Governo anuncia fim do patrocínio financeiro a Cirandas, Feira Agropecuária do Careiro Castanho e Fecani

Direção da ciranda Guerreiros Mura, bicampeão do Festival de Cirandas, mostrou muita revolta com a decisão do governador. Foto: José Rodrigues

Direção da ciranda Guerreiros Mura, bicampeão do Festival de Cirandas, mostrou muita revolta com a decisão do governador. Foto: José Rodrigues

Parafraseando o poema “No caminho com Maiakovski”, do padre brasileiro Eduardo Alves da Costa (atribuído a Bertold Brecht), primeiro o Governo do Amazonas eliminou sumariamente o Festival Amazonas de Ópera, realizado tradicionalmente em maio, desde 1996. E ninguém disse nada. Depois cortou 20% do patrocínio dos bumbás, no Festival de Parintins, e todos calaram. Agora, há um mês do Festival de Cirandas, tradição iniciada em 1997, a cúpula do Estado anunciou que não haverá um centavo de patrocínio para as cirandas, na 19ª edição da festa manacapuruense. Como também ninguém nada disse, o corte raso está estendido à Feira Agropecuária do Careiro Castanho (Agropec) e ao Festival da Canção de Itacoatiara (Fecani), festas igualmente tradicionais, no mês de setembro. E a voz se recusa a sair da garganta, num Amazonas de Governo desprovido de criatividade e oposição completamente inerte.

 

Bastidores

A crise econômica, que reduziu a receita estadual, é a principal justificativa para os cortes na área da cultura. A verdade, por trás disso, é diferente. O governador José Melo quer demitir o secretário estadual de Cultura, Robério Braga, mas, sem forças políticas para enfrentá-lo, decidiu apelar para a asfixia. O orçamento da SEC foi reduzido praticamente a zero. O patrocínio do polo de refrigerantes do Amazonas (Coca-Cola, Pepsi, Ambev), que Amazonino, Braga e Omar deixaram sob gestão do secretário e das suas fundações, como a “Amigos da Cultura”, passou para a gestão do gabinete do governador. Agora só está faltando o pedido de demissão.

 

Demissões em Manacapuru

Mais de 100 pessoas foram demitidas, entre segunda-feira e ontem, nas cirandas Guerreiros Mura, Flor Matizada e Tradicional. Comerciantes sustaram os pedidos de reforço do estoque. Mototaxistas e taxistas são a cara do pessimismo. Os políticos, que ofereceram a Melo vitórias no primeiro e no segundo turnos da eleição contra Eduardo Braga, enfiaram a viola no saco.

 

História

Os presidentes das três cirandas foram chamados a Manaus, em maio, com um apelo para que regularizassem as prestações de contas de 2014. Foram comunicados de um corte, mas apenas de 20%, em relação aos R$ 1.100,00 liberados para cada uma, ano passado, e que o dinheiro estava no cofre, só escutando a conversa. Segunda-feira (27/07), de supetão, veio a notícia do corte raso.

 

Pressão em cima de Melo

O governador José Melo foi duramente pressionado. Nas redes sociais, o manacapuruense mostrou muita revolta com o corte da verba. E, à tarde, Melo anunciou que “vai conseguir” R$ 500 mil para cada ciranda. A Prefeitura entrará com a estrutura do Parque do Ingá. Então, mesmo sem as três atrações nacionais do ano passado, meio morrendo à mingua, parece que o Festival de Cirandas acontecerá.

 

Careiro e Itacoatiara

Falta agora falar o povo do Careiro Castanho e de Itacoatiara. Senão, como lembra o poema “No caminho com Maiakovski”, “primeiro eles entram em nosso jardim e colhem uma flor… Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada.”

 

Contexto

A economia no interior do Amazonas quase não tem movimento. As festas populares são raro momento de suspiro para comércio, pousadas, bares e restaurantes. O Estado sempre adotou postura paternalista em relação a essas promoções. Dá tudo e nunca cobra nada. A lógica precisa ser, como em todo o resto, capitalista: investimento em busca de lucro. Ou seja, o Estado tem que retirar, seja por impostos ou movimentação da economia, o valor investido. Para isso é preciso planejar, organizar, cobrar e executar uma política turístico-cultural ampla, contemporânea, inteligente. Nada de buscar a cura da doença matando o doente, como está fazendo a administração estadual.

 

Celas vips

Outro panavueiro do dia fica por conta da revista feita no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), com ajuda de equipamentos novos do Exército. Expôs as celas vips de Zé Roberto da Compensa, líder da Família do Norte (FDN), e outros “xerifes” da cadeia. Revela-se que essas regalias – são cerca de 20 celas “especiais” – existem há mais de 15 anos. Resumo da ópera: o sistema carcerário brasileiro está falido e o do Amazonas é uma lenda amazônica.

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