EXCLUSIVO: Sidney Leite fala sobre governo, alternativas, crise, outros secretários e faz revelações sobre o Estado

Sidney Leite fala sobre Governo

Sidney Leite fala sobre Governo, outros secretários, sojeiros e garimpo no Sul do Amazonas, produção rural, saúde e segurança

O agora ex-secretário estadual da Casa Civil, Sidney Leite, aceitou fazer um balanço sobre sua passagem pelo cargo. Assumiu como uma espécie de “braço direito” do governador Amazonino Mendes. Foi substituído pelo sub, José Pacífico. Ele disse ao Portal do Marcos Santos, nesta entrevista exclusiva, que o governo tem pouco tempo pela frente. Em março, a campanha da sucessão de Amazonino Mendes estará nas ruas e as coisas serão mais difíceis. O ex-secretário afirma que o Amazonas é hoje o Estado mais pobre do Norte. Faz comparações com o Pará, que passa incólume pela crise, e pede investimentos no setor primário.

Sidney Leite revela que 2 mil hectares de soja foram plantados experimentalmente em Humaitá. A chegada dos sojeiros, que dominam amplamente o Centro-Oeste do Brasil, é temida pelos ambientalistas. E eles chegaram. Revela também que 5 mil garimpeiros, pequenos e médios, escavam o fundo do rio Madeira em busca de ouro.

Veja estas e outras revelações na íntegra da entrevista:

Portal do Marcos Santos – Faça um balanço desses quase três meses à frente da Casa Civil do Governo do Estado:

Sidney Leite – Todo início de governo tem os processos de exoneração e nomeação. Mesmo assim buscamos à celeridade da burocracia na Casa Civil. E buscamos informações para facilitar as decisões do governador e instruir essas decisões. Trabalhamos a transversalidade no Governo. Levantamos dados relativos a contratos e possibilidades de redução da máquina pública. Fizemos a interface com os outros poderes, principalmente os Municípios. Mesmo sendo um governo que iniciou em outubro e já caminhando para o fim do ano. Pela excepcionalidade de como ocorreu a eleição, o governo tem pouco tempo. Em março, a eleição estará nas ruas.

 

pms.am – Dá para ter uma ideia do número de demissões e nomeações que ocorreram na gestão Amazonino?

Sidney – Ah foi bastante pessoas. De cabeça não tenho ideia.

 

pms.am – Houve muitas reclamações de padrinhos dos demitidos?

Sidney – Isso sempre tem.

 

pms.am – Por que houve casos de demora nas nomeações do secretariado?

Sidney – Porque os secretários são uma decisão que depende de escolha pessoal do governador. Isso demora mesmo.

 

pms.am – De fora do Governo há muita especulação sobre as razões das nomeações dos jovens secretários de Esporte e Cultura. Sabe por que Amazonino trocou Robério Braga por Denilson Novo (SEC) e Fabrício Lima por Janaína Chagas (Sejel)?

Sidney – Creio, não posso dizer que foi determinante, que ele pensou a cultura de uma outra forma.

 

pms.am – Mais popular?

Sidney – Exato. E acho que nada contra a figura do secretário Robério. Todos conhecem a competência e conhecimento dele. Mas o governador queria dar sangue novo, propor alguma coisa diferente.

 

pms.am – Pelo que você viu dentro do governo, até o momento ele está correspondendo?

Sidney – Sim. Mas ele assume num momento de extrema dificuldade. Assume com o Estado em déficit significativo. É só ver os números da segurança e da saúde, com secretários tendo que se adequar para atenderem à população. O momento não é simples.

 

pms.am – E Janaína Chagas?

Sidney – Creio também na escolha pessoal do governador.

 

pms.am – E a sua avaliação do desempenho dela?

Sidney – É uma pessoa que tem buscado, dentro da possibilidade de orçamento, corresponder à expectativa.

 

pms.am – A secretária-executiva nomeada por Janaína, Lilian Rodrigues Valente, já foi demitida. O professor Aly Almeida está de volta. Como ocorreu isso?

Sidney – Se houve foi uma coisa que não mexe com nada. Deve ser algum equívoco por parte da burocracia.

 

pms.am – Havia, dentro da Casa Civil, uma divisão com José Pacífico, que foi nomeado para a secretaria? Ele ficava com a parte legal e a sua era a política?

