Morre Careca, fundador do Movimento Marujada, símbolo da alegria parintinense

Morre Careca, um símbolo parintinense

Com o artista plástico Edemberg Jr. e o ex-presidente da Câmara de Parintins, Henrique Medeiros, e esposa, Francis, a marca sempre presente: a alegria. Mesmo na UTI, onde as fotos foram registradas

Tomara que seja verdade que a alegria é um sentimento e não um indivíduo. Queira Deus. Porque o Careca, que personificava a alegria, já não está entre nós. Faleceu, manhã de hoje (01/12), no hospital Francisca Mendes, após semanas na UTI do 28 de Agosto. Vítima de um enfisema pulmonar e problemas cardíacos.

João do Carmo Oliveira de Jesus, o Careca, era aquele cara que quando se aproximava da gente já vinha sorrindo. Não. Melhor. Na maioria das vezes vinha gargalhando.

Careca tinha um círculo de amizade vastíssimo porque, chegasse perto dele, virava amigo.

 

Careca, o funcionário do Ibama

Funcionário do Ibama, desde tempos imemoriais (ele gargalharia e diria: “Seu péssimo!”), trabalhou intensamente para tornar real e organizado o Parque Nacional do Jaú.

Fazia contatos internacionais, com a mesma facilidade com que organizava uma fila de índios no Caprichoso, seu boi (nosso) de coração. Trouxe, quando ainda dirigia o Jaú, ornitólogos suíços para ver “um pássaro estranho”, endêmico nas campinas do local. Tratava-se de um símbolo daquele país, que todos julgavam extinto.

 

Movimento Marujada

Como surgiu o Movimento Marujada? Em síntese, todos os parintinenses se reuniram em torno de alguns poucos integrantes da colônia em Manaus. Careca no centro. Mas dizer isso é pouco: ele comprava gelo, cerveja, refrigerante, água, corria para organizar o estacionamento, o som… E todos íamos atrás, encontrando, naquela energia, combustível para extravasar a paixão pelo Boi Bumbá e a saudade da terrinha.

 

Rolos de histórias

Histórias dele? Basta ver as fotos que ilustram esta página. Na UTI, cheio de aparelhos, recebia os amigos sorrindo, brincando, pleno de vida.

Tem algumas história, porém, que não dá para deixar de contar.

O Caprichoso estava de apresentador novo, estreando Jair Mendes como artista, cheio de surpresas. De repente, um sujeito todo esfarrapado, sujo, visivelmente bêbado, entra na arena do Bumbódromo, ainda de madeira. O boi estava se apresentando. Aí o apresentador grita: “Quem é esse cara? O que ele está fazendo aí? Tira ele aí do meio, pessoal!”. Careca não contou conversa: deu um pique e se jogou no meio do cara, empurrando-o para fora da arena. Só que aquela era uma das surpresas. Deu um duro danado para tirar o figurante das mãos do Careca e devolvê-lo à encenação. Um gavião real, fruto da magia de Jair e companhia, surgiria do ar e arrastaria o sujeito.

Careca contava isso se espocando de rir.

 

A ‘surpresa’ de aniversário

Com a turma do Movimento Marujada, ele preparou uma surpresa de aniversário para uma grande amiga. Ligou para todo o enorme círculo de amizade dela e combinou que ninguém ligaria no dia. Todos fingiriam não lembrar da efeméride para apimentar a surpresa.

Juntaram churrasqueira, filé mignon e tambaqui, caixas e caixas de gelo com bebida, banda Azul e Branco, som, balões etc. Chegaram à casa da homenageada 20h. Estava tudo fechado e ela já recolhida. Montaram tudo em instantes e então bateram na porta. Ela perguntou lá de dentro: “Quem é?” E ele: “Sou eu, Careca”. “Pode ir embora, respondeu ela, não quero falar com ninguém”. E não abriu a porta de jeito nenhum.

Cantaram parabéns, fizeram tudo quanto é barulho e não adiantou. Foram para a casa ao lado, do irmão dela, e fizeram a festa para ela. Sem ela. Até de manhã.

 

Belém trocada por Manaus

Careca montou vários movimentos. Um deles foi o de uma geração de parintinenses que veio para Manaus. Isso trouxe divisor de águas entre quem ia para Belém, Meca parintinense até então, e os que vieram para Manaus. Mudou o rumo da cidade, que aí se tornou mais amazonense, embora tenha orgulho da tradição paraense que a cerca. A presença dele trazia a certeza de que os dias no “exílio” da capital não seriam tão tristes.

 

Morre Careca, a alegria em pessoa

Foi uma surpresa para todos, hoje, quando Careca se foi. Não quis vê-lo na UTI. Ainda doem muito as feridas da partida de minha mãe. E aquilo não tinha nada a ver com o Careca.

O Caprichoso emitiu nota de pesar. Disse que partiu “o marujeiro mais alegre”. Ele gostava mesmo de sair na Marujada de Guerra. Mas era muito mais que isso. Foi o parintinense mais contagiante, radiante, expansivo, altaneiro, altruísta, amigo – sobretudo amigo -, que se possa imaginar.

Alegria é um sentimento. Ele se chama Careca. E vai ficar para sempre no meio de nós.

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1 comentário

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  1. Anselmo Maciel disse:

    Vizinho, deixo aqui o meu profundo pesaer pela do nosso Careca. Menino capeta que não se deixava contrariar, mas que tinha um coração grande e alegre. O azul é se manto. Saudades eternas.