Uma reflexão sobre Josildos Oliveiras

Josildo Oliveira, presidente dos cerca de 8 mil motoristas e cobradores responsáveis pela operação do sistema de transporte coletivo em Manaus, respondeu a mim e ao Ronaldo (veja nos posts anteriores). Revela em seus textos uma alma simplória. E conduz a mais reflexão sobre o tema da greve dos rodoviários.

Quero advertir, desde logo, que não confundo aletramento com sofisticação mental ou inteligência. Lula, formado no sindicalismo da década de 1980, com Fábio Konder Comparato, Florestan Fernandes, Francisco Weffort, Plínio Arruda Sampaio e outros intelectuais, inclusive Fernando Henrique Cardoso, tornou-se Presidente da República antes que quase todos e saiu do Planalto melhor que FHC, em termos de popularidade.

Onde está o apoio que a sociedade manauara pode emprestar a um líder sindical – isso é incontestável – importante como Josildo? Onde está o trabalho de formação de quadros, das centrais sindicais, para evitar que os rodoviários caiam numa greve que os coloca em confronto com a sociedade?

Josildo, em sua formulação tacanha, afirma coisas como “se for o melhor para minha categoria, não hesito em ficar do lado patronal”. Não consegue ver que as famílias dessa gente, motoristas e cobradores, constituem o grosso da massa usuária do sistema de transporte coletivo em Manaus. Ou seja, ao “ficar do lado patronal”, ele pode até obter vitórias momentâneas, episódicas, mas não contribui em nada para resolver um dos mais graves problemas da cidade e deles – principalmente deles –, seus seguidores no sindicato.

Sabem qual a principal justificativa para a decisão de ir à greve? Com a palavra, Josildo: “O edital (da licitação do transporte coletivo) é tendencioso. Diz que só pode concorrer quem tiver garagem em Manaus. Então só vai ficar no sistema quem já está operando na cidade”.

Parece lógico, mas não é.

O argumento esquece a profusão de terrenos que ainda temos, nos arredores da cidade. Custaria alguém, interessado em concorrer na licitação, alugar ou mesmo comprar qualquer deles, colocar lá meia dúzia de ônibus e adquirir essa habilitação? Poderia argumentar que depois viria o restante da frota. Ao sindicalista despreparado, a exigência é obstáculo intransponível. É brincadeira de criança, no entanto, para o empresário ágil.

Digamos, ainda assim, que outro item qualquer do edital seja uma pegadinha para retirar do sistema as três empresas que o próprio Josildo cita como deficitárias e incapazes de cumprir as exigências. Que mal há nisso? São elas que deixam (a Eucatur é um exemplo) 80 ônibus no prego pelas ruas de Manaus (número da SMTU, não contestado pelas empresas), todos os dias, causando os engarrafamentos que tantos transtornos trazem a todo mundo. Já vão tarde.

Vejam o nó que foi dado na cabeça do Josildo: ele diz que a licitação é para manter apenas as empresas atuais no sistema, mas, ao mesmo tempo, fundamenta a greve no risco de as empresas saírem e desempregarem seus filiados. Elas vão, afinal, ficar ou sair?

Pois foi essa mente que comandou a queima de ônibus para impedir que o empresário Baltazar, da Vitória-Régia, campeão absoluto de greves, panes e paralisações, fosse retirado do sistema. Isso foi ainda na administração Serafim Corrêa. Agora, com Amazonino, ele fez greve para aumentar o preço da tarifa.

O líder sindical poderia, aí sim, com apoio de todos, atacar a voracidade capitalista que não depositou o FGTS, nem a parte patronal do INSS ou menos ainda destinou parte do lucro às (previsíveis) indenizações. Denuncie, ao mesmo tempo, a vida que levam os sócios dessas empresas. Mostre as casas, os carros, os barcos, as escolas dos filhos e veja se são coisas de empresário falido.

Há muitos caminhos, como se vê, nessa questão do transporte coletivo.

Chegam-me às mãos, por exemplo, os dados relativos ao transporte coletivo em Curitiba, que tem 1.746.896 habitantes, segundo o IBGE, contra 1.802.525 de Manaus. Enquanto na capital paranaense circularam de ônibus, em 2010, 37 milhões de usuários, em nossa cidade foram apenas 17 milhões. Mesmo levando em conta a diferença populacional das Regiões Metropolitanas, a disparidade é muito grande. Puro reflexo da falta de confiança da população no sistema.

