Amigos de Reuel. Tempos de Saudade

São Luís, 8 fevereiro de 2018

 

Amigos de Reuel,

 

Em tempos de saudade.

 

Agradeço aos amigos de Reuel, especialmente ao casal Cléia e Osvaldo, que organizaram a celebração da missa de sete dias do seu falecimento. Agradeço também ao amigo e irmão Mário Domingues, aos irmãos e irmãs queridas: Ruth, Raquel e Rosa, que, carinhosamente, telefonavam para ele chamando-o de “Reú”, e, principalmente, aos funcionários mais simples que se relacionavam com Reuel pelo carinho que tiveram ao lembrar do ser humano por excelência que ele foi. Um homem simples, de origem humilde, que começou a trabalhar aos 10 anos de idade vendendo frutas para ajudar a mãe no sustento da família. Cursou a faculdade de engenharia em Belém – PA, onde nasceu. Depois de formado, foi convidado para integrar o corpo de professores da UTAM, hoje UEA (Universidade Estadual do Amazonas). Inicialmente, ocupou o cargo de engenheiro na Eletronorte e, depois, de Chefe de Usina. Chegou, na década de noventa, pelos seus próprios méritos, a ser Superintendente da Eletronorte em Manaus-AM.

Lembro sempre de um fato marcante que demonstra a competência e o profissionalismo com que Reuel encarava o seu trabalho. Certa vez o vi comandar, pelo celular, a condução de procedimentos técnicos para consertar as falhas no sistema de energia causadas por um apagão que deixou grande parte da cidade de Manaus sem luz. Essa cena me deixou fascinada e sempre guardo na memória a dedicação e responsabilidade do profissional Reuel diante do seu ofício.

Lembro também de outra vez em que estávamos jantando em um restaurante. De repente, lá do alto, vimos uma boa parte da cidade de Manaus no escuro. Outro apagão tinha acontecido. Reuel, prontamente, entrou em contato com a sua equipe e apresentou uma solução para o problema. Em seguida, tudo estava iluminado novamente! Fantástico! Que rapidez! Em outro episódio, quando já era Superintendente da Eletronorte, eu estava em seu gabinete, e o governador do estado à época, Amazonino Mendes, ligou para dizer que o local onde ele se encontrava estava sem luz. Reuel desceu imediatamente para a Usina, vestiu o seu macacão e resolveu o problema.

Assim conheci a potencialidade desse engenheiro, a responsabilidade do dever cumprido. Trabalhar, passar horas na Usina era o que ele gostava de fazer. Conheci a grandeza desse profissional simples, inteligente, de raciocínio rápido, carismático, cavalheiro, bondoso, misterioso e maravilhoso.

Tenho plena certeza de que ele foi muito feliz no convívio familiar, cercado pelos cuidados e amado pelos tios, por meus irmãos, que são seus primos, filhos dos primos e por mim, Silvia, prima, que também fui esposa, amiga e companheira.

Sei que ele está nos braços do nosso Deus, pois muito antes de ir para a glória, ele voltou para a casa do nosso Senhor e reconciliou-se com Jesus, conquistou a sua coroa.

Obrigada pela amizade sincera e pelo ótimo convívio que vocês tiveram com Reuel durante o tempo em que ele esteve em Manaus.

Que Deus abençoe todos vocês.

Em tempo: encontrei nos meus guardados uma cópia de uma cartinha que fiz para ele há 23 anos.

Reuel,

 

         6 de junho, dia de seu aniversário

 

         Acho o dia bem oportuno para falar com você. Falar, ainda que por um texto, substituto, talvez, de um encontro difícil e adiado por falta de tempo, de coragem, de interesse, de cuidado ou sei lá o quê de nós dois.

         Bom, mas é o dia do seu aniversário. Eu traço um perfil ousado e atrevido de você:

Passageiro de um veículo onde o motorista nem sempre é você, e isso é mal, considerando que o verdadeiro veículo que conduzimos é um veículo chamado nós mesmos.  Perde-se, assim, nas ruas das intenções e suposições. Preocupa-se com os pensamentos dos meus pais. Jamais minha mãe e meu pai considerarão os laços familiares para avaliar o relacionamento entre o homem Reuel e a mulher Silvia.

         Minha mãe, inteligente que é, e veloz nos seus raciocínios, me disse certa vez o seguinte: “Não pode haver confusão entre o meu sobrinho e o homem que corteja a mulher Silvia, e não a sua prima. Os laços são diferentes. Ele é pessoa muito querida na família, e o parentesco não pode interferir no Reuel de Silvia. Fique à vontade. Não há censura para você nesta casa”.  Telefone sempre que isso lhe fizer bem, a qualquer hora.

Mas voltemos a você no plano de sua essência. Vejo-o muito distante, tentando sair das máquinas para deixar fluir o lado escondido que eu tão bem conheço: o do homem sensível, gentil, atraente e envolvente.

         Espero vê-lo um dia leve e solto para conversarmos, rirmos e até chorarmos se for preciso. Isso vale a pena! É vida também!

         Neste dia, solte-se e deixe entrar em você toda felicidade que merece!

Beijos, Silvia!

        

São Luís-MA, 06 de junho de 1994.

