A música de Adriano Aguiar, dança da rainha, torcida, alegorias… e as histórias de julgamentos inconfessos no Festival de Parintins

O Festival Folclórico de Parintins, que chegou aos 50 anos, é impressionante. Os artistas se espalham pelo Brasil, do Carnaval Carioca ao Natal de Gramado, da Festa da Uva de Caxias do Sul ao Çairé de Santarém. Este ano, a impressionante toada “Amazônia, nas cores do Brasil”, do ainda garoto e já consagrado Adriano Aguiar, demonstra como a criatividade do povo parintinense voa. Uma mancha, porém, se sobressai no meio de tudo isso – e não é de hoje -, como aquela vaca holandesa campeã internacional que dava 500 litros de leite e depois metia o pé no balde: o julgamento do confronto Caprichoso e Garantido.

Prefiro atribuir declarações do tipo “isso faz parte do Festival” ao calor da emoção ou à falta de intimidade com a mídia que a uma alma simplória ou a um espírito desonesto, capaz de qualquer coisa para levar vantagem.

A mancha precisa ser retirada e não admitida ou empurrada para baixo do tapete.

Houve um tempo, vergonhosa época, em que o presidente da comissão julgadora era torcedor de um dos lados. Foram cinco anos seguidos de vitória, num pentacampeonato que até hoje é comemorado, como se fosse fruto do mérito e não do cambalacho. Depois, os bumbás aceitaram um regulamento no qual cada um indicava três jurados e escolhia-se um presidente de comissão julgadora neutro. O resultado é que os escolhidos davam 10 a 0 em todos os itens para o seu bumbá e cabia ao presidente decidir o campeão.

Foi aí que um prefeito decidiu nomear um dos apresentadores de um bumbá para presidir a festa. Revoltado, o outro bumbá simplesmente se recusou a comparecer ao festival e a organização teve que improvisar um “concorrente”, que entrou na disputa na marra, só para fazer número. O título, mesmo assim, até hoje consta na galeria e na estatística do vencedor.

Ficou acertado, então, anos após, formar um júri para valer e que os indicados de um boi teriam que ser aceitos pelo outro. Demorou, mas o grupo foi formado. Esqueceram, no entanto, de avisar uma honrada professora, religiosa, extremamente honesta, mas, ao mesmo tempo, apaixonada e ingênua. Achando que a regra seria a anterior, ela deu 10 a 0 a favor do seu bumbá. Até hoje é execrada. Teve que deixar a cidade.

Note que até aqui este texto evita dar nomes aos bois, para não entrar no terreno comezinho das paixões. Mas é impossível contar essa parte sem nomear: um jurado deu 10 a 0 para concorrente de Paulinho Faria, cujo talento e carisma são inegáveis, nota impensável em qualquer julgamento do trabalho dele como apresentador. E não foi naquele tempo em que esta era a regra.

O famigerado Comando Delta, que há 15 anos manobra resultados, vergando a moral e os bons costumes, expondo a falta de caráter de quem o contrata, conseguiu este ano o ainda mais impossível: nota 10 para um item que sequer se apresentou.

Isso faz parte do Festival? Desde quando a lama deve ser misturada à água de beber?

Parabéns ao menino Adriano Aguiar, pela belíssima e já antológica toada “Amazônia, nas cores do Brasil”. À rainha do folclore Brena Dianná e aos coreógrafos pelo espetáculo de apresentação, visitando várias danças do País. À torcida. Aos artistas. O Caprichoso apresentou bumbá para ganhar com sobras, o que torna ainda mais execrável a ação de bastidores.

Fiquemos com o lado bom da festa. Veja, no vídeo abaixo, o que essa gente malfadada manchou. E ouça, conferindo na letra, a magia da toada de Adriano:

 

Amazônia Nas Cores do Brasil

Adriano Aguiar*

 

Boi Caprichoso

Vou chamar a terra do samba e pandeiro

Carnaval, olha a mulata

E o povo da terra da garoa

Cidade que não pára

Vaneirão, folia de reis

Fandango e também, procissão

E na terra dos pampas, guri, bah!

Traz um chimarrão

Tem minério, mineiros de minas

De serras tão lindas, uai

É festa de laço, reisado

Linda congada que faz a ginga

Tem frevo, caatinga, tem bumba-meu-boi

Arraiá no sertão

Forró, zabumba, casório

Maria bonita e lampião

E vai ter bola rolando

Gente gritando um tal de gol

Corrida sambola é raiz de Angola

E tem um bom coração

 

Esse país de amor e paixão

É a terra folclore que faz o mundo balançar

 

Vai fazer

Levantar a poeira

Rodar capoeira, guerreiros de Ogum

Do pai Oxalá (Axé!!!)

De norte a sul, cultura popular

E aqui lá Amazônia vai ter boi-bumbá

Ciranda, çairé, carimbó, siriá

É mistura de gente feliz

Todos vão se encontrar na festa dos parintintins

 

Brasil, brasileiro

Brasil, milagreiro

Brasil cancioneiro e festeiro

Afro-euro-ameríndio do tronco tupi

 

Brasil, brasileiro

Brasil, milagreiro

Brasil cancioneiro e festeiro

Afro-euro-ameríndio do tronco tupi

 

Chimbaba, saci, fogo de boitatá

Neguinho do campo, iara a cantar

É homem, é boto, vem todo de branco

Cuidado com a cuca, te benze ao entrar

Boneca de pano, manja-esconde

Bolinha de gude, caroço a rolar

É dança, é música, é crença, é paixão

Brincadeira, costume, adivinhação

Viva Luiz da câmara cascudo

Viva o boi de parintins

Viva a terra folclore!

 

Vai fazer

Levantar a poeira

Rodar capoeira, guerreiros de Ogum

Do pai Oxalá (Axé!!!)

De norte a sul, cultura popular

E aqui lá amazônia vai ter boi-bumbá

Ciranda, çairé, carimbó, siriá

É mistura de gente feliz

Todos vão se encontrar na festa dos parintintins

 

Brasil, brasileiro

Brasil, milagreiro

Brasil cancioneiro e festeiro

Afro-euro-ameríndio do tronco tupi

 

Brasil, brasileiro

Brasil, milagreiro

Brasil cancioneiro e festeiro

Afro-euro-ameríndio do tronco tupi

 

Leleleleleô!

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Comentários

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  1. Cintia Maria disse:

    Análise dois dois bois devem ser expostos, como não falar da criança que interpretou com emoção Lindolfo Monteverde? assim como ao Israel Paulain que inovou novamente a forma se apresentar o Festival? Não saberemos se o Caprichoso iria ganhar com sobras, pois no único bloco que não havia indícios de fraude ” bloco B ” os itens do boi garantido foram vencedores. Justiça seja feita o Garantido estava lindo e inovador.