Racismo é crime!

Jamais me esquecerei da cena em que uma torcedora gremista destilava todo o seu veneno em cima do goleiro Aranha, numa partida de futebol transmitida ao vivo. Também é inconcebível que em pleno século 21 o Brasil ainda mantenha em suas terras a discriminação e a ideia da supremacia racial. Justo o Brasil, que é fruto de enorme miscigenação e que tem nisso uma imensa riqueza.

Justamente o Brasil, que almeja voos mais altos diante da comunidade internacional, dá mostras de que aqui existe – de forma latente ou até mesmo escancarada – aquele pensamento de segregação de seres humanos e a ideia de considerar uma determinada raça como superior ou inferior, talvez fruto da época colonial e escravocrata estabelecida pelos colonizadores.

O caráter não oficial do racismo brasileiro certamente mascara esse comportamento condenável, mas diariamente temos práticas de discriminação nos esportes, no trânsito, nas piadinhas de mau gosto, nas escolas, enfim, de tudo que é jeito.

No momento em que o IBGE nos mostra que somos compostos de 54% de negros ou pardos (afrodescendentes), e que nos faz ser o segundo país mais negro depois da Nigéria, o mesmo não se reflete nas escolas e universidades, na política, nos salários e nos empregos, o que é muito preocupante para um país que discursa o combate às desigualdades sociais, principalmente nas eleições. E que fica só no discurso.

As desigualdades são mostradas em números. Além de morrerem mais cedo, os negros são infinitamente menos representados, como nos mostra a Revista Veja dessa semana. Na Câmara dos Deputados, apenas 20,1%; no Senado, somente 18,5%; nas prefeituras, apenas 29%; 22,2% nos governos estaduais e 15,4% nos tribunais estaduais e federais. Somente para as coisas ruins eles são maioria: na população carcerária e na quantidade de pessoas vitimadas pela violência.

O Mapa da Violência mostra que enquanto o homicídio de mulheres negras cresceu 54,2% entre 2003 e 2013, o de mulheres brancas caiu 9,8%. Além disso, a mulher negra também experimenta com maior intensidade a violência contra seus filhos, irmãos e companheiros. Em 2012, por exemplo, dos cerca de 30 mil jovens entre 15 e 29 anos assassinados no Brasil, 93% são homens e 77% são negros.

Por outro lado, pipocam péssimos exemplos, tais como o do apresentador de uma emissora de TV gravado sem saber, que no ar bancava o politicamente correto. Vimos, também, a situação do rapaz negro que fugia de um assalto e tentou se refugiar num terminal de ônibus em São Paulo. Além de não receber ajuda, ainda foi agredido violentamente, enquanto que os verdadeiros ladrões ficaram livres.

Apesar de existir o Dia da Consciência Negra, urge a necessidade de se praticar nos 365 dias do ano uma profunda reflexão acerca do tema, dada a relevância, a urgência social e a necessidade de se discutir políticas públicas inclusivas, bem como focar na educação para que esta atinja os seus objetivos, que avance para cima da falta de informação e de conhecimento, pois a ignorância é realmente um fardo difícil de se carregar quando se combate a discriminação racial.

Quando a piauiense Monalysa Alcântara ganhou o Miss Brasil 2017 foi alvo de terríveis e ridículos ataques racistas nas redes sociais. Foi duplamente difícil para os preconceituosos ver uma nordestina e negra ganhar o título de mais bela mulher brasileira.

 

*Auditor fiscal e professor

Augusto Bernardo Cecílio

Augusto Bernardo Cecílio

* Auditor fiscal da Sefaz, coordena o Programa de Educação Fiscal no Amazonas.

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