Sílvia Regina

Sílvia Regina

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11 comentários

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  1. Patricia Paula da S. Alves disse:

    Meu pai foi e sempre será uma grande homem. Aquele a qual tratava a todos por igual sem cerimonias. Um homem simples de coração nobre. Obrigada por ser sua filha, um dia nos reencontraremos. Te amo pra sempre papai .

  2. Rivaldo Júnior disse:

    Tia Sílvia, parabéns pela linda mensagem. Espero que essa dor da perda se amenize o quanto antes. Parabéns pela grande mulher que foi ao lado do meu Tio.

    Beijos,

    Rivaldinho

  3. Osvaldo F. Pereira do Rego disse:

    Como posso obter uma cópia da coluna de 09/02/2818, Amigos de Reuel. Tempos de Saudade, de autoria de Silvi Regina?

  4. Sônia Monier disse:

    Ele se foi, mas em nossas lembranças continua vivo o ser humano Reuel que eras. Nossa maior alegria foi quando ele mesmo, decidiu voltar aos braços de Jesus. Como foi dito ele colocou mais umas pedras em sua coroa. Nós somos gratos por teres entrado em nossa família. Deus ja te abençoou.

  5. Tia Silvia, não deixe que essa dor da perda dilacere o seu coração. A senhora foi o anjo que cuidou de Reuel tão bem quanto cuida de todos nós. Deus é quem sabe o momento certo de partirmos. O tio Reuel foi o ser humano mais incrível que conheci, aprendemos muito com ele, tenho certeza que ele conquistou o lugar dele no céu. Beijos te amo muito. Monique Monier Alves.

  6. Silvia Regina disse:

    Rivaldinho,

    Obrigada pelas palavras de conforto, alegrou o meu coração. Deus te abençoe! Que tu permaneças sempre assim: O filho querido, esposo dedicado, excelente irmão e amigo.

    Agradeço pelo carinho e respeito que sempre tivestes pelo teu tio Reuel.

    Beijos da tia Silvia.

  7. Ionete Rouse Monier Alves disse:

    Minha querida irmã, esta mensagem está belíssima, foi escrita com o seu coração. Eu sei que Reuel foi muito feliz por ter encontrado todo carinho, atenção e cuidado ao seu lado. Que Deus lhe abençoe e lhe guarde sempre.

  8. Saudações à minha querida tia e leitores do blog! Quero reforçar, com extrema excelência, os meus pêsames! Este é um momento ímpar ao qual todos nós desejamos força e paz no continuar desta vida sem o nosso ilustre desconhecido e grande companheiro de Silvia Regina Monier Alves, Reuel! Este homem que tão bem foi descrito e eu tão bem pude presenciar no dia à dia em que convivi nestes últimos meses. Aquelas rotinas de hemodiálises semanais, os cuidados nas alimentações, nos acompanhamentos das necessidades diárias, fazendo sempre tudo de maneira que o fizesse sentir se bem! E mesmo diante de todos esses empecilhos que só vieram com o abandonar da bebida, ele sempre foi um intenso participante nas relações familiares, principalmente nestes últimos 12 anos em que ele esteve aqui em São Luís.

    Tia Silvia sempre foi deste jeito, sempre cuidadosa, atenciosa, preocupada com tudo, com ele principalmente, e , com todos da nossa família, inclusive, com os filhos Paulo e Patrícia ao qual Reuel tinha imensa estima, mesmo distante fisicamente por todos estes anos. Sem esquecer os demais familiares que caminharam junto à ele durante toda essa história, em fim, todos são bastante queridos por ela, é percebível, foi o que eu presenciei da Esposa de Reuel e Líder familiar.

    Falando mais sobre Reuel, sempre quando o lembro, vejo um homem calmo, de admirável atividade mental, sempre muito inteligente e atento ao seu redor. Tive a honra de acompanhá-lo, de ver a sua disposição de cumprir seus horários, tanto para a saúde quanto para o seu momento espiritual e de louvor na igreja aos domingos. Realmente, um gênio.

    Abraço à todos os familiares e amigos, e, à minha tia eu reforço: A senhora foi e sempre será uma guerreira! Deus lhe abençõe! O texto está lindo! Suas palavras com toda certeza eternizaram este grande homem.

    Beijos!

    Seu sobrinho,

    Ayrton!

  9. Silvia Regina Monier Alves disse:

    S A U D A D E

    Neste vale de amarguras, tudo passa
    Passa a lágrima, a dor, o sofrimento
    Tudo se olvida e esvai qual a fumaça
    Célere a evolar-se ao firmamento.

    Cessa a lágrima, o pranto mais ardente,
    Que enternece, que aflige e nos comove.
    Foge a dor mais tirana e mais pungente,
    Que a angústia mais intensa nos promove.

    Esvai-se o sofrimento que envelhece,
    Que dilacera, que destroça e abate,
    Sulcando a alma ferida que enaltece…

    Tudo passa, porém, na realidade,
    Pior que o pranto, a dor e o sofrimento,
    Mora conosco esta cruel SAUDADE!

    Este poema é da poetisa Ione Ribeiro Alves, minha mãe. Dedico ao meu amor Reuel da Silva
    Alves

  10. Patricia Alves disse:

    Lindo!! Muitas Saudades …

  11. Patricia Alves disse:

    Lindo!! Saudades eternas papai s2