Justiça mantém Melo e joga disputa com Braga para calendas gregas. Mas falta um projeto para o Amazonas

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José Melo: governar pra quê?

A eleição de José Melo para o Governo do Amazonas se deu pela vontade direta do governador Omar Aziz, de quem foi vice-governador, e o domínio da caneta do poder em todo o processo eleitoral. Eduardo Braga, então apenas senador, aparecia como favorito mas, por ter subestimado a força da máquina, acabou derrotado. Pouco se discutiu quanto ao futuro do Estado. Agora, quando Melo viu de perto o fantasma da deposição, na caneta da presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas (TRE-AM), Socorro Guedes, está na hora de exigir que o governante mostre os planos porque, em meio à crise, planejamento é fundamental.

Melo corre o risco de passar para a História como o governador que assistiu impassível à debacle do Polo Industrial de Manaus (PIM). Basta ver os índices despencando, enquanto a burocracia impede que deslanchem os esforços de técnicos e empresários do setor em busca de alternativas, como as exportações.

O governador também periga se transformar no administrador desorganizado, que admitiu ou herdou a terceirização de grande parte da máquina estadual e entregou o serviço nas mãos de empresas inidôneas. Está no noticiário, diariamente, como essas empresas têm sido incapazes de manter a documentação em dia para receber os pagamentos mensais ou, pura e simplesmente, surrupiam na cara dura o sagrado salário do trabalhador.

Outra faceta negativa da gestão Melo, que ele tem pouco tempo para reverter, é a do “entesourador”.

Quando a crise chega na mesa do povo, que está ficando sem pão e sem brioches, é quase um acinte alardear aos quatro cantos que “as finanças do Estado vão muito bem, no contexto brasileiro, enfrentando a crise”. Isso é sinal de que o governante prefere guardar o dinheiro no cofre, aumentando taxas e impostos, sonegando friamente o pagamento de fornecedores, no lugar de fazer a moeda circular e gerar o dinamismo necessário à superação da crise.

Aí cabe um parênteses.

Tem alguma coisa errada com o fornecedor que aceita ficar meses a fio sem receber o valor ajustado em contratos. Se tudo tiver sido feito honestamente, de acordo com a lei, pelo preço justo, cabe ação na Justiça, via Ministério Público, ou mesmo o recurso ao Tribunal de Contas do Estado (TCE). Só fica calado e aceita atrasos de cinco, seis, sete meses, quem fez algo errado. E só aceita renegociar esses atrasos com deságios inacreditáveis (fala-se em até 50%) “por fora”, quem não tem o mínimo espírito público. Não percebe o mal que a corrupção causa à população, deteriorando serviços e provocando o salve-se quem puder que eleva os índices de assaltos e induz ao mergulho no submundo do tráfico e do consumo de drogas.

O governador José Melo é o responsável por colocar a casa em ordem. Precisa chamar a equipe e estabelecer metas. Precisa mostrar agora para que serve o fôlego que recebeu da presidente do TRE-AM.

Negar os caraminguás que movimentam as festas no interior não pode ser chamado de “plano de governo”. Seria bem diferente se, com gestão competente e dedicada, todas elas fossem reunidas num calendário turístico, com otimização de transporte, hospedagem e divulgação nacional e internacional. O estrangeiro, com dólar e euro fortalecidos em relação ao real, adoraria mergulhar no exotismo do interior amazonense, devidamente respaldado por ações administrativas diferenciadas.

O Amazonas, porém, não terá planejamento no turismo enquanto a Amazonastur for abandonada à própria sorte, fingindo construir a indústria do turismo no doce idílio das feiras do circuito Elizabeth Arden, distanciada das pastas de Cultura, Segurança, Saúde, Educação e Comunicação, para ficar no mínimo. Só um Governo forte, firmado em planejamento sólido, conseguirá transformar parte das verbas destinadas a essas secretarias num conjunto capaz de fomentar, para valer, o setor turístico.

