Temer, unanimidade nacional

Na melhor das hipóteses, sem aqui fazer palanque político, chegamos à conclusão que trocamos seis por meia dúzia. Não, pior, seis por cinco, ao nos deparar com a recente pesquisa produzida pelo Datafolha, que revelou o assombroso 73% de rejeição ao presidente Temer. Ou seja, 2/3 da população brasileira considera a administração do paulista, natural da cidade de Tietê, ruim ou péssima, batendo o recorde de rejeição que pertencia à ex-presidente Dilma, sua colega de chapa na última disputa pela presidência da república.

Os números, além de espanto e preocupação causam, em grande maioria dos eleitores, repulsa e indignação com a classe política brasileira. No mural dos presidentes da República Federativa do Brasil, Michel Miguel Elias Temer Lulia figura, até o momento, como campeão, primeiríssimo lugar, o mais reprovado presidente desde o fim do governo militar.

Dilma Rousseff e José Sarney, detentores de recordes negativos em aprovação popular, foram desbancados de uma só vez por Temer, que usa e abusa de medidas nada republicanas e, consideradas por muitos especialistas, uma afronta às leis e à ordem nacional, com a escancarada compra de apoio entre os congressistas. Em troca do necessário apoio que livra o presidente do iminente cadafalso, esdrúxulas liberações de verbas públicas custeando projetos parlamentares de nenhum ou duvidoso gosto e necessidade pública.

Enquanto Temer usa a mídia e suas viagens internacionais para pintar um diferente quadro sobre a realidade brasileira, o seu mais fiel retrato aponta que apenas 5% dos brasileiros consideram seu governo bom ou ótimo (o Ibope aponta apenas 3%). Isso, nada mais é que os reflexos da falta de investimentos na educação, da precariedade assustadora no SUS, da violência que campeia o Brasil, só para apontar apenas três dos inúmeros problemas que ele insiste em não debater, talvez  por estar muito ocupado atendendo “republicanamente” seus “colaboradores”, que deveriam estar do lado oposto, do lado da população, que mais sofre com o descaso político e que paga toda essa despesa.

Nem Dilma Rousseff, quando amargou uma taxa de 71% de impopularidade, em agosto de 2015, fez uso de medidas nada convencionais para se assegurar viva no poder. A toque de caixa vai-se esvaindo o dinheiro público e, num ritmo desigual, crescem as máculas, as feridas nas mais diversas áreas da sociedade brasileira. O remédio, se depender dos três poderes da nação, sem o menor pessimismo, não dá o menor sinal que vai chegar a tempo de estancar esta latente sangria.

Enquanto falta transparência no congresso mais caro e mais improdutivo do mundo, Temer faz questão de não esconder sua sanha para manter-se no poder, o que vem causando verdadeiro e inevitável desgaste às instituições de controle externo.

Embora tudo isso aconteça às claras, de conhecimento público, as manifestações públicas tornaram-se cada vez mais escassas, os panelaços, as passeatas e buzinaços se recolheram, enquanto alguns movimentos até cogitam para uma saída através de intervenção militar, com uma nova estrutura de poder e limites de atuação.

Com uma efetiva participação popular, onde reine a solidariedade, a organicidade e a vontade de construir verdadeiramente um país soberano, produtivo e livre desse tumor maligno chamado de “jeitinho brasileiro” onde cada um só pensa no seu próprio umbigo, sim, podemos mudar. Podemos trocar, pelo menos, seis por sete e voltar a ter Ordem e Progresso.

 

Augusto Bernardo Cecílio

Augusto Bernardo Cecílio

* Auditor fiscal da Sefaz, coordena o Programa de Educação Fiscal no Amazonas.

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