O Brasil tem jeito

Sim, o Brasil tem jeito sim. Mas, longe, muito longe de querer fazer uso do tal “jeitinho brasileiro”, que tanto envergonha (quem tem vergonha, é claro) a imagem do país internacionalmente. Ainda no século passado, nosso “Águia de Haia” já cunhava: “De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”. Até parece que Rui Barbosa construiu esse conceito sobre a política de hoje.

Em meio a tantas notícias dantescas, que beiram o cúmulo da insanidade e o escárnio humano, acompanhei a notícia dando conta que dois cariocas, um dia após o Natal, encontraram uma carteira cheia de dinheiro e devolveram ao dono, um turista argentino. Parecia até um presente de natal, dólares, euros, reais. Marcos e Marcelo Nascimento, dois moradores da favela da Rocinha, encontraram a carteira perdida no calçadão e se empenharam em encontrar o dono, embora dinheiro seja artigo de primeira necessidade na comunidade onde moram.

Quase R$ 10 mil não foram suficientes para que eles esquecessem a dignidade humana e só sossegaram quando percorreram os hotéis da orla e encontraram o dono. Além da alegria do dever cumprido, os dois receberam US$ 100 que vão usar para ajudar uma família cuja casa pegou fogo, na favela onde moram. Os dois puderam confirmar com uma frase o que falta nos poderes constituídos da nação, sem distinção: “Honestidade é obrigação”.

Pois é, honestidade é ingrediente sine qua non para qualquer tentativa de estancar essa sangria, esse estado tumoral que ataca a política brasileira. Lamentavelmente, ser honesto virou virtude escassa e, quando aparece logo ganha notoriedade, seja em qualquer âmbito. Nas semifinais do Campeonato Paulista desse ano, durante o jogo Corinthians e São Paulo, o zagueiro paulista Rodrigo Caio assumiu ter pisado na mão do goleiro Renan, inocentando o atacante Jô, do Corinthians, que havia levado cartão amarelo pela falta, na interpretação do árbitro. O cartão tiraria o atacante do próximo jogo, mas a honestidade do zagueiro fez com que o cartão fosse anulado. Pronto, a atitude do zagueiro foi assunto para a semana inteira, pois muitos acham que dentro de campo vale tudo, inclusive mentir e ser desonesto.

Tanto a honestidade, a honra, o respeito, a moral, os bons costumes, os valores humanos e éticos, a solidariedade, a educação cabem e devem estar sempre em todos os lugares. E devem fazer parte do dia-a-dia de qualquer trabalhador, seja deputado, senador, presidente, vereador, delegado, professor, taxista, feirante e/ou faxineiro, como aquele que encontrou uma pasta contendo US$ 10 mil, num banheiro do aeroporto de Brasília. Mesmo ganhando Salário Mínimo, não hesitou e usou o sistema de som para encontrar e devolver ao dono do dinheiro, um turista suíço. O poeta espanhol Miguel Cervantes pregava que “a honestidade é a melhor política”.

 

*Auditor fiscal e professor

 

 

Augusto Bernardo Cecílio

Augusto Bernardo Cecílio

* Auditor fiscal da Sefaz, coordena o Programa de Educação Fiscal no Amazonas.

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