É por isso que o transporte coletivo em Manaus precisa mudar. Só não muda se nosso estúpido esnobismo continuar a depositar, nas mãos dos Josildos Oliveiras, o poder de parar a cidade com um estalar de dedos.

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8 comentários

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  1. MERCINHA disse:

    “Não consegue ver que as famílias dessa gente, motoristas e cobradores, constituem o grosso da massa usuária do sistema de transporte coletivo em Manaus. Ou seja, ao “ficar do lado patronal”, ele pode até obter vitórias momentâneas, episódicas, mas não contribui em nada para resolver um dos mais graves problemas da cidade e deles – principalmente deles –, seus seguidores no sindicato.” Argumento fortíssimo extraído do texto do Marcos que mostra o lado mais perverso da questão que o “sindicalista” não consegue ver.

  2. Jorge disse:

    Olá Marcos
    Sabes como ninguém ler nas entre linhas e
    com uma clarividência abordar a situação do transporte coletivo e do sindicato dos rodoviários com uma propriedade de quem vive no meio.
    O que nos traz para reflexão,mostra a defiencia do serviço e a fraqueza de um representante de uma categoria que se satisfaz em ouvir alguém dizer,que vão parar tudo pelos direitos deles e atingem violentamente aqueles que são a razão maior do pagamentos deles nós USUÁRIOS.
    Parabéns Marcos Santos
    Nem todos estão cegos e surdos nesta cidade.

  3. Marcelo Ramos disse:

    Isso não é um comentário, mas uma reflexão minha sobre o tema. Não tenho seu email, por isso estou enviando por aqui. Um abraço.

    Transporte Coletivo
    Tenho sido o mais duro opositor do atual Prefeito de Manaus. Não vejo nele as qualidades e os compromissos de um gestor moderno e eficiente, tão necessário para enfrentar os enormes problemas da cidade de Manaus.
    A despeito do meu posicionamento político, o Prefeito foi o escolhido para administrar a cidade e como tal tem legitimidade para encaminhar as soluções que ache as mais corretas como, por exemplo, na questão do transporte coletivo. A atitude do Sindicato dos Rodoviários que, sob o falso argumento de defesa dos direitos dos trabalhadores, age na surdina a serviço do interesse de alguns maus empresários, merece o meu mais veemente repúdio. Discordo do caminho escolhido pelo prefeito, mas é dele o direito de fazer aquilo que achar melhor para a solução do problema, não devendo se render a ameaças e chantagens.
    No passado, já fui vítima das mesmas práticas do Sindicato, quando decidimos retirar o Grupo Baltazar (Cidade de Manaus, Soltur, Viman e Urbana), fechavam garagens e chegaram até a queimar um ônibus, tudo isso para criar instabilidade e assim inviabilizar a presença de novas empresas no processo licitatório.
    Nem sei se a licitação é o melhor caminho, talvez o correto fosse fazer cumprir o atual contrato e intervir nas empresas que não se adequam, mas sei que continuar tudo como está não nos levará a lugar nenhum.
    Nós tentamos um caminho. Fizemos uma licitação, atrapalhada pelos mesmos “sindicalistas” , mas que deu a estabilidade necessária para que as empresas atuais fizessem os investimentos necessários para a melhora do sistema. Algumas das empresas não cumpriram seus deveres contratuais, o Prefeito ignora esse contrato e não as pune.
    Acontece que enquanto nos digladiamos na arena da política, o povo continuar sofrendo esperando horas nas paradas para pegar um ônibus velho que provavelmente passará lotado e ainda pode ficar no prego no meio do caminho.
    Portanto, hoje é menos importante discutir se a atual situação decorreu das chantagens e ameaças do Sindicato dos Rodoviários, de eventuais erros no processo licitatório passado, se é que houve ou por incompetência da atual administração em fazer cumprir o contrato existente. O mais importante é oferecer apoio e solidariedade ao exercício do governo por quem o povo escolheu para tal, aí incluído uma nova tentativa de corrigir os rumos e oferecer uma solução definitiva de um problema que atormenta nosso povo.
    Nesse momento, nossas disputas políticas apequenam-se diante da necessidade de oferecer uma resposta ao povo na questão do transporte coletivo. Por isso, quero aqui emprestar minha solidariedade e apoio ao direito do exercício de atos de governo pela atual administração municipal. Posso até discordar deles, mas o direito de praticá-los objetivando solucionar problemas da cidade é inquestionável.

