O Prosamim em discussão

O Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus (Prosamim) é, sem dúvida, uma conquista amazonense. Ferir a estrutura social tolerante com as palafitas que agridem o meio ambiente (e até as considera “típicas”) é o aspecto mais importante dessa obra. O governador Eduardo Braga colheu os frutos: na reeleição, em 2006, empatou ou perdeu para Amazonino no resto de Manaus, mas onde havia Prosamim goleou tanto que venceu no 1º Turno; em 2010, nem se fala. Parecia tão bom que aquela saudável discussão da “sociedade civil organizada” não houve. Deu tanto voto que vai continuar e, diante disso, ofereço meu pitaco.

O Prosamim pode ter sido uma ótima oportunidade perdida de fazer mais.

Entendo que um projeto assim não se realiza sem viabilidade política. E os igarapés nascem em áreas que só agora começam a receber pressão de invasores, enquanto próximo ao rio Negro está a grande massa do eleitorado manauara. Mas o Prosamim, sob o ponto de vista do melhor benefício, tinha que começar pelas nascentes para que, ao final, pudesse oferecer água recuperada à sociedade.

Feito todo esse trabalho, afinal, transcorrido todo esse tempo de obra e investidos esses mais de R$ 1 bilhão, nenhuma “perna” do Prosamim percorreu um curso d’água inteiro e, portanto, não há nenhum deles inteiramente recuperado.

O programa podia também não render-se à máxima de que igarapé em Manaus só serve para esgoto e evitar a tubulação de um curso d’água da importância simbólica do igarapé de Manaus. Ora, se a nascente está na Praça 14, a poucos quilômetros do rio Negro, não seria fantástico se a sociedade reconquistasse cenário próximo do original, recuperando mata ciliar e água, com abertura para esportes (remo, principalmente) e lazer náuticos?

Os áulicos de Eduardo Braga dirão: “Esse cara é um ingrato, criticando um governador ‘revolucionário’”. Não acho. Criticar é um dever da sociedade. Braga – cujas realizações superam em muito seus antecessores imediatos – arregimentou tudo o que podia de esperanças e expectativas. Realizá-las, porém, é outra coisa.

O Prosamim não podia ignorar que igarapé é um termo ecológico e significa “curso d’água com coloração avermelhada, temperatura fria, transparente, e margens cobertas por vegetação”. No mínimo. Qualquer ecologista vai exigir peixes também, mesmo sabendo que algumas espécimes se criam até debaixo de sanitários. O Prosamim nos ofereceu isso? A qualidade da água mudou? Os igarapés estão tendo alguma utilidade urbana – para o transporte, por exemplo?

Escrevo para o futuro. Ou alguém acha que não chegará o dia em que a tubulação do igarapé de Manaus será aberta e no lugar da rua que foi construída em cima dele reviverá o curso d’água?

O Prosamim precisa ser discutido. Braga mostrou que é possível mexer nos cursos d’água. O slogan de campanha de Omar Aziz (“Pra continuar; pra avançar”) foi uma grande sacada. Continuar é manter aceso o otimismo nascente na população. Mas o legal mesmo é o “avançar”. E se eu fosse ele reabria o igarapé de Manaus e “construía” o primeiro “igarapé” (naquele sentido ecológico, lembram?) desse grande programa.

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1 comentário

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  1. Isabella Santos disse:

    Sempre tive essa mesma percepção.