Psiquiatras, inclusive do Amazonas, se unem contra cenas de novela da Rede Globo

As cenas exibidas na novela “O Outro Lado do Paraíso”, da Rede Globo, foram repudiadas pela Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (Abrata).

Vários médicos psiquiatras que atuam no Amazonas disseram ao Portal do Marcos Santos que assinam embaixo da nota de repúdio às cenas exibidas na novela “O Outro Lado do Paraíso”, da Rede Globo, divulgada pela Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (Abrata) nesta quinta-feira (23/11).

A nota diz que as cenas da novela, veiculadas no dia 21/11, trazem uma “narrativa estigmatizante e preconceituosa para com as pessoas que apresentam transtornos mentais e para com aqueles que deles cuidam e tratam”.

Nota de repúdio

Leia a íntegra da nota:

A ABRATA vem a público manifestar seu profundo repúdio às cenas exibidas na novela “O Outro Lado do Paraíso”, no dia 21/11/17, produzida e veiculada pela Rede Globo. Nestas, transparece uma narrativa estigmatizante e preconceituosa para com as pessoas que apresentam transtornos mentais e para com aqueles que deles cuidam e tratam. Com base no total desconhecimento e desinformação, mostram de forma desvirtuada o uso da Eletroconvulsoterapia – ECT, “procedimento médico seguro e indicado para tratamento de transtornos psiquiátricos graves que põem em risco a integridade do paciente, que não tenham respondido aos medicamentos psiquiátricos, e da Eletrocardioversão usada na cardiologia para salvar vidas,” segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria/ABP.

Apresentam o personagem protagonista supostamente com um transtorno mental grave, com atendimento psiquiátrico inadequado que contradizem todas as evidencias médicas. Mostram o hospital psiquiátrico como um hospício – como se o hospital psiquiátrico, à semelhança de qualquer instituição de saúde, não fosse um local para tratamento – e direcionam a população brasileira para negar tratamento psiquiátrico às pessoas que realmente têm uma doença mental. Induzem ainda, as pessoas que apresentam a doença à negação do tratamento, seja medicamentoso ou buscar a internação nos momentos de crise grave. A desassistência psiquiátrica no Brasil já é muito grande e não necessita deste desserviço em rede nacional.

Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), os transtornos mentais atingem cerca de 700 milhões de pessoas no mundo, representando 13% do total de todas as doenças. Estima-se que a prevalência global do transtorno bipolar seja entre 1 e 2%, sendo citado que podem ser tão elevados quanto 5% e, é a 6a principal causa de incapacidade em todo o mundo.

Lamentavelmente, esse cenário apresentando pela Rede Globo somente provoca mais prejuízos e desinformação à população e ainda descontrói todas as iniciativas de informar e educar a sociedade sobre a natureza dos transtornos mentais, de apoiar psicossocialmente e melhorar a qualidade de vida das pessoas com transtornos mentais e de seus familiares, desenvolvidas pela ABRATA, por meio do trabalho voluntário, nestes seus 18 anos de atividades. Juntamente com as demais associações de saúde mental do país, vimos lutando bravamente para mudar o cenário em relação à saúde mental e fazer valer o que preconiza a Constituição Brasileira: “Promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, gênero, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação com o objetivo fundamental da República Federativa do Brasil.” (art. 30, IV)

 A exibição das cenas que estimulam o preconceito agravando o estigma contra os tratamentos psiquiátricos, veiculados pela Rede Globo não condizem com as campanhas promovidas pela emissora contra a discriminação, a favor da diversidade nas suas várias formas e áreas da sociedade ecom as entrevistas com médicos psiquiatras veiculadas em seus programas semanais que visam dar informações sobre os transtornos mentais e a importância dos tratamentos.

Como representantes de mais de 6.000 associados, de pessoas com transtorno bipolar e depressão e seus familiares e mais de 3 milhões de pessoas que acessam a sua rede digital a ABRATA manifesta o seu profundo inconformismo às cenas veiculadas, que descaracterizam o tratamento psiquiátrico, o médico psiquiatra, o procedimento médico, além de prestar um desserviço à população, estimulando o preconceito e o estigma relacionados às doenças mentais e às pessoas com doença mental.

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2 comentários

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  1. Erenilde disse:

    Tenho filho doente . Ele é tratado com medicamento. É refratário . Mas jamais o submeteria a tratamentos que pusesse em risco sua vida. Ele vive em nossa casa . Tem seu cantinho . Tratamoscom carinho e respeito.

  2. Kpoliveira disse:

    Na minha família temos casos de depressão e transtorno bipolar. Minha mãe se matou em 1996, por causa do transtorno bipolar. Ela tinha muito preconceito ao tratamento. Eu acabei herdando o transtorno depressivo maior. Tem vinte anos que trato dessa doença. Levo uma vida normal. Chamo atenção a gravidade do preconceito. Devemos lutar contra isso. Meu total apoio.