Fuzis entram pelas fronteiras abertas da Venezuela para proteger drogas e facções. Estado não é rota de tráfico de armas

Com a pressão das fronteiras abertas, especialmente da Venezuela, que passa por crise sem precedentes, armas de grosso calibre são contrabandeadas para proteger traficantes. Estado não é rota de tráfico de armas. Fotos: Divulgação

Com as pressões de duas fronteiras abertas, da Colômbia e da Venezuela, o Amazonas e Manaus estão mais vulneráveis como porta de entrada para armas de grosso calibre. E as forças de segurança se preparam para apreender um maior volume de armamento como fuzis russos, americanos e até israelenses.

O armamento de poder destrutivo, segundo especialistas, não configura uma rota de tráfico de armas, mas está diretamente relacionada ao tráfico de drogas e às facções criminosas, que precisam mostrar força, poder e se defender.

Defesa de traficantes

“Essas armas começaram a surgir em cenários para defesa das organizações criminosas e no momento da divisão da Família do Norte. Traficantes passaram a adquirir armas de grosso calibre, usadas para o transporte da droga que vem da fronteira. E algumas acabam sendo adquiridas por traficantes rivais para disputa de territórios”, explica o diretor do Departamento de Repressão ao Crime Organizado (DRCO), delegado Guilherme Torres.

Em janeiro deste ano, dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP-AM) contabilizam a apreensão de 87 armas, ou seja, 14,1% do total apreendido em 2017, de 617. Em 2016, o volume foi de 659, a maioria de revólveres e pistolas.

Quatro fuzis

Este ano, a Polícia Civil já retirou das ruas três fuzis que estavam com os chamados soldados do tráfico da FDN, que iriam atacar uma boca de fumo do Primeiro Comando da Capital (PCC), numa ação do Departamento de Investigação sobre Narcóticos (Denarc), em conjunto com servidores da Secretaria-Executiva-Adjunta de Inteligência (Seai).

As armas eram dois fuzis soviéticos, modelo AK-47, e um americano AR-15. A Polícia Militar ainda fez a apreensão de um outro AK-47 na semana passada, com dois suspeitos de tráfico.

 

“O maior volume de apreensão se dá em razão do não cumprimento de um acordo internacional firmado entre o governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), de desmobilização, desarmamento e reinserção no mercado de trabalho. As armas, que deveriam ser devolvidas ao governo e para a ONU, são utilizadas para escolta da droga pelos dissidentes das Farc”, diz Torres. Elas acabam, então, contrabandeadas pela frágil fronteira do país.

Piratas

A presença dos piratas ao longo dos rios Solimões e Japurá, rotas do tráfico, também colabora para a entrada desse armamento no Estado, por se tratar de mercadoria valiosa e vulnerável, uma vez que colombianos fazem escolta de entorpecentes até certo ponto do rio, protegendo a carga.

O diretor do DRCO lembra que no Rio de Janeiro, por exemplo, desde 2015 tem ocorrido apreensões de muitos fuzis da Venezuela. “E são fuzis novos, modelo AK-47, de alto poder de destruição. A rota de entrada do armamento é a mesma do tráfico. E a crise na Venezuela e a abertura dessa fronteira são fatores que pesam no contrabando de armas para o Amazonas”.

A automática soviética é uma das mais vendidas no mercado negro, pelo preço, resistência e facilidade no uso. No Rio, a apreensão de fuzis venezuelanos tem batido recorde. A arma de guerra é cada vez mais usada para qualquer tipo de crime nas ruas cariocas.

Segundo a SSP, o armamento de grosso calibre, de uso restrito, ainda vem de desvios do próprio sistema de segurança e de empresas privadas, durante assaltos.

Sem paridade

Para o diretor do DRCO, o fuzil é arma de guerra e o Brasil é um país constitucionalmente conhecido como não beligerante.

Quanto à comparação do combate das forças de segurança, armadas com pistolas Taurus, por exemplo, contra fuzis, o delegado afirma que a polícia segue leis que acabam, no extremo, garantindo direitos de criminosos. “O crime acaba usando isso como escudo protetor, enquanto a polícia precisa “pisar em ovos” sob pena de responsabilização civil, criminal e administrativa”.

Uma mudança nacional e constitucional seria ponto de partida para nivelar, pelo menos entre as armas, a lua contra o tráfico.

Bolívia

Pressão de armamento disponível para contrabando também vem de outro país, a Bolívia. Com a ampliação da Milícia Nacional Bolivariana para mais de meio milhão de integrantes e reforço de uma automática para cada miliciano, fuzis são produtos que acabam ficando disponíveis no mercado negro. É a lei da oferta e da procura.

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