Sidney – Sim. Pacífico é uma pessoa que domina essa parte e sempre buscou ajudar e contribuir.

 

pms.am – Amazonino fez queixa pública de que não tinha o governo na mão. O que houve?

Sidney – O que há é que a máquina do Estado não é pequena. Você não domina do dia para a noite. O espaço é curto. O governo é curto. A partir de março começa a desencadear o processo eleitoral.

 

pms.am – O governador vai disputar a reeleição

Sidney – Há muita suposição. Só ele pode responder. Um dos motivos que me fez sair do governo é que, eu sim!, pretendo ser candidato. Preciso me organizar nesse sentido. É muito difícil acumular Casa Civil e Secretaria de Governo sendo pré-candidato.

 

pms.am – Você sai para deputado federal?

Sidney – Sim.

 

pms.am – Qual é, numa espécie de ‘balanço geral’, a situação do Estado do Amazonas?

Sidney – O Estado tem muita dificuldade financeira. Tem áreas que precisam fazer investimentos e buscar avançar. Destaco saúde e segurança, que precisam desse investimento do ponto de vista de ações urgentes. Mas eu entendo que dessa questão, da crise que se abateu no País e Manaus e o Amazonas sofrem mais, fica a lição. Há necessidade de investir em outras alternativas. Vamos pegar o Pará. Tem investido muito na questão mineral, turismo e setor primário. O Estado do Pará não passou nem perto da crise como nós. Temos um número significativo de desempregados em Manaus. A situação no interior não orgulha ninguém. Nós somos mais pobres do que todo o Norte e empatamos com Maranhão, Ceará e Alagoas.

 

pms.am – Por que não caminhar como Donald Trump, presidente dos EUA, e diminuir impostos? Melo aumentou o ICMS para 19% e até agora o governador não diminuiu.

Sidney – A questão passa mais pela construção de política tributária que seja boa para todos. Mesmo com os procedimentos que a Sefaz adotou, ao longo dos anos, com recebimento antecipado (a substituição tributária), há sonegação. Muita sonegação. A outra coisa é o seguinte: buscando essa visão da interiorização do desenvolvimento econômico, você pega a Samsung. Ela tem incentivos fiscais. Por que não temos incentivo para algumas atividades agrícolas, para incentivar a produção? Para cadeia produtiva que melhore a vida do interiorano e possa abastecer Manaus de produtos do Amazonas?

 

pms.am – Pegar uma AM-070 (Manaus-Manacapuru) e decidir que quem plantar mandioca terá apoio financeiro do Governo do Estado?

Sidney – Sim. Não dá mais para produzir como se produzia quando inauguraram o Encontro das Águas, queimando. Não é porque é pequeno produtor que não precisa de fomento. Tem que reduzir o impacto ambiental e melhorar a produtividade. Tem que melhorar a qualidade de vida de quem está produzindo.

 

pms.am – Seu sobrinho, o atual prefeito de Maués, Júnior Leite, foi acusado de superfaturar aluguel de aeronaves. Isso aconteceu agora, no período de festas de fim de ano. O que houve?

Sidney – Quando saiu isso na imprensa eu já estava em Manaus. Li na imprensa que foi feita uma Ata de Registro de Preços. O fato de fazer uma ata não significa que você vai usar toda a ata. O que eu li é que essa ata foi feita dando prioridade para tratamento fora de domicílio e com urgência. Mesmo a UTI aérea do Estado, da Susam, não cobre a demanda dos 61 Municípios. Têm vários casos de pessoas que precisam ser deslocadas com urgência para Manaus.

 

pms.am – Sua saída foi justificada com a necessidade de preparar a candidatura a deputado federal. O governador tem dito que quem for concorrer tem que sair. Quem mais deve deixar o secretariado ou demais cargos de confiança no Governo?

Sidney – Até agora, que eu vi, foi só João Campelo, candidato a deputado estadual, que volta para a Associação Amazonense dos Municípios. Ele era o presidente do Idam (Instituto de Desenvolvimento Agropecuário do Amazonas).

 

pms.am – E o secretário de Segurança e vice-governador Bosco Saraiva, não vai concorrer?

Sidney – Creio que sim. Mas essa é resposta que só quem pode dar é o governador.

 

pms.am – O seu período no governo deu uma visão ampla do que está acontecendo. O que é preciso fazer de mais urgente?

