Marielle e Anderson, até quando?

Passados mais de trinta dias do brutal assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, o mundo inteiro ainda pergunta quem matou, quem mandou matar e quais os motivos para tamanha violência.  Embora o tipo e as circunstâncias do crime não exponham nenhuma novidade, pois a violência campeia, também, naquele estado da federação, além de compor a trágica estatística carioca assegura, ainda, um agravante de tamanha envergadura, pois o duplo assassinato aconteceu exatamente em plena intervenção federal na combalida segurança pública do Estado do Rio de Janeiro.

Pra piorar a situação, as redes sociais turbinaram postagens que, em pleno século de conquistas, mostravam o quanto estamos na época Medieval, com pessoas demonstrando alegria ou tentando desconstruir a imagem da vereadora. Pareceu até confronto de postagens, demonstrando que parcela da população brasileira só se choca com um crime de forma seletiva: quando quem foi assassinado é da direita, quando torce pelo mesmo time, quando é do mesmo partido, e assim por diante. Ora! Todos são seres humanos, independentemente da cor partidária ou corrente ideológica. Ninguém deve assinar embaixo e concordar com essa escalada de terror.

No Brasil, matar e morrer são verbos conjugados em todos os tempos e modos. A banalização da vida humana está impregnada no nosso dia a dia, e muitos já não se espantam com a desenfreada estatística que aponta que, no Brasil, morre mais gente assassinada que em 52 países como EUA, Canadá, Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia, Egito, China, Mongólia, Malásia, Indonésia, Austrália, Nova Zelândia, Coreia do Sul, Coreia do Norte, Japão, Portugal, Espanha, Reino Unido, Irlanda, França, Bélgica, Holanda, Luxemburgo, Alemanha, Itália, Suíça, Dinamarca, Noruega, Suécia, Finlândia, Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia, República Tcheca, Eslováquia, Áustria, Hungria, Belarus, Ucrânia, Romênia, Moldávia, Bulgária, Eslovênia, Croácia, Bósnia-Herzegovina, Sérvia, Montenegro, Albânia, Grécia e Macedônia.

Em 2015 foram registrados no Brasil 59.080 assassinatos, enquanto nesses países 59.012 pessoas foram vítimas de homicídios. Muitos poderiam argumentar que a comparação é desproporcional, pois apesar da extensa lista a grande maioria dos países é formada por minúsculos países, mas se observarmos que o Brasil ocupa 8,5 milhões de km² e compararmos com todo o continente europeu, com 10,1 milhões de km² e uma população formada por 743 milhões de pessoas, aí sim podemos perceber o grande contraste –  uma área territorial maior que a do Brasil, uma população 3,5 vezes maior que a brasileira, mas que contabilizou apenas 22 mil assassinatos no mesmo período. O Brasil teve quase o triplo e, no ano seguinte, saltou para 61.600 homicídios, recorde mundial novamente.

Dessa macabra sanha de dizimar o semelhante não escapa ninguém, com balas perdidas fazendo diariamente mais vítimas. Foram 134 policiais mortos, somente no Rio de Janeiro em 2017, no primeiro trimestre de 2018 chegou perto de 40. Tornamo-nos cúmplices desses assassinatos quando temos a oportunidade de fazer, de promover, de participar da mudança e não fazemos ao pensar que nunca seremos a próxima vítima. Ledo engano.

 

Augusto Bernardo Cecílio

Augusto Bernardo Cecílio

* Auditor fiscal da Sefaz, coordena o Programa de Educação Fiscal no Amazonas.

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