O paradoxo Marina

Marina Silva, que passou por Manaus sábado e reafirmou ser contra o asfaltamento da BR-319, tem no Amazonas o mesmo porcentual de José Serra, que anuncia como bandeira de campanha a perenização da Zona Franca. E o fato de não ter asfaltado a rodovia é o maior problema eleitoral de Alfredo Nascimento. É paradoxal mas, ao mesmo tempo, ilustrativo de como a eleição caminha no Estado.A BR-319 é importante para o escoamento da produção do Polo Industrial de Manaus (PIM). Sim, pode oferecer uma alternativa para o turismo interno dos manauaras, só que o sujeito terá que ter muita disposição para atravessar mais de 2 mil quilômetros até a primeira cidade depois de Porto Velho. Nisso Marina tem certa razão.

O que a presidenciável do PV parece não ver é que essa abertura logística barateará o transporte de bens do PIM, acelerando o tempo de chegada dos maiores volumes aos grandes mercados consumidores. Caminhoneiros não têm o mesmo tempo limitado de trabalhadores em férias e uma empresa esperta pode montar entrepostos, ao longo do caminho, onde o motorista seria substituído.

Enfim, por que o que dói tanto em Alfredo não atinge Marina? Por que a Zona Franca, o ponto mais sensível econômica e eleitoralmente do Amazonas, não provoca reação favorável a Serra?

Sexta-feira, começo da madrugada, estava em Rio Preto da Eva, num pequeno restaurante, fora da beira da estrada. Na mesa ao lado, um grupo conversava sobre política. Repetiam todos os chavões das últimas décadas sobre políticos amazonenses, em meio a muita cerveja gelada. A BR-319 estava no meio da conversa. Mas a conversa parecia um texto cheio de espaços em branco, com falta de palavras (dados, no caso) fundamentais para tornar legível o panorama político estadual.

O problema é que há um certo delay, retardo, demora, na chegada das informações ao Amazonas inteiro. Rio Preto é logo ali, quase um bairro de Manaus. Querer informar o Estado inteiro, porém, parece missão igual à de quem precisa encher enorme piscina a partir de uma torneira pingando. E, infelizmente, outra vez as eleições serão extremamente disputadas nos grandes centros, onde os vencedores terão pequena margem de voto, e a decisão se dará nos “camburões”, nos grotões, nos municípios e até comunidades menores.

Marina e Serra pelo menos falam algo sobre o Amazonas. Ela contra, ele a favor. E Dilma, que nada diz em relação ao Estado, calada está levando de bandeja os votos amazonenses!

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Comentários

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  1. José Janilson Valeriano disse:

    Olá, Marcos! Não era para se ter surpresa na posição contrária de Marina Silva, pois ela é uma defensora do verde e faz parte do PV. É sabido que com o asfaltamento a defastação vai se acelear e tb sabemos que os órgãos governamentais não darão conta de fiscalizar.Por falta de vontade política e por falta de competência dos órgãos. Mas tb sem o asfaltamento a exploração ilegal continuaria. “Não sou contra o progresso, mas apelo pro bom senso”. O abandono da BR foi de responsabilidade desse grupo político que está no poder no Amazonas nas últimas duas décadas. Vc e o Ronaldo deviam dizer isso a população…Sei que vc é o nosso PEARA parintinense em Manaus e por isso confiamos em vc….rsss…..Abs

  2. Marcos, a foto que mostra a chegada de Alfredo no interior, precisamente em Urucurituba,parece coisa de marqueteiro profissional. Naquela cidade todos sabiam que o candidato Alfredo estaria chegando de avião, toda a comunidade foi convocada para participar da passeata rumo a vitória e a segurança manteve todo um programa de chegada e saída do candidato na cidade. Pois bem, vejam o video e percebam que não houve nenhum alarme ou grito como:: Meu DEUS o avião vai bater no caminhão”!!! Salve! aleluia! Socorro!! vai acontecer um desastre!!!! Corram que o avião vai cair em cima do caminhão!!! Êta motorista doido, não tá sabendo que o avião vai pousar!!!!…. Não vi nada disso, acho que foi armação para ser explorado na mídia no horário eleitoral. Ou eu estou enganado?????

  3. Marina Silva tem algumas boas idéias, mas sua atuação e deficitária. Ela não consegue se definir politicamente onde defende propostas de Dilma e Serra, nada contra sustentar proposituras positivas supra partidárias. No entanto ela fica numa gangorra, onde seu questionamento e muito vamos dizer soft não chega a ver os erros que as outras candidaturas tem. Teria tudo para ser uma alternativa, mas tornou-se uma espécie soft power.