O risco da burocracia

O governador Omar Aziz está às voltas com a pesada burocracia do Governo do Estado. Precisa colocar em dia papéis, verificar programas, tocar a máquina. Tem necessidade, para fazer isso, de um expediente maior no gabinete. Corre o risco de perder um tempo precioso nas ruas, fazendo o que ele sabe e precisa fazer, neste momento do Amazonas: política.Quando fui secretário municipal de Comunicação passei por algo semelhante. Era, àquela altura, porta-voz do prefeito e assessor de imprensa. Nessa condição, acompanhava o dia-a-dia do Governo e tinha todos os dados na ponta da língua. Sabia como, numa frase, apoiar um discurso, acrescentar um dado numa coletiva…

Mas, na condição de secretário, ou tocava a burocracia ou corria o risco de paralisar o trabalho. Ao final do primeiro mês, o prefeito me chamou e deu o diagnóstico: “Perdi o assessor de imprensa e porta-voz e não consegui ganhar um secretário”.

Deu um trabalhão explicar que estávamos sanando pendências, preparando a saída, aparando arestas. Foi para esse papel que fui nomeado. Mas tive que me curvar à necessidade de trabalhar ainda mais e arrostar jornadas que iam das 5h à 1h – o que, aliás, não era nada incomum na rotina do prefeito Arthur Virgílio e seus assessores. Tínhamos, na Semcom, uma das melhores equipes, algo que dificilmente conseguiríamos juntar novamente.

Só ao final desse ano exaustivo – e, mais ainda, nos anos seguintes –, é que os frutos desse trabalho foram aparecer.

Claro que não dá para comparar uma secretaria municipal com a gigantesca estrutura do Governo do Amazonas. A armadilha que Omar vive, porém, é muito parecida.

Exemplos? O Governo do Estado está lutando para tentar remover uma torre de transmissão Manaus-Balbina. É aquele pedra no meio do caminho que todos subestimam, mas acaba se tornando tão importante quanto a do poema de Drummond. A torre está impedindo a conclusão da obra da Avenida das Torres.

Omar pressiona assessores e tenta tocar a obra. Está difícil, no entanto, provar para a opinião pública que é esse gargalo o último obstáculo antes da inauguração.

Já pensou o que significa interromper o fornecimento de um quarto da energia de Manaus? Como prever se o dia será mais ou menos calorento, ou seja, o consumo de energia na data exata da suspensão? E o tempo para a conclusão dos trabalhos?

Seria mais fácil se o governador, diariamente, fosse ao local e visitasse os dirigentes da Amazonas Energia, levando consigo o pessoal da Secretaria Estadual de Infraestrutura. Lutasse, no lugar do gabinete, nas ruas, junto ao povo.

Outra coisa é a chamanda “demanda social” do Governo do Estado, em ano eleitoral.

Sombra de paralisação na UEA, os líderes só aceitam conversar com o governador; ameaça de greve na Saúde, o sindicato rompe com o secretário e anuncia que só conversa com o governador. Ele se saiu bem, até aqui, anunciando a eleição para diretores de unidades da UEA, antes da escolha direta do reitor, que era o objetivo dos manifestantes, e, agora, ao abrir diálogo com os cirurgiões. Mostra que é do ramo, sabe exercitar a democracia no Governo.

Não pode é ficar refém das demandas do dia-a-dia. Isso tira dele a capacidade de propor e o coloca na condição do boxeador ou lutador de vale-tudo que começa a trocar soco aberto com o adversário. Pode, por mais que seja superior, levar um nocaute, a qualquer momento.

Em 62 a.C., Pompéia Sula, segunda mulher de Júlio César, foi acusada de traição com Publius Clodius, ensejando a separação. Diante do tribunal, com Publius acusado, César disse que nada tinha contra ele. Espanto geral. O imperador, porém, explica tudo com uma frase que virou ferramenta de marketing: “À mulher de César não basta ser honesta, é preciso estar acima de qualquer suspeita”.

Alessandro Bender, em artigo que roda a internet, intitulado “A mulher de César”, afirma: “O que comumente se entende sobre isto no universo de publicidade e marketing é que é necessário fazer com que nossos clientes e parceiros conheçam o que fazemos, pois não basta ser bom. Os outros precisam saber disto”.

Omar tem experiência para fugir da armadilha. Seria ruim para ele, como candidato, se não conseguisse. Pior ainda: É MUITO ruim para o serviço público do Amazonas, caso não consiga. Não adianta ele ficar assinando papéis, se não mostrar claramente que está tocando o trabalho nas ruas. Basta ver o sufoco que representa para o trânsito não contar com a Avenida das Torres.

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