Corrupção, no veneno está o antídoto

Não passa e nunca passou pela minha cabeça fazer chacota com um assunto tão sério, mas um dos caminhos para tirar o Brasil dessa doença tão grave, a corrupção, é usar o próprio veneno para extrair o antídoto. Ou seja, quem nos fere é também quem nos cura.

Em certa ocasião, num evento na capital paulista, o procurador da República Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa do Ministério Público Federal na Operação Lava Jato, disse que os recursos desviados em esquema de corrupção no Brasil alcança algo em torno de R$ 200 bilhões por ano. Um estudo realizado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) apontou que o PIB per capita do Brasil subiria cerca de 30% se esta “doença” fosse extirpada da política brasileira. Os investimentos federais poderiam ser triplicados em Educação, Saúde e Segurança, por exemplo.

Só na operação Lava Jato, a que está mais em voga, já foram denunciadas mais de 200 pessoas, fechados mais de 30 acordos de delação premiada e revertidos “voluntariamente” aos cofres públicos mais de R$ 1,5 bilhão. Segundo o procurador, as propinas pagas, que teriam sido desviadas dos cofres da Petrobras, somam mais de R$ 6,2 bilhões. A ponta do iceberg, como ele mesmo define.

Ora, ao mesmo tempo que o presidente Michel Temer tenta manter-se, a peso de ouro, no poder tentando aprovar a Reforma da Previdência que, defendem os governistas, apresenta um déficit superior a R$ 200 bilhões, a ala política corrupta espalhada por todo o Brasil, associada a empresários inescrupulosos assaltam a nação todos os dias, chegando algo em torno de R$ 200 bilhões por ano. Agora, desculpem, fica fácil fazer a conta fechar, basta a corrupção, os corruptos, os corruptores, os corrompidos, os inimigos do povo e do Brasil darem uma trégua. Basta só um ano sem corrupção e, como num passe de mágica, resolve-se o problema (se é que existe mesmo o tal de déficit) da previdência.

Todos os dias, rádio, jornais, TV, internet, todos os meios de comunicação dão conta de novas negociatas, mentiras, escândalos, trapaças. Até parece que nunca vai ter fim e o povo e o País pagando um preço muito alto, não apenas no sentido figurado, mas com a própria vida que se esvai na fila do SUS, na falta de vaga na creche e na escola, no alimento que não chega à mesa do trabalhador que pede, ou melhor, que clama: Senhores corruptos, troque um ano sem corrupção por uma solução. Aí sim, poderíamos escrever na história do Brasil, com orgulho, uma atitude valorosa da classe política brasileira.

Augusto Bernardo Cecílio

Augusto Bernardo Cecílio

* Auditor fiscal da Sefaz, coordena o Programa de Educação Fiscal no Amazonas.

Veja também
1 comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Nifa disse:

    Verdade. #umanosemcorrupção, Augusto usarei ao longo do ano na escola a qual sou professora!