Rastrear e apreender dinheiro de traficantes é meta do combate ao crime organizado em 2018

Em 2017, DRCO contabiliza 1 tonelada de drogas apreendidas e 30 armas de uso restrito. Departamento ainda indicou 140 pessoas envolvidas com crime organizado e prendeu outras 100. Foto: PMS

Com mais de 1 tonelada de drogas apreendidas em ações tendo à frente o Departamento de Repressão ao Crime Organizado (DRCO) da Polícia Civil, a repressão às organizações criminosas envolvidas com o tráfico de entorpecentes e de armas no Amazonas terá um novo foco em 2018.

Segundo o diretor do DRCO, delegado Guilherme Torres, 35, rastrear o dinheiro das organizações é o próximo passo. “Temos notícias de muita droga apreendida, mas o dinheiro não. Mesmo com a droga fora do mercado, o dinheiro continua abastecendo os grupos. Vamos atuar para rastrear esses volumes e buscar apreender”, falou o delegado, durante entrevista ao Portal Marcos Santos.

Inteligência

Fazendo um balanço de 2017, o DRCO fez o indiciamento de 140 pessoas e prendeu outras 100 envolvidas no crime organizado, além de 30 armas de calibre restrito. Na questão inteligência, o departamento ainda alimenta de informações e relatórios específicos os Distritos Policiais, atuando com as Policias Civil, Militar e Federal.

“Mapeamos as principais lideranças criminosas para entender o funcionamento das organizações. Há uma relação histórica entre os grupos e o sistema penitenciário. Não se pode dissociá-los do sistema prisional”, disse Torres.

Nos anos de 1970, no Rio de Janeiro, na famosa penitenciária conhecida como Caldeirão do Inferno, no final da Ditadura, houve uma junção entre presos políticos e comuns. Ali surgia a primeira organização criminosa de vulto do Brasil, o Comando Vermelho (CV).

Organizações do sistema

“Todas as organizações criminosas nasceram de dentro dos presídios, não vieram de fora. A FDN (Família do Norte) também surgiu dentro do sistema, criada em 2006, na cadeia pública Raimundo Vidal Pessoa. Os estatutos delas também surgiram dentro das prisões”, conta o diretor.

Hoje, o sistema penitenciário acaba sendo o berço das grandes quadrilhas, uma espécie de home office de criminosos.

Na década de 70 também foi instituída a taxa de 10%, que todos os membros do crime organizado devem pagar ao grupo para financiar do tráfico a fugas de presos.

Hoje, o Amazonas tem bem definidas e monitoradas três principais rotas de tráfico de drogas que usam os rios da região como estradas.

As rotas

Uma das mais antigas é a de Tabatinga, que passa pelas cidades de Maraã e Tefé, até chegar a capital. A outra rota é a do Japurá, que incluí os Municípios de Coari, Anamã e Itacoatiara; e tem a rota do rio Negro, descendo por Novo Airão. “As rotas podem aumentar conforme o período de vazante dos rios. E fenômenos nacionais e internacionais contribuíram para o crescimento”.

Guilherme Torres lembra que as Forças Armadas Revolucionárias Colombianas (Farcs) tinham pelo menos 7 mil soldados, que ao assinarem acordo de paz, foram desmobilizados, com exceção de dissidentes, que dão apoio ao narcotráfico.

“Na região do Japurá tem a Vila Bitencourt, com acesso ao rio Caquetá e à cidade colombiana de Cauca. Por esse trecho se chega às áreas dos históricos cartéis de Cali e de Medellin, e a região e o clima são propícios para as criações de maconha do tipo skunk”. As maiores apreensões de skunk do ano foram na rota do Japurá.

O delegado lembra que os Estados Unidos ainda reforçaram a fronteira no setor, evitando que a droga colombiana entre pelo México. A alternativa dos traficantes é descer pelo Japurá, até Manaus, de onde é distribuída para a Europa e o resto do Brasil.

Perfil

Destacando a equipe excelente que tem e o trabalho de inteligência, o delegado Guilherme Torres ingressou na Polícia Civil do Amazonas em 2014, por meio de concurso público. Bacharel em Direito pela Universidade Nilton Lins, Guilherme Torres é pós-graduado em Direito Penal e Processo Penal pela Universidade Cândido Mendes, ele foi professor universitário no curso de Direito.

Autor do livro “Prisões cautelares: um estudo esquematizado”, ele está escrevendo um segundo título a partir do trabalho e pesquisa com interceptações telefônicas, ainda sem data para lançamento.

O diretor já trabalhou como delegado em Novo Airão e Urucará, e integrou o quadro de servidores da Estratégia Estadual de Segurança Pública na Fronteira (Esfron), em Tabatinga. “Coloco diante de Deus a missão e espero poder honrar os meus superiores que me confiaram essa tarefa”.

Atuação de forças de segurança integrada e de setores de inteligência é fundamental para o combate ao crime organizado

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