‘Emagrecimento’ exige fortalecimento muscular e é momento em que se descobrem gorduras… Inclusive em contas públicas

O Governo do Amazonas está fazendo ajustes no orçamento. A cada dia, queixam-se alguns gestores, chegam “ordens” para cortes de milhões e milhões. O governador José Melo anuncia que o enxugamento será de R$ 600 milhões. O clima está pesado nas hostes estaduais, mas talvez este seja o melhor momento para a reengenharia mais pesada do erário, numa transformação que mude as bases administrativas do Amazonas.

Quem já teve uns quilinhos a mais e os especialistas sabem que o melhor regime de emagrecimento é aquele que combate a gordura para, ao mesmo tempo, fortalecer a musculatura. O processo se transforma, por essa via, numa janela de oportunidade, uma chance de o indivíduo ganhar saúde.

Quando se trata da administração pública, onde as decisões são mais lentas e esbarram na questão política, a crise oferece chance única de ajeitar as coisas.

O orçamento do Governo do Estado do Amazonas, por exemplo, que gira em torno dos R$ 15 bilhões, deixa apenas algo em torno de R$ 1 bilhão para investimento. A Prefeitura de Manaus chegou a anunciar, durante a gestão Amazonino Mendes, num orçamento de R$ 4 bilhões, sobra de R$ 800 bilhões para investir. Neste verão, o prefeito Arthur Virgílio deve colocar nas ruas ainda mais que isso. É uma diferença enorme, se comparados os percentuais de sobra Governo X Prefeitura.

O que está errado nas finanças estaduais? Primeiro é preciso levar em conta o papel da administração, num Amazonas macrocefálico, com Manaus concentrando 2 milhões dos 3,8 milhões de habitantes do Estado e praticamente toda a atividade econômica. Os salários dos trabalhadores nos setores de educação, saúde, infraestrutura e segurança são fundamentais na vida interiorana.

A conta, de padeiro, mostra que os R$ 14 bilhões investidos no custeio da máquina pública transformam o orçamento numa âncora que impede o deslanchar do desenvolvimento.

O Amazonas precisa de estradas. Ainda não é possível avaliar o bem que fizeram as rodovias Manacapuru-Novo Airão, Benjamin Constant-Atalaia do Norte, BR-319-Autazes, BR-319-Manaquiri, AM-010-Itapiranga-Silves. São ligações que fizeram envelhecer o discurso, oriundo do ex-governador Álvaro Maia: “No Amazonas, as estradas são os rios”. Hoje se admitiria algo como “no Amazonas, além dos rios, a economia precisa de estradas”.

Estradas são só uma parte do muito ainda por fazer. As já construídas precisam de arranjos econômicos que lhes deem sustentabilidade.

A rodovia Manaus-Manacapuru não pode ser usada apenas para o transporte dos moradores de Novo Airão, Manacapuru e Iranduba. Isso é importante e tem elevado conteúdo social. Mas é preciso enfatizar a vocação turística de Iranduba, com suas praias, igarapés, cobertura vegetal e aspecto rural ainda preservados. O polo oleiro, essencial na construção civil, tem potencial para mudar de simples fabricante de tijolo bruto à fabricação de cerâmica refinada, com valor agregado bem maior. E a olericultura, responsável por grande parte do abastecimento da cidade, pode se expandir para a Região Metropolitana e até ocupar a Região Norte, hoje monopolizada por São Paulo, e a florescente agricultura de Roraima – que cresce no vácuo da produção amazonense.

A gestão estadual se vê espremida entre dificuldades. De um lado, o governador José Melo tem o mandato ameaçado pelas ações judiciais, em fase de julgamento na Justiça Eleitoral do Amazonas. De outro, a pressão vem da crise econômica e o limbo a que o Amazonas foi relegado pelo Governo Federal. E a situação vai se agravando por conta de eventos pontuais, como a greve da Suframa.

É hora de recorrer à lição da dona de casa interiorana. Marido desempregado, conta na padaria e na mercearia estourada, comida faltando na mesa, ela, além de apertar o cinto, cria novas fontes de renda, com a venda das frutas ou os ovos das galinhas do quintal. Recheia a dieta com mingau de caridade, aumenta a porção de farinha na farofa, guarda mais peixe na salmoura. E consegue criar os filhos.

É preciso “criar” – palavra aqui usada como sinônimo de desenvolver – o Amazonas.

Gringos descendo dos aviões com roupa e vara de pesca, rumo aos pacotes das poucas operadoras em atuação no setor, ávidos por brigar com tucunarés, são uma oportunidade. A profusão de pássaros nas inúmeras reservas de preservação é outra. Os turismos de pesca esportiva e observação de pássaros movimentam bilhões… de dólares.

Idem, como oportunidades de faturamento, para o Carnaboi, Boi Manaus, Festival Folclórico de Parintins, Círio do Carmo, Festival Folclórico do Amazonas, cachoeiras de Presidente Figueiredo, Festa de Santo Antônio de Borba, Fecani, despesca do pirarucu, praias do rio Negro etc. etc. etc.

Cada chance dessas que passa entre os dedos é um corte a mais no orçamento. Administrar a crise não pode se limitar à retirada do tíquete refeição e do cafezinho.

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1 comentário

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  1. Marco disse:

    E acrescento que as ferrovias também ajudam.