    RESPOSTA:
    É isso aí, vereador. É esse o espírito da coisa. E você já pensou como essa tese estaria fortalecida se tivesse o apoio do sindicato dos trabalhadores do setor? Está tudo muito ruim e quando alguém tenta mudar (seja quem for) temos que apoiar. Assim, mesmo que a iniciativa não tenha firmeza de propósito a gente consegue empurrá-la para o objetivo que o espírito público indica, ou seja, o combate ao sofrimento intolerável da massa da população. Perfeito.

  4. Almir Ramos disse:

    Irmãos não esqueçam de cobra a ponte mao-iranduba, por favor, a ponte parada já começou a se deteriorar, isso é, o dinheiro ta saiando pelo ralo.

  5. Xico Branco disse:

    Muito bom os textos Marcos, seu e do Marcelo Ramos. Gostaria que você abordasse também a informação de que os sistema de ônibus Executivo vai ser descontinuado sob alegação que este não cumpre seu real papel. Me pergunto, num seria melhor adequar este serviço do que eliminá-lo? Na zonas norte, e imagino em outras zonas da cidade, este sistema é um alento quando comparado como nosso sucateado sistema coletivo. Ouvi dizer que vão tirar para fazer a implantarão um sistema melhor, mas que sistemas é esse; e quando será implementado? Num sei se estes fatos todos são verdadeiros ou não. O que sei é quem em muitos bairros as associações de moradores e as cooperativas de ônibus executivos estão coletando assinaturas do povo para que este grande abaixo assinado seja levado ao prefeito. Eu, desde que criaram esse sistema aqui em meu bairro, nunca mais fui ao centro de carro próprio. Mas de coletivo confesso que faz mais de 10 anos que não ando; obviamente motivado pelos péssimos comentários que sempre ouço e vejo. E assim como eu, conheço várias pessoas que fazem uso do executivo diariamente. Pontos positivos: Não demora pra passar, o ar-condicionado funciona, todos tem som ambiente, a maioria dos motoristas e cobradores são cordiais, é rápido. Defeitos sei que tem; ex: param em qualquer lugar, andam acima da velocidade alguns, dentre outros. Mas ainda acho que é melhor corrigir os pontos falhos, do que retirar esse sistema das ruas, antes de termos algo concreto, funcional e eficiente para substituí-lo. Espero que esse tema possa ser por vocês abordado, pois este boato corre forte em muitos locais da cidade.

  6. Francisco Neto(ex sindicalista) disse:

    Marcos,gostei do seu artigo,li também os do Sarafim e o do Marcelo Ramos,a sacanagem passou pela gestão deles,os dois também tem culpa no cartório,o ex prefeito como o atual esqueceram de nomear uma pessoa com capacidade técnica para dirigir um orgão meramente técnico.a respeito dos Oliveira,tenho muito o que falar deixei eles a vontade nessas eleiçôes,mais agora vou ABRIR ESSA CAIXA PRETA QUE É O SINDICATO DOS RODOVIÁRIOS E O SISTEMA DE TRANSPORTE COLETIVOS, VOU SEM MEDO MOSTRAR QUEM É QUEM,DOA A QUEM DOER, AGUARDE

  7. janio alves disse:

    marcos santos,obrigado por te uma pessoa como vc para nos defender desses josildos da vida, ele devia largar o osso e proucarar um trabalho,chega desse cidadao que so fazem atrapalhar o desenvolvimento da nossa cidade. obrigado

  8. Marcio disse:

    NÃO ACREDITO QUE ESSA NOVA LICITAÇÃO VAI RESOLVER O PROBLEMA DO TRANSPORTE COLETIVO EM MANAUS. OS EMRESARIOS SÃO MUITO BEM REPRESENTADOS NA CAMARA E NA PREFEITURA.TEMOS E QUE CRIAR UMA LEI , QUE OBRIGASSE OS VEREADORES A IR PARA A CAMARA, DE BUZÃO RETIRANDO DELES O MILIONARIO VALE- COMBUSTIVEL ,DANDO VALETRANSPORTE.