Bar do Boi comemora neste sábado 22 anos

1988. Cacá, Careca e Roca (Carlos Alberto Ferreira, João do Carmo e Rogério de Jesus), três public relations natos da colônia parintinense em Manaus, mais ‘tio” Mazinho e Aldemir Negrão, começaram a convidar os amigos para “tomar um tacacá e tomar uma cervejinha”, numa casa da Ica da Maceió. Roca convenceu um vizinho, Carlinhos, que trabalhava na Petrobras, a ceder um bar que havia construído no terreno dos fundos (Roca era vizinho) para os encontros. Foi a semente do Bar do Boi.A coisa começou a crescer. Foram aparecendo outros produtos parintinenses. Até peixe frito (pacu fresquinho!) era disponibilizado para os frequentadores. Um foi contando para o outro, o número de caixas de cerveja vazias aumentando, o engarrafamento nas ruas próximas se tornando insuportável, o volume do som subindo e veio a transferência para o terreno do Ministério da Agricultura, que atravessa da Recife para a Maceió, em frente ao Manauara.

No começo, o espaço parecia grande demais. Havia muita desconfiança e preconceito com o boi bumbá e a toada.

Começamos a divulgar a festa no Caderno de Cultura do Amazonas em Tempo, ainda dirigido por Hermengarda Junqueira, que logo resolveu conferir de perto aquela história. A colunista Elaine Ramos (falecida), o repórter Eduardo Gomes e outros, compraram a idéia com a Menga. Elaine vestiu a camisa (infelizmente, a do Garantido). Os outros jornais e TVs se aproximaram.

Era aberto apenas o lado da Recife. Engarrafou. Foi necessário abrir também o lado da Maceió.

Era coisa exclusiva do Caprichoso, mas Julião, Pampico, Val, Pelé e outros, amigos muito próximos, começaram a aparecer por lá. Logo exigiram um espaço para as toadas. Cada um tinha direito a cantar três toadas e eles fraudavam, repetindo 200 vezes cada uma – êta, tempo da rivalidade boa!!! As meninas impuseram a “aeróbica da Baixa”. Logo estavam levando tambores e batuqueiros próprios. E nós somos democratas mesmo, mas se a gente não se esperta eles tomavam conta de tudo!

A coisa ficou, assim, digamos, ecumênica, durante anos. Até que resolvemos angariar recursos para equipar a Marujada de Guerra. E o Caprichoso arrebentou.

O espaço estava pequeno e houve a mudança para a TVLândia, no local onde hoje é o Manaus Plaza.

O Garantido ainda tentou segurar por lá, mas o sucesso era grande demais, o dinheiro transferido para Parintins cresceu e veio a separação, com a criação do Curral do Garantido, no Olímpico – outro grande sucesso.

O que vale, à guisa de comemoração desses 22 anos de Bar do Boi, é o sentido gregário de toda uma geração de parintinenses, inclusive alguns não nascidos em Parintins – os queridos parintinenses honorários. Cito, por questão de justiça, Afrânio Viana, Joãozinho (dono do restaurante Moranguetá) Mercinha e Fernando Marinho, Sérgio Viana, Roselene, Henrique, Andréa e Elaine Medeiros, Lélio Lauria (o secretário estadual de Justiça e Cidadania), Ariosto, Mônica Santaella, Arminho e Jacob Cohen, Francisquinho, Idaléia (falecida) Neuzinha (falecida) e Pelé  Souza (falecido), Antonio Breves ‘Ferró’, Roberto Santiago, Dodozinho Carvalho, Dalva, Darlene e Kelli Andrade, Goreth e Ângela Garcia, Neide Monteiro, José Patrocínio (figura!), Zezinho Cardoso, Salviano e Vera Cid, Peta Cid, Edinaldo, Wallace e Iná Lopes, Nazaré Leitão, Pedro José Cavalcante, Eny Mendes, Rita Teixeira, Braga Neto, além de todos os anteriormente citados acima. Mas há muitos outros.

Chico da Silva, por exemplo, lançou no Ministério da Agricultura sua primeira toada de Boi Bumbá, “Azul e Branco”. Do Caprichoso, claro.

