EXCLUSIVO: Unimed está sob auditoria independente e novo presidente afirma que cumprirá acordos com fornecedores

Exclusivo: Unimed sob auditoria

EXCLUSIVO: Unimed sob auditoria da mesma empresa que auditou, com sucesso, cooperativa do Rio de Janeiro. Presidente Sérgio Ferreira (foto) promete cumprir acordos com fornecedores feitos por gestão interina

Uma auditoria independente, feita pela empresa BKR Internacional, está em curso na Unimed Manaus. É a mesma empresa que fez trabalho semelhante na Unimed do Rio de Janeiro. O novo presidente da diretoria executiva, médico anestesista Sérgio Ferreira Filho, 58, faz essa e outras revelações nessa entrevista. A empresa foi contratada pela diretoria interina e está auditando todos os contratos e gastos feitos nos últimos anos. “Eles vão apresentar os problemas e apontar soluções”, afirma Sérgio.

O dirigente do maior plano de saúde do Amazonas afirma que a diretoria empossada nesta quarta (10/01) vai cumprir os acordos da diretoria interina. Diversos deles toparam diminuir os valores das dívidas, em troca da promessa de pagamento em dia. “Só vai depender de a empresa ter os recursos para isso”, enfatiza.

Sérgio Ferreira Filho promete manter a rotina de plantões noturnos, como anestesista, no Hospital Maternidade Unimed (HMU). Mas acha que não encontrará tempo para dirigir o hospital Sagrat Cor, do qual é sócio. “Nesses primeiros dias não deu. Acho que lá vou só participar de reuniões de conselho. Aqui é tempo integral”, revela.

O novo presidente assume o lugar de Corina Viana, destituída pela assembleia geral, e Ramza Badr de Lima, que assumiu interinamente.

A Unimed está sob “direção fiscal” da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Pode, a qualquer momento, sofrer intervenção e alienação (venda) da carteira de clientes. Está impedida de vender novos planos de saúde. Em três meses, a partir de dezembro, terá que se adequar a uma série de normas, rigorosas, para voltar ao mercado.

Veja, a seguir, a íntegra da entrevista EXCLUSIVA de Sérgio Ferreira Filho ao Portal do Marcos Santos:

 

Portal do Marcos Santos – O senhor já assumiu e toma as primeiras providências. Quais foram elas? Como está sendo sua rotina?

Sérgio Ferreira Filho – Reuni as superintendências para saber o dia-a-dia, os relatórios, de cada uma. Estamos começando o trabalho.

 

pms.am – Há alguma coisa digna de nota que o senhor já tenha visto?

Sérgio – Não tem nem 48 horas que assumi. O espaço de tempo é muito curto. Não dá para ver as coisas ainda. Estamos chegando.

 

pms.am – Qual o caminho que a nova diretoria pretende seguir? Quais são seus planos?

Sérgio – O que temos que fazer, urgentemente, é a empresa atingir o ponto de equilíbrio entre receita e despesa. Isso é imediato. Temos que buscar em espaço de tempo muito curto esse objetivo.

 

pms.am – A diretoria interina fez uma série de acordos com fornecedores. A maioria se baseou na redução de valores devidos em troca da promessa de atualização dos pagamentos. Esses acordos serão cumpridos?

Sérgio – São acordos institucionais e não pessoais. Serão cumpridos sim. A gente espera que a empresa (Unimed) tenha capacidade financeira para cumprir. Ainda não tenho esses números, mas são acordos da empresa e não pessoais. Se a empresa tiver capacidade, todos serão cumpridos. Por isso que reafirmo: tem que haver uma redução de custo para receita e despesa estarem equilibrados. Aí a gente cumpre todos os acordos. Tanto internos, quanto externos.

 

pms.am – Havia uma informação de que o salário de diretor executivo da Unimed era de R$ 42 mil. É isso mesmo?

Sérgio – Desconheço. Não sei te dizer quanto foi pago, nem quanto será pago ao diretor. Não ouvi essa crítica em nenhum lugar. Na verdade, a presidente interina saiu por vontade própria. A presidente interina, ela e seus diretores, não tinham interesse em continuar. A anterior, doutora Corina, não sei quanto recebia. Esta saiu por causa do contexto geral da empresa, que vem com desempenho ruim de longa data. Os cooperados resolveram fazer uma mudança para tentar resolver o problema.

 

pms.am – Uma das críticas feitas à presidente Corina é que ela não atendia mais no consultório pela Unimed. O senhor é anestesista e dá plantão no HMU, na Constantino Nery. Vai continuar?

Sérgio – Pretendo continuar sim. Meu plantão é noturno e pretendo continuar desenvolvendo minha atividade profissional normalmente.

 

pms.am – E o hospital Sagrat Cor, onde o senhor é sócio?

Sérgio – Devo dizer que o Sagrat Cor não tem convênio com a Unimed desde dezembro. Não vamos realinhar. Por isso que digo: a direção anterior fez todo realinhamento, dentro da Unimed, para trazer os serviços para dentro. Fez uma verticalização da operação. Toda a internação está dentro da rede própria da Unimed. Essa foi uma estratégia para reduzir os custos. Parte do nosso desafio é implantar essa redução. Isso não será modificado.

 

pms.am – Como sócio, o senhor vai continuar dando expediente também lá no Sagrat Cor?

Sérgio – Não consegui fazer isso nesses primeiros dias. Tive imersão total aqui na Unimed. Talvez não consiga e apenas participe de reuniões de conselhos e diretorias. Não vou ficar à frente da operação no dia-a-dia. A Unimed absorve o tempo total. É uma empresa grande, que a gente precisa conhecer, apesar de ser médico e cooperado. Não tenho conhecimento de tudo.

