Os buracos e o asfalto, a dupla dinâmica tornada principal cabo eleitoral em Manaus

Está terminando o penúltimo inverno antes da eleição para a Prefeitura de Manaus e vai começar o último verão. Isso é decisivo para o futuro da cidade. Começou a grita. A oposição tentando tirar uma casquinha e a situação buscando enfatizar a necessidade de tapar a buraqueira da cidade. É um filme antigo. Parece até Sessão da Tarde.

O asfalto, faz tempo, é o principal cabo eleitoral nas eleições para a Prefeitura de Manaus. Todos que mexem com política ainda lembram do Grupo de Trabalho e Operações Especiais (GTOE). Criado pelo então prefeito e depois governador Amazonino Mendes, gerido pelo “tocador de obras” e depois vereador Domingos Leite, já falecido, o programa foi constituído de muitas caçambas e asfalto à vontade. O objetivo, atravessando dias e noites, era tapar buracos em toda a cidade, evitando que se transformassem num obstáculo aos planos políticos do chefe.

Foi um retumbante sucesso. Ninguém ligava quando as placas de asfalto a frio, derramado sem muito critério, passavam boiando nas enxurradas. O importante é que havia um movimento frenético oferecendo a mola que impulsiona o voto na cidade: o asfalto.

Tapar buracos é como cerzir camisa velha com remendo novo. É coisa de quem vê a árvore sem enxergar a floresta. O problema de Manaus é o passivo de sub-base e base ridículas, para dizer o mínimo, afundando diante do intenso tráfego da cidade.

Buracos são tema recorrente nas eleições em Manaus. Como o transporte coletivo e a água. Talvez agora a pauta mude um pouco, com o Programa Águas para Manaus (Proama), que resolveu a questão da produção, construindo adutoras e estação de tratamento da Zona Leste. Tomara que resolva também o abastecimento.

É vergonhoso que tais questionamentos ocorram apenas como método de caça ao voto, eleitoreiramente, demagogicamente. São problemas de fundo e que precisam do envolvimento de vários prefeitos, com ou sem reeleição. É questão administrativa, embora com esse perverso viés político.

Quando administrou Manaus pela primeira vez (1989-1992), o prefeito Arthur Virgílio pediu ao então secretário de Obras, Orlando Holanda, que fizesse uma experiência de asfalto de qualidade, capaz de durar 20 anos, na avenida Costa e Silva ou Silves. O resultado é que a obra aguentou o tráfego pesado do Distrito Industrial até além do prazo. Só estourou, coincidentemente, no colo do próprio Arthur, a partir de 2013, mais de 21 anos depois.

O prefeito tentou seguir o exemplo exitoso. A cidade, porém, não gostou da ideia de fechar avenidas, como Djalma Batista e Paraíba, mesmo para essa necessária mexida no piso. Acrescente-se os desentendimentos políticos com o secretário de Infraestrutura e vice-prefeito Hissa Abrahão… e o trabalho ficou à meia-bomba, com buracos já aparecendo em vias que passaram pelo processo, embora a diferença fique evidente no piso de uma Djalma Batista, por exemplo.

Manaus precisa resolver isso. O caminho talvez seja implementar a solução em ruas internas dos bairros. Por que, na Europa e nos Estados Unidos, todas as ruas, por menores que sejam, inclusive em zonas rurais, têm sub-base, base e asfalto de qualidade? Não, não é fruto dos mais de 2 mil anos de história, até porque o continente virou tábua de pirulito na II Guerra Mundial. É, mesmo, avanço no processo civilizatório, ou, como queiram, vergonha na cara.

A capital da Zona Franca não tem tempo a perder. É preciso começar a resolver os problemas estruturais da cidade, com o sentido de urgência ligado no máximo. Essa pressão insana por tapa-buraco não ajuda em nada. É preciso exigir que cada palmo de asfalto seja feito com qualidade. Para durar 20, 30 anos. Ou mais.

É possível. Está aí a Silves, de 1992 a 2013, para provar isso.

Veja também
3 comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. alfredo jr disse:

    caro marcos, a avenida silves foi totalmente asfastalda (uma das unicas até) na gestão do serafim.

  2. Carlos disse:

    Prezado Sr. Santos: Essa não é a primeira vez que leio sobre esse assunto no seu blog. E se não me engano, isso foi contado no início da gestão do atual prefeito. E hoje vivemos com ruas, que além de estreitas, simplesmente não representam a grandeza do Polo Industrial. Quando vou para o distrito trabalhar, fico me perguntando o que falta para os nossos gestores municipais se sentirem envergonhados com as nossas ruas. Será que vamos ter que passar vergonha diante das grandes capitais do país ou, pior, diante da comunidade internacional para que as autoridades façam um trabalho decente?

  3. Moacir disse:

    Sr Marcos Santos

    Manter as ruas em condições de transitar é Obrigação do gestor, quando jogam um asfalto sem critério nenhum acham que estão fazendo muito…..Lamentável
    Os bairros da cidade estão em estado crítico, a desculpa sempre é o inverno, isso parece interminável. O volume de asfalto que pagamos é muito alto! tem alguém fiscalizando isso? com certeza a conta não fechará……