Sugiro que Roca, hoje novamente presidente do Movimento Marujada, pegue a relação dos sócios daqueles primeiros tempos e procure lembrar na festa deste sábado.

Foi um momento muito bonito. Hoje, com a toada desgastada, o público no Bar do Boi caiu. Não sossego enquanto não conseguirmos fazê-lo novamente grátis, pura promoção do Caprichoso (o Festival não precisa mais de promoção) e parando de dar prejuízo. Algo assim estará mais à altura do esforço que Roca e vários outros fazem para mantê-lo de pé.

Neste sábado, outra vez, vamos ao Bar do Boi, nos moldes antigos, excepcionalmente no Olímpico Clube – o Sambódromo será palco da festa milionária do trabalhador. Vamos dar um abraço num amigo. Como sempre foi o espírito da coisa.

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Comentários

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  1. MERCINHA disse:

    Marcos, essa nossa trajetória é fascinante e pensar que a única coisa que queríamos era ajudar o nosso boi e olha só onde chegamos. É inegável a nossa grande contribuição para que o boi de Parintins chegasse aonde chegou.
    Todas as pessoas que fizeram parte desse movimento cultural tiveram papel importantíssimo e de igual valor.
    A tua participação nesse processo te dá conhecimento de causa para contar a nossa história.
    Obrigada pela homenagem.
    Abraço

  2. Roca disse:

    Marcos, seu depoimento como jornalista e como torcedor apaixonado do Caprichoso é simplesmente emocionante. Naturalmente que será uma grande satisfação atender sua sugestão para complementar os nomes daquele primeiro grupo, pois faltou citar a Zeina, a Silvia Emília, a Edinalda, a Themis, a Claudete, a Maricélia, a Marinildes, o Beto Vital, o Bosquinho Paulain e a turma do primeiro tacacá: a Solange e o Zeca, a Carminha e o Marcam. Todos estão convidados para comemorarmos juntos com os novos membros que fomos arrebanhando ao longo de todos esses anos, o aniversário do Bar do Boi Caprichoso.

    RESPOSTA:
    Imperdoável o esquecimento de tantos nomes importantes. Mil desculpas. Marcam e Carminha, Zeina, Themis, Maricélia, Claudete, Beto, Sílvia Emília, Zeca, nossa saudosa Concinha, Edinalda, Bosquinho, todos são nomes da primeira hora. Você tem toda razão. É por isso quer eu parei logo a lista e apelei para os universitários hehehe

  3. Afrânio Viana Gonçalves disse:

    Companheiro Marcos, tu continuas sendo para mim um nome de vanguarda. Desde sempre te vejo engajado na luta pela causa que também compartilho. Parintins é o pano de fundo de toda essa história gloriosa. Para mim, e para muitos outros companheiros, foste e és um ícone dessa cruzada.
    Ad astras!
    Afrânio

  4. Andrea Medeiros disse:

    Caro amigo Marquinho, eramos todos nos saudosos de Parintins,do nosso Caprichoso, o Roca cantando…, e o resto, bem, cantando e dançando também. Era a nossa festa. Estarei com certeza nesta comemoracão para lembrar a incrível trajetória do Bar do Boi e do Movimento Merujada.
    abraços
    Andrea

  5. Vinícius Almeida disse:

    Marcos Santos, parabéns pela postagem e homenagem a estes amazonenses magníficos que contribuiram de forma incomensuravel para o sucesso MUNDIAL de nossa cultura.
    Tive o prazer e a honra de colaborar, já no sambodromo, na segurança do evento e aproveito para agradecer a oportunidade que tive para conhecer de perto o Boi que conquistou meu coração e de minha familia (hoje duas novas caprichosas Ana Luisa 6 anos e Ana Clara 4 anos). Gostaria de lembrar os nomes de Osvaldo e Dorinha que vi por várias noites doarem suas almas e corações em favor do movimento.
    Abraços e Saudades.

