Influência de milícia e tráfico nas eleições 2018 preocupa governo e Judiciário. FDN já tentou eleger políticos no AM

A menos de 1 ano para as eleições, o governo mostra preocupação com influência e interferência do crime organizado no processo, além de possível infiltração de políticos ligados a facções nos poderes. Foto: Divulgação TSE

Da Redação e Agência Brasil

A menos de um ano para as eleições que escolherão o presidente da República, governadores, senadores e deputados, o governo esboça preocupação com a influência do crime organizado no processo e com a possível infiltração de políticos ligados a esses grupos nos Poderes Executivo e Legislativo.

A possibilidade de que criminosos possam ter participação nas esferas de decisão nacional e local levou integrantes do Governo Federal e do Judiciário a se reunirem em busca de soluções para barrar essa articulação. O Amazonas é um dos Estados que está na mira da investigação pelo risco de ter crime organizado infiltrado na política. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) acionou órgãos de inteligência para coibir a iniciativa de criminosos.

No Estado, a terceira maior facção criminosa do País, a Família do Norte (FDN), que tem entre seus líderes o narcotraficante João Pinto Carioca, o “João Branco”, em 2016 planejava eleger prefeitos e vereadores, segundo denúncias do Ministério Público Federal (MPF) feitas a partir de investigações da Polícia Federal. Segundo a investigação, a facção movimentou milhões em contas de laranjas, comprou armas das Forças Revolucionárias da Colômbia (Farc) e fechou aliança com o Comando Vermelho (CV).

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Gilmar Mendes, e o ministro da Defesa, Raul Jungmann, se encontraram para discutir o assunto. Para a próxima semana, há a expectativa de uma nova reunião com a participação dos ministros da Justiça e Cidadania, Torquato Jardim, e do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Sergio Etchegoyen, bem como de representantes da Polícia Federal, Receita Federal e Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

“É uma medida preventiva e absolutamente necessária dada a constatação pelo próprio TSE de que aproximadamente 10% dos eleitores, pelo menos do Rio de Janeiro, estariam sem condições de exercer livremente os seus direitos constitucionais e também de que o crime vem financiando uma representação para os parlamentos sejam eles, municipais, estaduais ou federais”, disse o ministro da Defesa.

Para Jungmann, o envolvimento do crime no processo eleitoral é preocupante porque além de impedir a campanha de candidatos que não sejam apoiados por traficantes e milicianos, representantes ligados a organizações criminosas acabarão sendo eleitos.

“Evidentemente que se elegendo eles vão participar da disputa dos cargos que vemos no Brasil, que é essa má prática de loteamento de cargos que acontece depois das eleições. Eles vão participar e poder indicar representantes ou aliados em cargos que tomam decisão do próprio aparelho do Estado, ou seja, das próprias instituições, o que eu chamo o coração das trevas”, disse à Agência Brasil.

Na visão do ministro, a intenção do crime ao interferir no processo eleitoral é influenciar decisões nas instituições públicas e participar da partilha dos cargos. “Isso vai permitir indicar gerentes, diretores, chefes de área, eventualmente, até cargos na área policial e isso é o que de pior pode existir. As forças de segurança são o núcleo mais duro e mais indevassável que o Estado e as instituições têm, se eles chegam até lá, o crime se infiltra dentro das próprias forças da ordem e da segurança o que obviamente é trágico”, disse.

Preocupação

A preocupação da Justiça Eleitoral é com as eleições em todo o Brasil, mas no primeiro semestre primeiro semestre já encaminhou à Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e para a Polícia Federal um relatório com base na disputa de 2016 no Rio em que aponta a influência de facções criminosas e milícias em 19 zonas eleitorais de sete cidades, incluindo a capital. O crime, porém, já esticou seus tentáculos para São Paulo, Amazonas e Maranhão.

O temor da Justiça Eleitoral é que a restrição do financiamento eleitoral ao fundo público aprovado pelo Congresso e a doações de pessoas físicas criem condições adicionais para que o crime organizado financie candidaturas ou para que seus integrantes disputem cargos diretamente.

Na avaliação do TSE, o crime pode se tornar o provedor de caixa dois das candidaturas. Parte dessa crença vem das auditorias sobre as doações da eleição municipal. Das 730 mil doações, 300 mil apresentaram problemas junto à Receita Federal porque os doadores não tinham renda compatível para doações.

La Muralha

No Amazonas, os vestígios de crime na política foram localizados na Operação La Muralha, que investigava o tráfico de drogas, e levou à prisão o ex-vereador de Tonantins, Radson Alves de Souza.

Ele fazia parte de um grupo de Tabatinga (AM), que cedia suas contas bancárias para fornecedores de drogas da fronteira do Brasil com a Colômbia lavarem dinheiro. Souza recebia 4% de todos os valores que passavam por suas contas. Ao todo, ele movimentou R$ 1,8 milhão, mais de R$ 820 mil somente em 2015, ano da investigação.

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