Quarta-feira de cinzas em julho

Hoje, 09 de julho de 2014, é uma quarta-feira de cinzas. Ontem, terça-feira, a Seleção Brasileira de futebol levou uma goleada que não tinha o direito de levar. Numa semifinal de Copa do Mundo, em casa, uma escalação errada, um posicionamento errado, um descontrole num momento inapropriado e lá se foi à alegria de milhões de torcedores fanáticos por futebol. Torcedores que, pela manipulação dos veículos de comunicação, acreditam que temos o melhor futebol do mundo, torcedores que muitas vezes têm no futebol sua maior, senão única, fonte de alegria. Torcedores que colocam no futebol toda a sua perspectiva de felicidade. Torcedores que dão ao futebol uma dimensão maior do ele merece.

Quem olha para o futebol com um mínimo de distanciamento emocional sabe que no Brasil ele presta um desserviço à nação. Muitas crianças veem no futebol a única oportunidade de sair da condição de miséria em que vivem, e alguns conseguem, mas quando a carreira termina, muitos voltam a condição anterior, e a causa é sempre a mesma: falta de formação escolar. Enquanto na maioria dos países o esporte começa na escola, no Brasil a criança tem que fazer uma escolha cruel entre a escola e o esporte.

O futebol é uma atividade empresarial, um negócio que movimenta muito dinheiro, mas no Brasil é o Estado que tem que construir estádios de futebol para a iniciativa privada ganhar dinheiro.

Existem muitos interesses escusos por trás disso. O governo não deve investir o dinheiro que rouba do cidadão, na forma de impostos, para beneficiar empresários. Mas os beneficiários dessa “jogada” usam os veículos de comunicação para legitimar suas manobras e convencer a população do contrário. Que pena para nós.

Os clubes são os maiores devedores de impostos, mas conseguem benefícios inalcançáveis para o cidadão comum. E a massa, anestesiada acha tudo muito normal. Os dirigentes do futebol no Brasil são os mesmos de 20, 30 anos atrás, e a maioria deles não sabe nada de futebol e nem tem interesse em saber. Os clubes afundam e eles ficam cada vez mais ricos. Querem continuar comandando clubes e federações para continuar desfrutando das facilidades que isso lhes trás. E a população e as autoridades nem se tocam para esse estado de coisas.

Num momento de tristeza nacional como esse, a tendência é malhar os atletas como se malhava Judas na Semana Santa. Mas isso também está errado. O futebol tem uma dimensão exagerada no Brasil, por isso uma derrota como a de ontem fica tão dolorida. Ao futebol deve ser dada a devida importância, é apenas um jogo que quando termina, independente do resultado, a vida segue. No dia seguinte, temos que trabalhar estudar e dar sequencia a nossas vidas. Nada como um dia após o outro, e, no caso do futebol, nada como um jogo após o outro.

Como disse Vinícius de Moraes em sua Marcha da Quarta-Feira de Cinzas:

“Acabou o nosso carnaval (…)

E no entanto é preciso cantar,

mais que nunca é preciso cantar,

É preciso cantar e alegrar a cidade”.

 

Éverton Moura Arruda

Manaus AM

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