), o volume acumulado de vendas em 2014 sofreu um recuo de 40%.

Em momentos em que a curva de preços pode ter iniciado uma inversão (apontando para baixo), lembre-se de que você pode estar financiando o seu imóvel com um valor de mercado “no topo” e pagando juros nada modestos por essa decisão. Se por algum motivo você precisar vendê-lo em um futuro não muito distante, você poderá receber um valor inferior àquele do início da sua compra.

Tradicional cálculo financeiro

Aquela mesma pessoa logo acima com dinheiro em caixa na ordem de R$ 300 mil deve refletir se a aquisição representa o melhor resultado financeiro. Por exemplo: em média, o valor de um aluguel representa cerca de 0,4% do valor do imóvel, o que daria algo em torno de R$ 1,2 mil. Caso essa pessoa opte por alugar o imóvel e aplicar esses mesmos R$ 300 mil a uma taxa de mercado (em torno de 0,7%) teria um rendimento mês de R$ 2,1 mil. Com esses recursos ela pagaria o aluguel e ainda sobraria R$ 900.

Se fossemos tão somente considerar essa lógica econômica, nesse cenário atual em que vivemos, a dúvida entre comprar ou alugar estaria respondida: ALUGAR. No entanto, sabemos que decisões dessa magnitude envolvem fortes fatores emocionais que devem ser considerados (por exemplo, necessidade de financiamento como uma forma de disciplina para poupar).

Antecipar custa, retardar rende

Se você não tem o montante total para a compra de um imóvel, ou qualquer outro item, e quer usufruir de seus benefícios hoje, essa antecipação custará para você. Por outro lado, se você tomar a decisão de postergar essa compra – e consequentemente dos benefícios que seriam trazidos para o presente – e depositar regularmente os recursos que lhe cabem para, no futuro, poder comprar determinado produto/serviço, essa postergação renderá.

Essas trocas intertemporais que usualmente fazemos, carregam custos. Nos processos decisórios que as pessoas tomam, é de extrema importância que se saiba avaliar os benefícios e os custos que incorrerão com as possíveis antecipações, e isso deve ser feito no exemplo da compra de um imóvel ou qualquer outra aquisição. O uso dos produtos financeiros, como empréstimos, visam antecipar o atendimento de nossos desejos (benefícios), mas cobram alto por isso (custos). Aqui se configura o famoso “usufruir agora, pagar depois”.

Não se pretende aqui colocar um ponto final nessa questão que envolve comprar ou alugar um imóvel, mas ampliarmos essa reflexão, já que, além dos possíveis aspectos comportamentais que se possa considerar (por exemplo, efeito estabilidade trazido pela casa própria), deve-se ao menos repensar nossos atos e a forma como decidimos. Essa postura trará uma educação financeira mais consistente e frutos mais saudáveis poderão ser colhidos.

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1 comentário

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  1. Bem interessante artigo.