Sun Tzu, aquele general chinês a quem é atribuído o livro “A arte da guerra”, ensina que exército pequeno deve enfrentar o adversário no terreno propício, emboscando-o em desfiladeiros, como fez o espartano Leônidas contra o exército persa de Xerxes I, nas Termópilas. Se o financeiro está curto, pequeno, Melo deve concentrá-lo em obras visíveis, mais baratas, de curto e médio prazos. Injetar competência e otimismo, algo que está fazendo muita falta no mercado. Jamais deixar de pagar salários, diretos ou indiretos, estatutários ou terceirizados.

Sem planejar e estabelecer metas, o Governo do Estado fica à deriva, mercê de vontades individuais díspares, parecido com o surrado episódio dos dois caboclos que remavam, na mesma canoa, um para cada lado e, por isso, não conseguiam sair do lugar.

A estagnação é terrível para o cidadão, que continua sofrendo para pagar os impostos, o cruel combustível da máquina pública. José Melo periga se transformar no governador que lutou e venceu Eduardo Braga, no primeiro, segundo e terceiro turnos, pelo menos por enquanto, mas não sabe o que fazer do Governo.

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3 comentários

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  1. Jordan Finseca Gouveia disse:

    Marcos Santos, vou me ater somente na pasta que temos conhecimento e um aprendizado de muitos anos trabalhando desenvolvimento local para o turismo.
    Não iremos avançar neste ” possível ” terceiro ciclo econômico do estado se não houver uma compreensão mínima de orientações da organização mundial do turismo:
    – ” Uma cidade só será boa para o turista, se primeiramente for boa para a sua população”
    – ” O Turismo se apropria das produções naturais e culturais para gerar fluxo”
    Essas duas recomendações são as mínimas atitudes que deveremos tomar para reordenar as responsabilidades e estratégias para que o turismo seja de fato Sustentável, valorizar as pequenas coisas das comunidades locais que representam a grande curiosidade que o turista quer degustar dos conhecimentos tradicionais.
    Política para o turismo começa na integração dos arranjos produtivos das pastas responsáveis pelas políticas públicas dos recursos naturais e culturais do estado, imediatamente ligadas a infraestrutura para que o acesso seja possível, a capacitação de produtos e serviços para medir a capacidade de competitividade dos produtos turísticos existentes que estarão conquistando o mercado consumidor nacional e internacional.
    Gestão Compartilhada, colaborativa e descentralizada, sem vaidades, principalmente das pastas que estão diretamente ligadas ao produto turístico : Natureza + Cultura = Turismo , poderá ser outro passo determinante para que a população compreenda que o turismo pode ser determinante na nova matriz econômica.
    Continuamos esperançosos de que o nosso Governador poderá determinar uma ação estratégica de união entre estas pastas para diagnosticar estes arranjos produtivos e ordenar a cadeia produtiva do turismo com uma gestão de qualidade para oferecer aos mercados produtos imbatíveis que somente o Amazonas possui.

  2. Stefan Keppler disse:

    Sou Professor de Gestão Ambiental e tenho como oferecer um Projeto para o Estado do Amazonas, para estimular a socioeconomia no interior e na capital, através do aumento da mobilidade, através da inovação em Logística. Deixa-me explicar !

  3. O Projeto para o Estado do Amazonas se chama “Novo Modal de Logística da Amazônia”, através da popularização de balões e dirigíveis de carga. – Onde isso já existe? – Em lugar nenhum! Se já existisse não seria inovação!
    Imagine – independente do nível do rio, das condições das estradas e de portos e aeroportos, iria continuar a possibilidade de frete e deslocamento! – E, melhor, Os balões e dirigíveis de carga seriam desenvolvidos e produzidos na Zona Franca de Manaus! – Seria produto de abastecimento de um infinito mercado interno e externo. – Temos a capacidade de ficar totalmente independentes, após inicial transferência de tecnologia.
    ISSO É A VISÃO DO FUTURO!