 

pms.am – A Unimed Manaus está sob Direção Fiscal da ANS. Isso traz a possibilidade de intervenção e alienação de carteira, a qualquer momento. Como o senhor pretende enfrentar isso?

Sérgio – Isso é fato. Esse risco só vai deixar de existir quando a empresa sair da Direção Fiscal. E, para sair, tem que melhorar seu desempenho econômico-financeiro. Tem que melhorar os índices de notificações por insatisfação de usuários, relação com fornecedores, prestadores… É toda uma gama de situações que a empresa precisa resolver para sair da Direção Fiscal. Se os fatores não forem corrigidos, a agência entende que precisa do monitoramento. É um poder dela, como agência reguladora.

 

pms.am – O senhor imagina um prazo para que a Direção Fiscal cesse?

Sérgio – Muito cedo para responder. É só o que posso afirmar.

 

pms.am – Qual o tamanho da dívida da Unimed Manaus? Pouco mais de R$ 500 milhões, incluindo dívida tributária, e R$ 300 milhões de déficit?

Sérgio – É algo dessa magnitude sim.

 

pms.am – Parece que uma parte dos cooperados da Unimed não entendeu bem como funciona uma cooperativa: se der lucro, reparte o lucro, mas se for prejuízo também divide. É isso mesmo?

Sérgio – A empresa já vem com prejuízo há muitos anos. Isso não é novo. Não é de agora. O que houve foi a decisão administrativa, de cooperados, coletiva, no sentido de não dar esse tratamento que deveria ter sido dado. O de cobrar o prejuízo. Era implicar que o dono da empresa não ia receber nada. Isso já faz tempo.

 

pms.am – O médico que atender pela Unimed não recebe por esse atendimento?

Sérgio – Não é isso. O atendimento médico é um ato cooperativo e está previsto o pagamento. O médico tem que receber. O que não recebe são os dividendos. Se não tem lucro, ele não recebe. Se tem prejuízo, ele compartilha. Ao longo do tempo houve prejuízo e não foi dividido aos finais de exercícios. Foi ficando acumulado.

 

pms.am – E agora será dividido?

Sérgio – Vamos ver isso. A empresa trabalha com decisões coletivas. Em tempos outros, os cooperados não optaram por dividir o prejuízo. Agora é trabalhar com os donos. O correto é dividir. Lucro ou prejuízo. Ou então vai acumular prejuízo. A decisão, porém, é da Assembleia Geral.

 

pms.am – O nome da Chapa 1, a de vocês, é “Gestão profissional”. Isso significa que a Unimed deixará de ser dirigida pelos médicos cooperados e vai contratar profissionais com expertise no mercado?

Sérgio – A empresa já vem trabalhando nesse sentido. A Unimed Empreendimentos, a prestadora de serviços, já tem administrador específico em gestão. Tem CEO contratado especificamente para isso. Com tempo integral, dedicação exclusiva, para dar os direcionamentos que a empresa requer.

 

pms.am – A Unimed Manaus então é dividida em duas empresas?

Sérgio – Tem a Unimed Manaus que vende os planos, e a Unimed Manaus Empreendimentos, a prestadora de serviços, a dona dos hospitais.

 

pms.am – Vocês estão proibidos pela ANS de vender novos planos de saúde. Até quando vai isso? Como o senhor pretende sair dessa situação?

Sérgio – Na verdade é o seguinte: isso é comum no mercado de operadoras de saúde. Quando as reclamações ficam acima do índice permitido, a ANS tem a prerrogativa de suspender a comercialização do plano. Houve a recomendação para a Unimed Manaus. A empresa está, temporariamente, impedida de comercializar os planos. As medidas estão sendo tomadas e a avaliação, no entanto, só virá três meses depois. A contar do final de dezembro.

 

pms.am – O senhor pode, então, sintetizar seus planos?

Sérgio – Profissionalizar a gestão. Temos que focar bem nisso. Precisamos de bom nível de relacionamento com a Unimed Brasil. É ela que é nosso fiador do sistema junto à ANS. Sem essa parceria é praticamente impossível fugir da possibilidade de alienação (venda da carteira de clientes). Tem que manter a parceria forte e firme. Vamos trabalhar no programa da redução de custos. A empresa vem trabalhando com despesa infinitamente maior que receita. É isso que acarreta dívidas tributária e com fornecedores. É uma situação emergencial. Vamos manter o proprietário, cooperado, de forma transparente, bem informado das medidas e dos impactos dela. Para esses primeiros seis meses é o desafio que está posto.

 

pms.am – Ao longo da sua gestão, o senhor certamente vai se deparar com problemas de gestões anteriores. Alguns deles poderão até ser ilegalidades. Como o senhor pretende administrar isso? Vai cobrar o quinhão de cada um?

Sérgio – A empresa já está passando por auditoria. Quando assumimos, havia sido contratada uma auditoria externa. É totalmente independente. É empresa do RJ, com pessoas estranhas a todos nós. Estavam, quando cheguei, há uma semana auditando tudo, todos os contratos. Eles vão dar um diagnóstico que vai nortear nossa tomada de decisão. A auditoria vai apontar soluções. Serão informações seguras porque informações independentes. O processo está em curso.

PS: O Portal do Marcos Santos apurou que se trata da empresa BKR Internacional, que fez auditoria na Unimed do Rio de Janeiro. O trabalho deles foi bem aceito pela ANS e a empresa fluminense está se recuperando.

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