Servidores públicos, reajam!

Augusto Bernardo Cecílio*

Espalhados por todo o território nacional, os servidores parecem não ter consciência do poder e da força que têm. Sejam federais, estaduais ou municipais, eles são os responsáveis pela implementação das políticas públicas, o elo de ligação direta com a sociedade brasileira, o contato com aqueles que mais precisam da atenção do Estado brasileiro e dos serviços públicos.

No entanto, a cada dia que passa se tornam o alvo preferido dos que ocupam o poder, de norte a sul do Brasil, que tentam jogar em cima deles a responsabilidade por tantos desmandos administrativos, falcatruas, desvios de verbas, superfaturamentos, contas no exterior e “acertos milionários”.

Hoje, por exemplo, os servidores são acusados de serem os culpados pelo falso rombo da Previdência, quando sabemos que os maiores devedores são as empresas e até governos, todos publicados na lista dos 500 maiores devedores da Previdência, cujos valores bilionários não retornam aos cofres públicos, causando prejuízo direto à sociedade.

Em vez de valorizar quem trabalha na linha de frente, no atendimento ao público, o governo faz jorrar recursos públicos em peças e vídeos publicitários caríssimos para tentar ressuscitar a Reforma da Previdência, além de promover verdadeiro balcão de negócios para os aliados enterrarem a denúncia contra o presidente, dando a entender que ele teme por ser investigado.

Em vez de tentarem acabar com a Lava Jato – que pode investigar, punir e recuperar montanhas de dinheiro roubado – investem pesado contra os servidores, porque querem achar um bode expiatório para as mazelas que acabam com o Brasil.

No momento, os servidores (erradamente chamados pela mídia de funcionários) são vitimas de uma sórdida campanha nacional que visa o sucateamento e o esvaziamento dos serviços públicos, em busca do chamado Estado Mínimo, onde a população tem que se virar para pagar por atendimento médico, escolar e segurança, enfim, uma situação em que só os ricos poderão sobreviver. Isso é um verdadeiro pacote de maldades, que se junta à terceirização e às novas leis trabalhistas, um “agradado” ao mercado financeiro e ao grande empresariado.

Bombeiros salvam vidas e patrimônios, professores ensinam a quem não pode pagar, médicos e enfermeiros salvam vidas nos hospitais de urgência, emergência e em postos, delegados e policiais se aventuram na proteção das famílias e muitos são assassinados. Todos são exemplos de profissionais que estão aí para servirem ao público. No entanto, o que se vê são propagandas, entrevistas e reportagens que jogam a população contra os servidores públicos, nutrindo o ódio por essa categoria de trabalhadores.

Quem são os verdadeiros culpados pelos buracos das cidades, pela violência, pelo desemprego, pelas filas em hospitais, por pessoas desassistidas? Quem são os culpados pelas altas taxas de juros e pelos lucros milionários que a dívida pública brasileira dá aos grandes banqueiros? Quem são os culpados pelo desabastecimento em hospitais públicos e pelo fim da farmácia popular? Que se pare de jogar a culpa nos servidores.

Quem praticamente faliu a Petrobras? Quem pagou mensalão nacional e mensalinhos estaduais? Quem foi flagrado com uma mala contendo R$ 500 mil? Ora! Político não é servidor público, não faz concurso público, e os governantes são passageiros.

Enfim, servidores sofrem com o congelamento dos salários, com a inflação, com baixos vencimentos e atraso dos pagamentos, como vemos no Rio de Janeiro, totalmente saqueado pelos ocupantes do poder. Aí vão jogar a culpa nos servidores?

 

*Auditor fiscal da Sefaz

Augusto Bernardo Cecílio

Augusto Bernardo Cecílio

* Auditor fiscal da Sefaz, coordena o Programa de Educação Fiscal no Amazonas.

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4 comentários

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  1. jose marques manoel disse:

    É a superestimação do que é nocivo (arranjos politicos) em dentrimento de uma Categoria Valiosa para a Nação, que se nutre do desejo de ver a Adminisração Publica profissionalizada de forma competente e profícua. Servidores Públicos deveria ter mais infiltração nos meios de comunicação para poder mostrar para a Nação que os culpados verdadeiros do atraso nas acelerações das produtividades funcionais, no ambito da Administração Publica, são os Senhores de Poder que usam o Clientelismo para provocar as trocas incessantes de comando nas Coordenações dos Orgãos, sem medir a Capacitação de Indicados Políticos que não tem compromisso com a sustentação da dignidade profissional, capaz de produzir um equilibrio dinâmico no saneamento da Coisa Publica. Servidor nao da Prejuizo. Isso é coisa de Politicos.
    Quem pode, melhor avaliar os melhores Presidentes, atual e anteriores, são o Servidores que tem a exata dimensão do que se foi feito pela Nação de forma respeitosa e prodigiosa, produtiva e promissoras.
    Ninguem melhor do que essa categoria de servidores para poder aferir a qualidade de Gestores nos Setores Publicos.

  2. tadeu disse:

    excelente artigo! ótimo alerta! (eu alteraria o início do quinto parágrafo, por causar um entendimento dúbio). (não seria “em vez de aprofundarem a lava jato, para recuperarem bilhões roubados, “…)
    as “aposentadorias” de políticos (como se político fosse profissão), muitas vezes cumulativas, se canceladas já poderiam gerar dinheiro suficiente para diversas ações públicas.

  3. Fabio Costa disse:

    O povo brasileiro tem uma característica peculiar:
    Endeusa políticos e artistas e enaltece quem tem poder aquisitivo. É um povo trabalhador, mas acomdado. No seu subconsciente, reconhece a maioria de seus deveres e não conhece seus direitos. Esta combinação faz nascer o “pobre coitado”, aquele individuo que sofre as penalidades em lugar do outro, que se autosubestima e se submete aos desmandos dos politicos e das classes dominates.
    Quando vi nas ruas os movimentos reclamando pelos gastos com a copa e pelos R$ 0,36 de aumento no preço da gasolina ou da passagem de ônibus (nem lembro mais ao certo) em 2013 e 2014; Quando vi aquele enorme pato ir às ruas acompanhado de um montão de gente a gritar “fora Dilma e a corrupção”, tive a ilusão de achar que o povo havia mudado sua mentalidade, Hoje vejo que aquilo tudo foi na verdade, e literalmente, um “pato” que o povo pagou. Nada de novo e nada de povo. Aquilo alí era partidários politicos, empresas e personalidades dos negocios por trás de uma manipulação da massa. Triste constatação!

  4. carlos millan disse:

    Aproxima-se da nação, graças à coragem de quem expõe e expõe-se com sua opinião, uma luz nova, clareando a visão sobre as verdadeiras causas que vêm destruindo o país.
    A classe política exime-se de sua função de servir o povo . Perdeu completamente o sentido de sua existência. A corrupção atinge e utiliza-se de servidores públicos, maculando injustamente a categoria que se vê envolvida pelas máfias que atuam sem pudor por toda parte. O custo para o povo com a manutenção da classe política está longe de justificar o benefício que aquela deveria proporcionar. Torna-se fundamental hoje mantermos o foco nesta oportunidade de reformular completamente a nossa democracia. De eliminar de vez as armadilhas que levam os recursos financeiros que deveriam chegar ao atendimento do cidadão, para o ralo da corrupção.