    PS.: Marcos, mas é fato que algo de muito sério deve ser feito para recuperar o Bar do Boi.
    O meu maior orgulho aquele momento como amazonense era o de poder bater no peito e dizer que nossa cultura musical era própria, não eramos influênciados pelos axês da vida que a época dominavam o cenário musical, as rádios a nossa mídia eram focadas em nossa cultura. Nada contra o forró ou aqueles que gostam do mesmo, mas sinceramente não tem nada mais amazonense que nossas toadas, cantam nossas vidas, as vidas de nossos caboclos.
    Ai fica o Desafio ao nobre Jornalista que Respeito. Q tal encabecar um movimento de recuperação real de nossos bois?

  6. Luiz Marinho disse:

    Grande companheiro Marcos,

    Você trouxe para o centro da arena um momento fantástico das nossas vidas. Aquele que, por iniciativa dos caciques da Ica, já citados e, com muita justiça, homenageados no seu belo artigo, passamos a nos encontrar nas tardes de sábado, sem outra pertensão que não a de nos re-unir, tomar umas geladas, ouvir e batucar umas toadas, aquelas toadas de caboco. Quem poderia imaginar que tão despretensioso panavueiro fosse tomar a dimensão que tomou, e até influir de maneira tão determinante e positiva a cultura amazonense?! Quero aqui também dar minha pequena contribuição para o resgate e a recordação de nomes amigos que também estavam com agente naqueles momentos iniciais, como o Nego, o Paulo, o Sucuba. Acho que você poderia lançar um desafio pra ver quem lembra mais nomes, pra ir completando a lista.
    Mas, como eu sou um renitente, como eu não me reciclo mesmo, do jeito que até Careca, pro meu espanto, mandou, porque eu não acho que nem tudo muda pra melhor, que não é toda mudança que significa evolução, ouso afirmar que hoje o Movimento Marujada e o Bar do Boi não teria como nascer. Explico: o elemento central daqueles nossos encontros iniciais era a toada, a toada daquela época, simples, e feita pra se cantar junto, em roda, em volta do tambor. Qualquer um batucava, qualquer um era puxador de toada, até o Pedro José. Imagine isso hoje. Quem saberia cantar essas toadas de agora? Quem iria tocar o teclado? O charango? E brincar (dançar)?, com essas coreografias, que mais parecem as performances das meninas da Rua Augusta? Não teria havido Bar do Boi. Resgatem a toada, cadenciada no tambor, pra se cantar junto.

    Gostaria muito de poder estar nessa festa e abraçar cada um de vocês.

    Luiz Marinho

    RESPOSTA:
    Entre os esquecimentos imperdoáveis está o Luiz Marinho. Assim com o Afrânio. E a Sílvia Emília. E a Claudete. E o Nego (que agora é o dotô Roberto Taketomi). E o Fonso (Idelfonso). E tantos que vou parar por aqui.

    Na verdade, Luiz, já que tu puxou pra esse lado, as condições para o surgimento desse fenômeno cultural, que ainda precisa de estudo, é que nós estávamos desbravando Manaus. Todas as gerações antes de nós, com raras exceções, preferiam Belém – talvez ainda espelhados na idéia da capital da Província do Grão Pará. Nós escolhemos Manaus. Eu, você e o Fernando, por exemplo, embarcamos no mesmo Sobral Santos, a caminho da capital do nosso Estado. E quando surgiu a oportunidade de nos encontrarmos, tínhamos como elo indissolúvel uma amizade recente, adolescente, jovem, daquelas que não fica mais de dois dias sem se encontrar e aprontar alguma.

    Mais que isso, nós atraímos toda a população interiorana de Manaus. Também acho que está faltando um estudo mais apurado, um levantamento demográfico estratificado, capaz de nos mostrar quantos nesta capital são nascidos no interior ou filhos de interioranos. Não esqueçamos que Ufam e UEA no interior são fatos recentíssimos.

    A toada, realmente, foi o elemento agregador. O Pedro cantava bem. E eu? Adorava cantar no Bar do Boi, levado pelo Pelé, que insistia em que, para apresentar, eu tinha que cantar. Não só cantava quanto corrigi letra e música da primeira toada do Chico da Silva. Aí, na segunda, ele emplacou “Azul e branco” e tudo que eu pude fazer foi aplaudir. Sabe quem lançou “Azul e branco”? O Gilmar, “Carilho”, no Ministério da Agricultura. O Chico tinha cantado para mim, mas eu me atrasei, no Bar do Boi, e quando cheguei, o Gilmar já estava no palco, fazendo o maior sucesso.

