Adolfo Lorido, por Pedrinho Ribeiro

Vagava pelas ruas da Parintins da década de 1970 um neurastênico. Paletó colorido, voz rouca, sotaque bem caboclo – pra ser mais exato, de “caboco estorde” (bicho-do-mato, arredio, estranho, com dificuldade para entender a vida na cidade, estúrdio) –, era o alvo preferencial da meninada. Bullying, a palavra chique do momento, é pouco para descrever o que se fazia com ele. Louco. Numa palavra, era isso que todos achavam de Adolfo Lorido.

O cantor e compositor Pedrinho Ribeiro, porém, que é um sujeito estudado, investigou a vida de Adolfo. Sintetiza tudo num show de quase duas horas, que chegou a ser apresentado no Teatro Amazonas. Um espetáculo de humor para matar de rir, principalmente a nós, parintinenses, mas habilmente construído para alcançar o público em geral.

Pedrinho descobriu que Adolfo era filho de missionário espanhol com cabocla e, por trás da aparência ingênua das letras, tinha entendimento sofisticado da vida cabocla e uma forma original de expressar sentimentos. Dizia ter mais de mil músicas. Explorado ao máximo por nossa irreverência infanto-juvenil, revelou centenas delas.

Outro dia, no estúdio da CBN, Pedrinho gravava o “Sala de música” quando entrei na conversa. Pedi para que contasse um dos episódios mais hilários do Adolfo, envolvendo um tabu para ele, a questão da sexualidade (clic para ouvir a história e comentar).

Explico: Adolfo Lorido se dizia virgem. Quando a meninada insinuava qualquer coisa além disso, ele ficava uma fera. Atirava pedras. Criava uma correria desenfreada pelas ruas.

A história que Pedrinho conta não é conhecida de muitos. Só dos iniciados. Revela, por trás da irreverência e do humor, o gênio dessa figura que povoa nossas lembranças. Ouça:

adolfolorido

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Comentários

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  1. Teresa disse:

    Marcos sempre acesso teu Blog. São vários os motivos (sempre positivos)… e também porque voce é uma pessoa que sempre reaviva em nossa memória as incríveis pessoas que fizeram parte de uma época em Parintins, como agora voce o fez relembrando Adolfo Lorido…. e as lembranças reacederam… lembrei também de quando ele falava que o Rei Roberto Carlos “roubava” todas as músicas dele…e tantas outras histórias… Como não assisti o show do Pedrinho Ribeiro, gostaria de saber se há algum CD gravado do mesmo. Se tiver, gostaria de saber como adquirir. Um grande abraço de uma parintinense que gosta muito do teu trabalho.

    RESPOSTA:
    Vamos fazer força, Teresa, para ajudar o Pedrinho a gravar o DVD com a história completa do Adolfo e o show. Ele precisa de R$ 6 mil, mas, até agora, nada de patrocínio. Após a eleição, vou me empenhar em ajudá-lo. Obrigado pelo incentivo.

  2. Katia Silva disse:

    Recordar é viver, lembro do Pedrinho Ribeiro na minha casa, cantando e encantando com sua cultura cabocla, o melhor que ele sabe fazer, este é o orgulho de ser parintinense.
    Marcos, lembra de nós? A família do JOÃO CARDOSO, onde comiamos a melhor tartaruga da cidade? Regada a muito samba e boi-bumbá?
    Como diz o poeta, que tempo bom, que não volta nunca mais.
    Beijos, aguardo seu contato.

    Kátia Silva