FVS-AM tem 15 dias, a partir de terça, para determinar se morto do rio Unini teve raiva de origem animal

Unini é parte de reserva piscosa e com atividade extrativista em crescimento

Comunitários do rio Unini reunidos. Foto: FaceBook Reserva Extrativista do Rio Unini, Amazonas, Brasil

Autoridades de saúde do Amazonas reagiram à morte de Lucas Castro, 17, no rio Unini, em Barcelos (AM). Ele, a irmã de 10 anos, hospitalizada em estado grave, e outro comunitário de 40 anos, foram mordidos por morcegos. Neste domingo (19/11), por volta das 15h, técnicos da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS) chegaram a Barcelos. Vão vacinar cães e gatos e capturar morcegos hematófagos, ou seja, que se alimentam de sangue.

Infectologistas, como Antonio Magela, da Fundação de Medicina Tropical Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), trabalham com raiva humana como primeira hipótese. “Mas a Floresta Amazônica é o maior reservatório de arbovírus transmitidos por insetos. Temos que pensar em todos que podem causar encefalite”, disse o infectologista.

O protocolo do Ministério da Saúde determina 15 dias para que a Secretaria Estadual de Saúde (Susam) dê o diagnóstico.

Veja a íntegra do release enviado à imprensa pela Susam:

FVS-AM monta estratégia para investigar casos de encefalite viral no rio Unini, em Barcelos

Equipe de vigilância ambiental viajou neste domingo, dia 19, para o município, que fica a 401 quilômetros de Manaus

A Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM), órgão vinculado à Secretaria de Estado da Saúde (Susam), já está com equipes a caminho do município de Barcelos, a 401 quilômetros de Manaus, onde irá investigar os três casos de encefalite viral que ocorreram na comunidade de Tapira, no rio Unini. Neste domingo, dia 19, a equipe se deslocou para Barcelos para juntar-se aos profissionais de saúde do município. A previsão da chegada é por volta das 15h.

Complementação

Em Manaus, uma outra equipe, coordenada pela diretora técnica da instituição, Rosemary Costa Pinto, e formada por técnicos  do Centro de Informações Estratégicas de Saúde (CIEVS/FVS-AM), do Centro de Referência de Imunobiológicos Especiais (CRIE/FMT-HVD) e Laboratório Central de Saúde Pública (LACEN/FVS-AM), trabalha as estratégias complementares e de apoio à investigação de campo. “Estamos com toda nossa equipe mobilizada. Nossa missão é atuar em cima dos resultados coletados na localidade, principalmente focando na busca de novos casos, na prevenção e profilaxia”, informa Rosemary.

Um dos pacientes, de 17 anos, faleceu na quinta-feira (16/11), no Pronto Socorro 28 de Agosto, em Manaus. Uma criança de 10 anos, do sexo feminino, irmã do paciente que foi a óbito, e um homem de 44 anos, da mesma comunidade, estão internados na Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), desde sexta-feira, dia 17.

Infectologista Antonio Magela

De acordo com o médico infectologista da FMT-HVD, Antonio Magela, o estado dos pacientes não apresentou evolução nas últimas 24 horas. “O estado da menina é grave. Ela está em coma, mas estável, ou seja, não houve evolução dos sintomas. Já o homem está lúcido, orientado, também sem apresentar alterações de quadro clínico desde que chegou”, disse.

Segundo Magela, ainda é cedo para apontar as causas da infecção apresentada pelos pacientes. Uma das hipóteses é para a raiva humana, com base na evolução dos sintomas e o histórico dos pacientes para mordida de morcego, mas a investigação trabalha com outras hipóteses de infecção por arbovirus comuns em área de floresta.

“A investigação não está focada só na raiva, estamos fazendo uma abordagem de uma encefalite viral e algum vírus que aparecer vai ser identificado através dos exames. Como a floresta amazônica é o maior reservatório de arbovirus transmitidos por insetos, então tem que se pensar em todo vírus que possa causar o mesmo quadro clínico de encefalite”, revelou Magela.

Amostras

Foram coletadas amostras biológicas dos três pacientes – sangue, saliva e liquor. O material está sendo enviado para o Instituto Evandro Chagas, em Belém (PA), que é o laboratório credenciado pelo Ministério da Saúde, na região Norte e, posteriormente, será feito diagnóstico molecular no Instituto Pasteur, em São Paulo, com previsão de resultados em 20 dias.

