A crise num país chamado Pindorama e num Estado chamado Tupiniquim

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Anel viário de Fortaleza, reforçado e ampliado para a Copa 2015, começou a ser construído na década de 1990, com dinheiro economizado na negociação com empresários da construção civil. Note a espessura do “pavimento rígido”, concreto puro

Tasso Jereissati, governador do Ceará, e Ciro Gomes, prefeito de Fortaleza, fizeram um pacto com os empresários da construção civil: pagariam em dia, sem atrasos, em troca do abatimento drástico nos preços das obras. Conseguiram em torno de 50% de redução, construíram obras como o anel viário de Fortaleza e abriram ciclo virtuoso que colocou a capital cearense no mapa do turismo internacional. Foi no fim da década de 1980, comecinho de 1990. É uma lição que podia muito bem ser seguida por um país de ficção, que acabamos de criar, chamado Pindorama, e num estado igualmente fantasioso, o de Tupiniquim.

Em Pindorama e Tupiniquim, onde a corrupção campeia desenfreada, o natural é incluir “percentual de atraso” nos preços públicos. Obra que custa R$ 100 mil – vamos usar o real apenas como referência – é cobrada acima de R$ 200 mil, para que, nas primeiras parcelas, o empresário “defenda” o custo, deixando para negociar o lucro mais à frente. O administrador “cria dificuldade”, deixando atrasar parcelas, para depois “vender facilidade”, isto é, aumentar o valor da propina para liberar o pagamento.

No setor de serviços, nesse país de ficção, o mesmo “percentual de atraso” também é aplicado. O fornecedor compra os equipamentos uma vez, por exemplo, e recebe o custo no primeiro mês. Daí para a frente é lucro, anos a fio, com o mínimo de manutenção e disponibilidade absoluta para negociar o “custo político”.

A crise chega e turva essa água. Todos se desesperam. Os atrasos se aprofundam.

Qual a saída? Negociar a gordura. Quem não recebe nada desde setembro, outubro, do ano anterior, chega em fevereiro à beira da falência, topando qualquer negócio para receber alguma coisa. O gestor de Tupiniquim tem a faca e o queijo na mão para reduzir a dívida estatal em, pelo menos, 50%.

Nesse estado (com minúsculas) de ficção, porém, essa negociação é feita “por fora”. Negociam o chefe, os subchefes e até o estafeta, que exige dobrado “o do guaraná”. O erário, o cofre público, desembolsa a mesma quantia para sustentar tal voracidade.

Não é só isso, infelizmente, que atrasa o desenvolvimento de Pindorama e Tupiniquim.

O sistema inteiro é construído para que o político da vez tenha vantagem sobre quem quer que queira confrontá-lo. Tanto um como outro são cabides de emprego e o funcionalismo, que cuida dos seus interesses por dentro do poder, vai contabilizando privilégios inacreditáveis: na hora do voto os efetivos (concursados) têm reajustes acima dos demais trabalhadores, o número de cargos comissionados vai às alturas e se multiplicam os “Processos Seletivos Simplificados”. É a brecha da lei para contratar hordas de cabos eleitorais.

Quem banca tudo isso? A chamada “iniciativa privada”. A coisa fica sem rosto, dita desta forma, mas pense no dono do mercadinho da esquina e em você mesmo, no seu salário, recortado direta, indireta e tortamente, de cabo a rabo, pelos impostos.

Pindorama criou um sistema que, pior que isso, pune quem produz. Um empresário, com 100 funcionários – 100 empregos! – queixa-se de advogada que virou sócia do seu negócio: tem os números dos telefones de todos esses trabalhadores e, ao longo de dois anos após a demissão de qualquer deles – o tempo previsto na legislação -, liga, estimula, instiga e enfileira ações sobre ações na Justiça Trabalhista. Os juízes pedem, a cada uma delas, que o empregador “deixe alguma coisa” para o trabalhador, por mais que não tenha razão, isto é, a empresa nunca ganha. Vai deixando nessa seara parte do lucro, que deveria servir para crescimento do negócio e ampliação do número de empregos.

Em resumo, quem é responsável pela geração da riqueza que sustenta a máquina pública, e deveria ser tratado a pão de ló, é acossado pelo sistema, que o trata como bandido. E se vê obrigado a pagar um exército de corruptos para se defender, retroalimentando a e fortalecendo a corrupção institucionalizada.

Não é à toa que Pindorama conseguiu falir uma empresa de petróleo.

Pindorama e Tupiniquim vão mal. Todo povo tem o governo que merece. Está na hora de merecer coisa melhor.

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2 comentários

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  1. Lindemberg Lima disse:

    A BR101 no trecho que vai de Natal (terra do então ministro dos transportes na época da reforma da mesma) até Alagoas foi total reformado, na época passei por ela ainda em obras, e me surpreendeu justamente essa base de concreto, nada mais nada menos que 25 cm de espessura; detalhe: obra totalmente tocada pelo exército brasileiro. Quando se quer fazer bem feito, se faz!!

  2. Juarez Silva disse:

    Só não achei feliz essa nominação indígena…, quando havia uma terra chamada Pindorama e nela habitavam apenas Tupiniquins (que não tinham “Estado”), a coisa era bem diferente…, a corrupção é uma invenção do “povo da mercadoria” e faz parte das raízes de uma “invenção” de 500 e poucos anos, a quem nominaram inicialmente com algo a ver com CRUZ… .