Sidney – Tem coisas que não são questões minhas, mas das ruas. Continuam os desafios. O governador já disse que as prioridades são saúde e segurança. E não é em Manaus. É no Estado. Tem que tomar medidas, investir muito para melhorar isso. Acho que os dois secretários têm condições de fazer esse grande trabalho, mas precisam de meios e investimentos. Entendo que esse investimento também deve ser voltado para o setor primário. Tem que começar a mecanizar no final do ano, preparando o solo. Já está em licitação a criação de duas áreas para zoneamento ecológico. A Calha do Madeira e do Baixo Amazonas, envolvendo todos os Municípios dessas áreas. Entendo, porém, que tem que se buscar recursos para isso.

 

pms.am – Quanto de recursos?

Sidney – Não são números exatos, mas algo em torno de R$ 15 milhões a R$ 16 milhões garante o trabalho. Isso nas áreas ambiental, primário, mineral e nos acordos de pesca. Há áreas com potencial para pesca esportiva, pesca industrial e turismo. Isso facilita as políticas públicas não só para o governo, mas para Município, União e iniciativa privada. A fronteira agrícola pulou para Roraima, mas o Amazonas também pode produzir em escala. Só em Humaitá há mais de 600 mil hectares de campos naturais. Este ano foram plantados 2 mil hectares de soja, nessa área, como experimento.

 

pms.am – Os sojeiros chegaram…

Sidney – Chegaram. Tem essa questão mineral. Só entre Novo Aripuanã, Manicoré e Humaitá, dentro do rio Madeira, há mais de 5 mil pessoas trabalhando no garimpo. O potencial nosso é muito grande. Precisamos tirar esse garimpeiro, seja pequeno ou médio, da situação em que está e trazê-lo para a legalidade. Tem que emitir nota fiscal do que consumir de combustível e outros insumos. Isso é bom para todos. Uma mulher que trabalha numa cozinha de casa, no interior, quando ganha R$ 400 por mês está ganhando muito. Uma cozinheira, numa balsinha dessas, ganha de R$ 1,5 mil a R$ 2 mil por mês. É isso que tem sustentado as economias desses Municípios.

 

pms.am – Houve, depois da sua saída, mas até durante a gestão na Casa Civil, algumas reclamações de embates com secretários. Alguns reclamam de muita dureza no tratamento. Como foi isso?

Sidney – Da minha parte não. Eu era só um secretário e tem um governador eleito. Se alguém tem reclamação a fazer é porque eu tinha que intermediar situações de contratos e pagamentos. Não era só na saúde e na segurança. Tem a determinação do governador de fazer corte. Sempre fiz tudo no diálogo, na conversa. O governador reuniu os secretários e deu a determinação dele nesse sentido. Tem secretário que tinha resistência em relação a isso. Alguém pode achar que era coisa da minha cabeça, mas resultava de conversa com o governador. Cada realidade é uma realidade, cada estrutura uma estrutura diferente.

 

pms.am – Já voltou à Assembleia Legislativa? Já reassumiu o mandato?

Sidney – Sim. Estou aqui.

 

pms.am – Como fica a situação do suplente Donmarques, que assumiu seu lugar e com sua volta perde a cadeira?

Sidney – Ele, nesse pouco tempo, demonstrou todo seu potencial. É inteligente, articulado, bom de tribuna. Tem condições de ser um grande parlamentar. Vamos trabalhar juntos, ele candidato a deputado estadual e eu a federal.

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3 comentários

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  1. Renê reis disse:

    Muito produtiva a entrevista, admiro vc deputado.

  2. Augusto César Santos Pantoja disse:

    Excelente entrevista. Revelou preparo e conhecimento.Já tem minha intenção de voto para a próxima eleição!

  3. Miguel Cordovil disse:

    Entrevista com conhecimento da realidade do Estado.
    Citou o turismo e produção agrícola como alternativas.
    Realmente os governos passados não deram a devida importância para essas atividades.
    Temos grandioso potencial turístico e áreas degradadas que podem ser recuperadas para produzir.
    Precisa sim de investimentos para incentivar os empresários.
    Quanto a sua intenção de candidatar-se a Dep. Federal, vejo com grande chance de sucesso.
    Parabens, Deputado Sidney Leite.