A reforma morreu?

No meu entendimento, a reforma da Previdência não morreu. Os governantes de plantão são especialistas em despistar e aprontar. Começo chamando a atenção para as capas das principais revistas semanais desta semana, que estampam propaganda caríssima para cobrir todo o território nacional, com uma criança na foto, de forma bem apelativa, com a mensagem “para ele se aposentar amanhã”.

Ora! Questiono o gasto gigantesco de Temer para tentar aprovar tal reforma. Gastos milionários com propaganda, jogando duro, pesado e de forma desleal contra os trabalhadores, em especial contra os servidores públicos, a quem chama de privilegiados, além dos milhões destinados à base aliada, na forma de emendas parlamentares, para que votasse pela aprovação.

Outro ponto que causa espanto é a pressa desse governo tampão e passageiro em aprovar algo quase que na marra, parecendo desesperado em entregar aos “patrões” a encomenda que poderia nos empurrar a todos para a vala comum da previdência complementar ou privada, onde os banqueiros e as financeiras ficariam ainda mais ricos, num país em que a miséria ainda prevalece e chicoteia o brasileiro.

Seria aconselhável que os sindicatos e representantes de classe ficassem de olhos bem abertos porque esse tal recuo ou desistência pode ser uma armadilha para desarticular movimentos, a fim de pegar a todos de surpresa com uma votação surpresa, do tipo que já vimos tantas vezes no avançado da hora. Afinal, Temer tem em suas mãos os presidentes das duas casas legislativas.

Outro ponto que levanto: aprovo plenamente a intervenção no Rio, mas estranho o momento em que ela foi declarada. Uns falam que seria uma saída honrosa do governo para jogar a toalha pela Previdência, mas desconfio que algo esteja sendo tramado para os próximos meses.

É duro ver o Brasil vivendo verdadeiro faroeste urbano, inocentes sendo exterminados, agredidos, roubados de várias formas e só agora resolveram pela intervenção. Também me causa apreensão o fato de termos vivido momentos de equilíbrio na Copa e nas Olimpíadas, que não refletiu em segurança após os eventos. Hoje o chamado legado desses eventos é visto mais pelo aspecto negativo, com falcatruas, obras superfaturadas, corrupção e elefantes brancos Brasil afora que são mantidos à custa de dinheiro público e sem nenhuma razão de existir (arenas, por exemplo).

Voltando ao tema, vejo com desconfiança esse recuo, até porque Temer e sua equipe não são de desistir facilmente das coisas, mesmo que o Brasil inteiro exija comportamento ético. E são vários os exemplos: os engavetamentos das denúncias contra o presidente, a insistência pela posse de Cristiane Brasil no Ministério do Trabalho, e vários exemplos de acusações em cima de inúmeros ministros.

Lembro que a baixíssima popularidade do presidente atual até foi lembrada por um publicitário como algo positivo para que ele fizesse as reformas sem medo de melindrar ou perder votos. Aliás, não se perde o que não se tem.

Por fim, essa reforma é um acinte para todos nós, afinal Temer se aposentou aos 55 anos pelo governo de São Paulo com salário de R$ 30 mil. Agora quer impor ao povo brasileiro o mais duro golpe contra um direito social garantido na Constituição.

 

*Auditor fiscal e professor

 

Augusto Bernardo Cecílio

Augusto Bernardo Cecílio

* Auditor fiscal da Sefaz, coordena o Programa de Educação Fiscal no Amazonas.

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1 comentário

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  1. Marcelo disse:

    Os gastos astronômicos de recursos públicos para aprovar uma reforma que comprometerá a vida da maioria das trabalhadoras e trabalhadores mais pobres do país, especialmente, as mulheres do campo e do meio rural, cuja atividade laboral é completamente distinta das trabalhadoras do meio urbano. Vejamos a reforma trabalhista (pensada pela FIESP) aprovada recentemente que não dá alternativas aos(às) trabalhadores(as) em sua relação com o patrão, haja vista o trabalho intermitente e a redução das ações trabalhistas que comprovam o sucesso da famigerada reforma. Considerando as análises de economistas e especialistas no assunto, de que a economia está se recuperando, o índice de desemprego caindo, o poder de compra aumentado, investimentos e etc., não há dúvida, o presidente tampão já tem um legado: o aprofundamento das desigualdades no país.