Contradições, roubos e reformas

A Polícia Federal encontrou mais uma enorme quantidade de dinheiro num apartamento em Salvador. Caixas e malas com milhares de reais servem para mostrar ao povo sofrido o que fazem os poderosos donos do poder. Com as devidas exceções, o que vemos é o enriquecimento ilícito de políticos e de ocupantes de altas chefias, em detrimento do restante dos brasileiros, que se debatem com o desemprego, filas em hospitais e escolas, insegurança e falta de perspectivas para os jovens.

Por um lado temos políticos tentando aprovar com rapidez o que lhes interessa, totalmente de costas para os anseios populares. Por outro, uma multidão que não é ouvida, totalmente desassistida. De um lado, políticos empurrando dezenas de processos com a barriga, anos e anos sem julgamento; de outro, a população que não tem dinheiro para pagar um advogado. São extremos diferentes. Muitas contradições.

Esse é o país onde o governante se livra de uma investigação se tiver maioria no Legislativo, mesmo que a população clame por apuração. E isso se espalha pelas demais esferas. É o país onde o foro privilegiado e a reeleição perpetuam práticas criminosas nocivas e danosas à sociedade.

As pessoas falam que o Brasil é realmente muito rico, senão já teria falido com tantos roubos, e verdadeiros assaltos à coisa pública. E para que tirar direitos dos trabalhadores se somos tão ricos? Nossa realidade é de extrema abundância em todos os sentidos. Possuímos a maior reserva de Nióbio, a terceira maior reserva de petróleo, a maior área de terras agricultáveis, água potável, clima favorável, todas as fontes energéticas em abundância e imensa riqueza humana e cultural.

Possuímos riquezas financeiras, potencial industrial e comercial, e somos credores de imensa Dívida Ecológica causada por séculos de exploração predatória de nossos recursos naturais.

Por outro lado, enfrentamos impressionante cenário de escassez, com inaceitáveis índices de miséria, desemprego e fome, insuficiência de serviços de saúde, educação, segurança. E somos submetidos a contínuos retrocessos por meio de contrarreformas da Previdência, Trabalhista e Privatizações. Faltam recursos para investimentos em ciência e tecnologia e outras alavancas necessárias ao nosso desenvolvimento socioeconômico.

Tudo isso decorre do modelo econômico voltado para a concentração de renda e riqueza, que beneficia principalmente os bancos e grandes corporações nacionais e estrangeiras, como nos ensina Maria Lucia Fattorelli.

O endividamento público tem funcionado às avessas, ou seja, em vez de servir para aportar recursos ao Estado, tem provocado uma contínua e crescente subtração de recursos públicos, direcionados principalmente ao setor financeiro privado. Por isso é tão necessária uma urgente auditoria da Dívida Pública brasileira.

E enquanto uns tantos correm com malas e caixas de dinheiro roubado pra lá e pra cá, o governo avança aumentando impostos e tenta ressuscitar a reforma da Previdência, morta pela quase nenhuma popularidade do presidente ou pela avalanche de denúncias que rondam o palácio e seus ministros.

Enquanto depósitos de dinheiro são descobertos pela polícia, o governo fabrica o déficit da Previdência, fazendo uma conta distorcida que considera apenas a arrecadação do INSS e compara com todo o gasto da Previdência, deixando de considerar as demais contribuições sociais.

Por que não deixar essa discussão para o governo eleito em 2018? Por que quebrar contrato e estuprar direitos, quando o mais sensato seria que os possíveis ajustes só valessem para os novos trabalhadores?

Augusto Bernardo Cecílio

Augusto Bernardo Cecílio

* Auditor fiscal da Sefaz, coordena o Programa de Educação Fiscal no Amazonas.

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