Enxugando gelo

Há, no Brasil, embora eu não concorde plenamente, o costume de admitir que tudo nesse país só começa a funcionar depois do carnaval. Coincidência ou não, medidas contra a crescente escalada de violência em hostes brasileiras, a começar pelo Rio de Janeiro, chegaram logo após as folias de momo. Assim, marcados por medidas esdrúxulas e inócuas promovidas pelo Planalto Central, o povo brasileiro insiste e resiste em busca de sua apoteose.

E, como parte integrante de um enredo bem concreto e contundente, os militares foram convocados a evoluir a postos de elevados destaques no cenário político nacional. General pra cá, general pra lá, nesse compasso na dança das cadeiras o diretor geral da Polícia Federal ficou sem a sua. Em contrapartida, a população fluminense acabou ganhando um misto de falsa segurança, desconforto por ser fichada publicamente e muitas, muitas armas de guerra nas ruas. Desse jeito, até agora, ainda não se tem a menor condição de projetar uma necessária harmonia social.

Aliás, a emenda está saindo pior que o soneto, pois a questão de colocar o Exército nas ruas não é vista com bons olhos por múltiplos segmentos da sociedade brasileira, embora existam outras correntes favoráveis. Não se pode negar que os chocantes números da violência policial, principalmente nas periferias, agora ganharam mais popularização através de celulares e funcionam para unir as pessoas em torno do assunto.

Claro que a situação não será normalizada do dia para a noite. Muitos governantes passaram pelo poder fazendo olhar de paisagem, fingindo que a segurança era prioridade, mas na verdade só visavam enriquecer ou se reeleger. Enquanto isso, milhares de pessoas eram assassinadas, transformando o Rio e o Brasil em manchetes obrigatórias na grande imprensa mundial. Ruim para todos nós. Hoje todos correm riscos, até mesmo os engravatados que andam rodeados de seguranças.

No meio desse fogo cruzado de profundas incertezas, parcela da sociedade questiona se tal iniciativa não serve apenas para manter o governo na mídia, em ano eleitoral, visto que não é de hoje que o Rio de Janeiro clama por segurança. Aliás, o Brasil inteiro implora por segurança, e esse item deverá constar nas propostas dos sorridentes candidatos Brasil afora.

Mas, a violência ou as causas e/ou os efeitos dela não são visíveis apenas nas sangrentas estatísticas policiais, nas grandes, médias e pequenas cidades do Brasil. No centro do poder, em Brasília (DF), está concentrado (sem ter medo de errar) a horrenda e nefasta máquina de promover e alimentar a mais terrível forma de violência que a humanidade conhece, a corrupção. Esse mal campeia a capital federal e já se enraizou pelos estados e municípios, salvo raríssimas exceções, onde não há justiça suficiente para fazer parar essa horda do mal, ao ponto de gerar um mote do carnaval… ¨A justiça brasileira é tão lenta, que em 2016 dispararam a metralhadora trá, trá, trá trá… e só agora em 2018 perguntaram “Que tiro foi esse?¨.

 

*Auditor fiscal e professor

Augusto Bernardo Cecílio

Augusto Bernardo Cecílio

* Auditor fiscal da Sefaz, coordena o Programa de Educação Fiscal no Amazonas.

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