    Foi um tempo que passou, mas a oportunidade da festa, como você diz, é ótima oportunidade para abrir essa discussão. As coisas que Emerson, Chico, Fred, Tadeu, Paulinho du Sagrado, Demétrius, César Moraes, Inaldo e companhia fazem, são muito legais. Algumas toadas cantadas hoje em dia são verdadeiras obras-primas. Mas está faltando um pouco mais do chão, da linguagem simples de nossa gente.

    Quando apresentador, recebi uma folha de papel de pão, escrita a lápis, com uma letra de toada assinada por alguém que se dizia “Atur e cumpusitur” (quis dizer “autor e compositor” e saiu “ator e compositor”). Lemos, eu e o Rei (amo do boi), e resolvemos ouvir. O resultado ficou muito bom e foi um dos sucessos do Caprichoso naquele ano. Tinha uma música ali. Horário, autor dos versos “Quando o sol parar de brilhar/ triste lua cansada se mandar/ só fica o clarão das estrelas e o Boi Caprichoso vamos se alegrar”. Tem erro de português sim, mas a música é antológica. Horário era um vaqueiro do interior de Parintins, que só aparecia na cidade na época do boi. Semi analfabeto, não sabia, como ele mesmo dizia, “tirar uma nota de um cipó”. Essa frase, aliás, foi parar no Fantástico, na síntese de um documentário que fizemos, “O Boi bumbá no planeta água”, sob direção do Edilson Martins e coordenação do Valdo Garcia, sobre nossa festa.

    Entra para a história o presidente que abrir uma “janela” para esse jeito simples entrar.

    É tanta saudade que toda vez que escrevo sobre isso a coisa se estiiiiiica…

  7. CARLOS GARCIA ( KLHULHA) disse:

    Meu Amigo Marcos Santos, que satisfação poder cumprimentá-lo. Sua trajetória vitoriosa nos enche de orgulho. Parabens!!!Um forte abraço!!!

  8. murilo rayol disse:

    Parabéns a todos por esse sucesso do Bar do Boi, mas gostaria de lembrar, que houve uma outra semente, que fez florescer um pouco esse movimento.
    Fomos a primeira vez a Parintins, assistir o Festival, eu e Sergio Vianna, no ano de 1964. Lá ficamos extasiados com a beleza e originalidade desse povo e, como na época eu estava contruindo a escola Agricola, tinhamos vários amigos por lá, como Balaco, Mauricinho, Carlinhos Paulaim e Carlinhos Pato, e esse pediu que, no ano seguinte, eu levasse para eles 20 caixas de fita cassete, para que eles gravassem as toadas e as vendessem aos visitantes, para poderem fazer as suas fantasias.
    Do Lado do Garantido, Roseane Novo e Zezinho Farias me pediam pra que eu conseguisse 20 galões de cola, para ajudar nas alegorias.
    Em 1965, levamos o material solicitado e gravamos as toadas do Caprichoso, lá na Associação Comercial. Metade foi vendida lá e a outra metade trouxemos para fazer a “nossa festa” num barzinho que ficava embaixo do Cheik Clube, ali na Getulio Vargas.
    O que era uma festa de amigos começou a pegar moda e isso durava quase um mês, depois de terminar o festival de Parintins.
    Assim, a cada ano, cada vez aumentava essa divulgação para o próximo festival, culminando assim tbm para esse sucesso magnífico que foi realmente o Bar do Boi.
    Fica aqui então esse registro.

    RESPOSTA:
    Murilinho Rayol, realmente, foi um dos baluartes na divulgação do Festival de Parintins. Assim como o finado Zezito Assayag, tio da Daniela Assayag, o pai dela, Élcio Assayag, e o Antonio Silva, presidente da Fieam. E se a gente for cavar um pouquinho mais na memória, muitos outros nomes vão surgir.