Ministro Mauro Campbell

A honra é patrimônio inalienável de qualquer pessoa normal. Vai daí que preservá-la se insere entre os deveres primários da convivência social. Respeitá-la, igualmente, porque se, em termos individuais, não podemos tolerar qualquer ofensa à própria honra, muito menos devemos ser complacentes com os atassalhadores da honra alheia.

O que a revista Veja vem de fazer com o ministro Mauro Campbell é um dos exemplos mais claros da má utilização da liberdade de imprensa, conquista de todos os povos civilizados. A partir de um diálogo entre advogados, lança para o mundo, sem nenhum pejo, sem nenhum pudor, a ideia de que aquele magistrado teria negociado o pagamento por decisões a serem proferidas em processos de interesse da JBS.

Admitamos que os diálogos, em si mesmos, sejam verdadeiros. E daí? Isso por acaso autoriza a conclusão de seu conteúdo está dentro da verdade? Parece mais do que óbvio que não. Imagine-se que duas pessoas, em conversa, concluam que o papa Francisco, em algum tempo, praticou abuso sexual contra fiéis. A conversa existiu, mas esse fato não pode levar nem o mais empedernido dos idiotas a passar a ter como verdade incontestável que Sua Santidade é ou foi pedófilo ou tarado.

O ministro Campbell tem uma vida pública construída em sólidos alicerces de dignidade. Já ocupou os mais relevantes cargos em nosso Estado, sempre se havendo com coerência e decência e sem que nunca tenha alguém, nem de longe, levantado qualquer suspeita sobre seu comportamento. É revoltante, pois, ver como a leviandade (ou a má-fé) é capaz de, em questão de segundos, jogar lama em uma reputação, tal como se esta fosse artigo de somenos, vendido a granel nos arraiais da estupidez.

Sou capaz de entender a indignação do ministro e de seus familiares. Também já fui vítima de trama semelhante, quando meu filho, o juiz Luís Carlos, teve, por certo tipo de imprensa, seu nome lançado aos ventos, como se acumpliciado estivera com bandidos. Dói. E dói muito porque é uma dor que dilacera e, ao mesmo tempo, causa revolta pela impotência em que nos deixa de revidar de imediato e à altura o achincalhe. Tudo produto do ambiente policialesco que tomou conta do país, provocando uma inversão de valores em que alcaguetes de todos os matizes têm mais credibilidade que uma pessoa de bem. Basta que um deles, por qualquer motivo que seja, mencione um nome para que o titular deste ingresse na rua da amargura, obrigado a demonstrar a impossibilidade de a referência ser verossímil. É tarefa dura, de difícil realização, porque parece que os ouvidos do povo encontram algum tipo de deleite em ver a evolução dos mecanismos difamatórios.

Neste espaço, já tive oportunidade de relatar a história do sábio grego e de seu discípulo. Indagou o jovem: mestre, é possível desfazer uma calúnia? Como resposta, recebeu a tarefa de encher um recipiente bem grande com penas e, depois, jogá-las ao ar, a partir da mais alta torre que houvesse na cidade. O aluno volta e informa ao sábio que já tinha cumprida a missão, ao que recebe a ordem de retornar e recolher todas penas, sem exceção. “Mas isso é impossível, mestre. Como vou poder saber aonde foi parar cada uma delas?” Vem a ponderação final do velho mestre: “Assim é calúnia. Uma vez difundida, torna-se impossível desmanchar-lhe os efeitos porque ela penetra fundo e sorrateiramente em todos aqueles dispostos a nela encontrar alguma credibilidade”. Prova disso é a tolice, repetida à boca pequena, segundo a qual “onde há fumaça, há fogo”.

Tristes tempos estes em que um ministro da segunda Corte mais importante do país vira alvo fácil da indignidade verbal de um jornalismo de beira de igarapé. Talvez porque a inveja, disseminada como se acha, não possa perdoar os que, por via do trabalho honesto, lograram obter êxito nos empreendimentos que se propuseram. Não tenho eu nenhuma importância e sou o primeiro a me declarar insignificante, sob todos os aspectos. Isso não pode me impedir, contudo, de cumprir minha parte diante de tão lamentável episódio, assim como o passarinho que despejou a gota d’água no incêndio. Esta singela crônica é a gota d’água no incêndio de difamação que tende a envolver o ministro. Como todo homem decente, espero que Sua Excelência tenha a paciência necessária para desfazer a tramoia, exigindo o restabelecimento da verdade.

Felix Valois

Felix Valois

* Félix Valois é advogado, professor universitário e integrou a comissão de juristas instituída p...

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5 comentários

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  1. Francisco tussolini disse:

    Dr Feliz Valois é, simplesmente, genial em sua crônica! Tussolini

  2. Carmen Brito Couto disse:

    Concordo plenamente com o que fizeram com o Ministro Mauro Campbell foi pura bandidagem!! Um profissional sólido , íntegro e um ser humano exemplar . Jamais iria fazer parte deste bandidismo!!!
    Que Deus abençoe Mauro e sua família!!!

  3. João bosco de lima disse:

    Parabéns dr felix vsloaes.

  4. Rosana disse:

    Vossa Excelência está de parabéns ao colocar as singelas palavras ao nosso pleiteador da Justiça Mauro Campbel….A muito tempo os arredores do Direto já não são os mesmos. O Direito e a Dignidade da pessoa Humana totalmente amendrotada com o poder dos corruptos e do dinheiro.

  5. Jayme Pereira disse:

    Não que o Min. Mauro Campbell esteja acima de qualquer “suspeita”, posto que homem público que é e sem dever nada a ninguém, não se sentiria incomodado em ser questionado. O problema é quando qualquer “suspeito” vira o dono da verdade… hoje está muito fácil conspirar contra alguém. Basta gravar conversa falando algo de terceira pessoa… absurdo! A conversa entre os dois advogados prova apenas uma coisa: ambos são desonestos e procuram meios fraudulentos para obter êxito numa ação ou para ganhar dinheiro. Em relação ao Ministro, não prova nada!