Regalias dos presídios: celas de luxo como motel, prostitutas e desfile ‘com mais seguranças que o governador’

FDN

Não eram apenas Zé Roberto (esquerda, no alto), Gerson Carnaúba (ao lado dele), Nanico (abaixo, à esquerda), João Branco (centro) e Copinho, os chefões da FDN, que tinham regalias nos presídios

As prisões dos principais líderes do grupo criminoso Família do Norte (FDN), Zé Roberto, Gérson Carnaúba, Alan Castimário, o Nanico, João Branco e Cleomar Ribeiro de Freitas, o Copinho, trouxeram à tona inacreditáveis regalias nos presídios. Não eram só eles, mas qualquer chefe de tráfico de bairro recém-chegado à cadeia recebia prostitutas e, nas palavras do secretário estadual de Administração Penitenciária (Seap), Pedro Florêncio Filho, “queria desfilar nos corredores do presídio com mais seguranças que o governador”.

A lista de regalias é enorme. Havia celas individuais, luxuosas, que eram usadas como motéis privativos. Nelas, os “chefões” ou “xerifes” recebiam menores, prostitutas e parceiros do crime, que entravam com documentos falsos e sem nenhuma fiscalização, qualquer dia da semana, sem dar bola para horários de visitas.

Uma corrida surreal se transformou em questão de honra para os criminosos: a busca da TV mais moderna e com mais polegadas. Foram encontrados aparelhos 4K, com até 85 polegadas. Esses telões ornavam os presídios. Assistir ao futebol com churrascos regados a muita cerveja virou rotina nas tardes de domingos.

Pedro Florêncio tomou medidas duras, como a criação de cadastro prévio para visitas no presídio, que só podem ser feitas uma vez por semana, após controle da inteligência, e a limitação do tamanho das TVs a 24 polegadas. Até comida pronta, verdadeiros banquetes, preparada nos melhores restaurantes da cidade, agora tem regulamentação.

O esforço da administração penitenciária, porém, não consegue eliminar os símbolos do crime organizada, ainda espalhados nos presídios. O Compensão, time patrocinado pela FDN e que disputa competições pela cidade, conseguiu o escudo pintado no centro da quadra de esportes e nos principais corredores do Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj). Não foi por falta de combate. Os administradores pintam as paredes e o chão, mas, alguns dias depois, lá estão os escudos de volta.

Quem é preso e vai para presídios, como o Compaj, é disputado pelo Governo e esses “xerifes”. “Eles oferecem cestas básicas e até mesadas para as famílias dos presidiários, em troca de, quando sair, trabalharem para o crime”, conta Pedro Florêncio. São pessoas que não mataram, nem estão ligadas ao tráfico de drogas, tendo cometido pequenos furtos ou outros delitos considerados menores, mas que sairão da cadeia PhD nesses novos crimes.

O Governo do Amazonas usa assistentes sociais, psicólogos e grande parte da estrutura do Estado, tentando evitar que o sistema penitenciário continue a ser um celeiro perfeito para criminosos.

A guerra Estado X crime organizado é evidente. O contribuinte paga R$ 3 mil/mês por cada presidiário e acaba contribuindo para colocar mão-de-obra à disposição de criminosos cada vez mais experientes em recrutamento.

Algo precisa ser feito. É urgente uma revisão profunda no sistema penitenciário. Das leis aos presídios. Da ocupação do preso à transparência na gestão da cadeia. Da arquitetura ao financiamento. Só com enraizamento de uma filosofia profunda, capaz de substituir o “salve-se quem puder” pelo resgate social do apenado, será possível combater a estrutura de poder e sedução há décadas sedimentada pelo crime organizado.

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2 comentários

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  1. Gleyson Roosevelt disse:

    Ótima matéria, parabéns. Vamos torcer para q essas regalias nas penitenciárias acabem, e preso seja tratado como preso e não como empresários cheios de regalias.

  2. francisco oliveira das chagas disse:

    Tem que acabar com essas regalias, preso tem quer ser tratado como preso, sem celas especiais ou tratamento diferenciado quem mandou cometer crime. E tem mais eles deveriam trabalhar, plantar, produzir, suar a camisa pra conseguir seu próprio alimento. Se não acabar com essas regalias daqui apouco todo mundo vai querer ser preso.