“Só poderemos falar em raiva depois que tivermos os resultados dos exames e não podemos descartar outras causas de encefalite. Diante de um paciente com uma encefalite rapidamente progressiva, inclusive evoluindo para óbito, no caso do adolescente, e que tenha história prévia de contato com morcego, a primeira hipótese é a raiva. Mas a confirmação somente será possível quando tivermos em mãos o resultado dos exames de laboratório, que são muito específicos, complexos e demandam tempo para conclusão. Não esperamos, porém, o resultado para tratar o paciente”, esclareceu o infectologista.

O trabalho da FVS-AM na reserva será focado na investigação, busca ativa de novos casos, profilaxia com vacinação e soro para quem foi agredido por morcego. Além de vacinação de cães e gatos, captura e controle dos morcegos hematófagos e de animais domésticos suspeitos, coleta de amostras e ações de educação em saúde.

Foram disponibilizadas para o município cerca de 750 doses de soroterápicos, incluindo 250 vacinas antirrábicas humanas, 250 vacinas antirrábicas caninas e 250 soros antirrábicos, além de 100 mosquiteiros impregnados e 200 frascos de repelentes.

Monitoramento sistemático

Desde o ano de 2002, a gerência de zoonose da FVS-AM realiza o monitoramento de raiva silvestre com captura seletiva de morcegos hematófagos em 37 municípios do Estado, onde são notificadas agressões humanas por espécie de animais. De 2002 a 2016, foram registradas 766 notificações de agressão em humanos por morcegos. Até o presente momento, não há positividade do vírus rábico nos morcegos capturados.

Em setembro de  2016, a FVS-AM, em conjunto com a equipe de zoonose de Semsa-Barcelos, realizou  as atividades na calha do rio Unini, incluindo a comunidade de Tapira. Na ocasião, foram coletados morcegos, sem positividade para o vírus da raiva e realizados tratamentos por meio de pasta vampiricida para o controle da população de quirópteros hematófagos (Desmodus rotundus), além de ações de orientação aos moradores e medidas educativas. Foi feita ainda a vacinação de 100% de cães e gatos encontrados na comunidade. Em fevereiro de 2017, a equipe da FVS-AM, juntamente com a Semsa-Barcelos, retornou à área e visitou às comunidades de Largos da Pedras e Patauá.

Abastecimento

Para a profilaxia da raiva humana, a FVS-AM abastece as secretarias municipais de saúde para o atendimento dos pacientes agredidos, capacita os profissionais de saúde para o atendimento a esses pacientes, sendo de responsabilidade dos municípios o regaste, encaminhamento e acompanhamento dos mesmos ao tratamento preventivo contra a raiva, principalmente, em caso de agressões por morcegos hematófagos.

A FVS-AM também é responsável pela realização de treinamento das secretarias municipais de saúde e atua de forma complementar, auxiliando os municípios nas ações de controle e prevenção. No período de 21 a 24 de novembro, está programado um treinamento de prevenção da raiva humana para profissionais de saúde de 15 municípios prioritários.

 

Protocolo Ministério da Saúde

O protocolo do Ministério da Saúde não prevê programa de vacinação antirrábica para a população em geral. A partir do momento em que a pessoa é agredida por animais domésticos, silvestres ou por morcegos, o Ministério da Saúde recomenda o atendimento em Unidade Básica de Saúde para a realização do esquema soro vacinal profilático, sob responsabilidade das secretarias municipais de saúde.

Também é importante vacinar cães, gatos e outros animais domésticos durante as campanhas contra a raiva animal, que são realizadas anualmente nas áreas urbanas e rurais dos municípios. Se o animal estiver imune, não poderá infectar a população. No caso de animais silvestres, como os morcegos, também não é possível realizar vacinação.

Municípios atendidos

O Programa de Imunização Estadual da FVS-AM (PNI-AM) dispensa de forma rotineira as vacinas e soros antirrábicas e humanas, de acordo com as necessidades definidas pelos PNI’s municipais. Todos os pedidos dos municípios foram atendidos, sendo de responsabilidades das secretarias municipais de saúde, tanto a vacinação em humanos quanto em animais.

Em 2016, a meta era vacinar 4.272 cães e 1.510 gatos estimados no município de Barcelos. Desses, foram vacinados 105%. Em 2017, a meta é vacinar 4.272 cães e 1.592 gatos, até o final de novembro de 2017. A campanha de vacinação no rio Unini ainda se encontra em curso.

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