US$ 1 bilhão em prejuízo e a repercussão de um estudo é maior

O Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA) é uma instituição de peso. O estudo que acaba de publicar, “Panorama e Perspectivas para o Transporte Aéreo no Brasil e no Mundo”, consolidado no Comunicado 54 da instituição, teve grande repercussão nacional. O fato de o aeroporto de Manaus ter sido citado como um dos três com maiores problemas, no setor de cargas, deve sensibilizar as autoridades bem mais que os US$ 1 bilhão de prejuízos recentes das indústrias do Pólo Industrial de Manaus (PIM). Por quê? Muito pelo peso do IPEA, mas também por causa do nosso amadorismo.Passamos por Samuel Benchimol, que escrevia livros e livros sobre a economia do Amazonas, apoiando cada ponto de vista em estudo detalhado. Hoje, quando temos um problema de grande magnitude, falta-nos audiência a quem é especialista no assunto e quase sempre resvalamos no bate-boca ao reivindicar direitos.

Confira, em PDF, o estudo do IPEA. Perceba como a metodologia utilizada não deixa dúvidas. Imagine se mesmo o cético presidente da Infraero, Murilo Marques Barboza, que preguiçosamente encerrou uma reunião com lideranças políticas e empresariais do Amazonas, em que se discutia o apagão logístico do aeroporto Eduardo Gomes, vai poder contestar os dados oferecidos nesse trabalho.

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O texto afirma: “Do total da movimentação de cargas, o aeroporto de Guarulhos res- pondeu por 32,7%, Viracopos por 15,7% e Manaus por 9,6%. Os três aeroportos concentraram nada menos que 63% da carga aérea movimentada no país (2008)” – e os dados estão disponíveis também no site da própria Infraero.

Qual a justificativa, então, para os investimentos da Infraero estarem concentrados em outros aeroportos, com muito menor contribuição para o volume de tráfego aéreo, de cargas e passageiros? Pura falta de planejamento.

Fica a lição. Nossas autoridades têm agora a obrigação de pegar esse estudo e perceber a necessidade de recorrer à elite pensante do Estado não apenas para cooptar na política, mas, sobretudo, para exigir dela que nos subsidie com trabalhos desse nível. A reivindicação sempre fica mais robusta quando é provada com dados. Não dá mais, a esta altura da vida moderna, para basear a vida no blá-blá-blá ou na crença de que existe alguém bondoso, superprotetor, capaz de superar o mercado, a economia e a pressão dos Estados e interesses mais fortes para nos favorecer.

O Amazonas cresceu. Precisa aprender a aparecer sem depender de super-homens, mas de uma coletividade pensante e à qual se dê a devida importância.

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