A saída para começar a limpar a mancha histórica da sujeira nos igarapés de Manaus é dar o lixo a quem o joga nas águas

O lixo que emerge nas águas dos igarapés, todos os anos, em período de cheia, tira de Manaus a oportunidade de oferecer o espetáculo das águas, a visão paradisíaca que a natureza oferece nesse momento. No lugar do berçário de peixes, pássaros e flores, ilhas de sujeira se dirigem ao rio Negro, numa contribuição nada meritória ao maior rio de águas negras do mundo. Isso precisa acabar, sob pena de esta geração passar para a história como suja, insensível, inapta para lidar com o patrimônio natural que herdou.

O que fazer?

A Prefeitura de Manaus gasta, nas palavras do secretário municipal de Limpeza e Serviços Públicos, Paulo Ricardo Rocha Faria, R$ 1 milhão por mês para tirar a sujeira das águas. E, como se vê nesta época do ano, não tira.

Há campanhas educativas em curso, mas o lixo visível, outra vez, mostra que elas não estão dando certo.

Uma saída, para começar a dar a César o que é de César, ou o lixo a quem é responsável pelo lixo, é segmentar os igarapés com redes, tipo malhadeiras, capazes de reter o lixo, nos limites de cada conjunto, cada bairro, cada vila, ao longo do curso d’água.

Um exemplo: o igarapé do Mindu tem como primeiro bairro servido por suas águas o Alfredo Nascimento, nos confins da Zona Leste. Pois bem, terminou o bairro coloca-se uma rede e apresenta-se aos moradores, em reuniões e palestras, ao fim de um ciclo – um mês seria o ideal -, o lixo acumulado por aqueles moradores.

Criem-se prêmios para os logradouros que conseguirem evoluir, diminuindo a sujeira atirada nas águas, em equipamentos urbanos: uma quadra de esporte aqui, uma linha de ônibus a mais ali, a recuperação do asfalto, a ênfase no abastecimento de água ou na qualidade do fornecimento de energia.

O Alfredo Nascimento, aquele primeiro bairro atingido pelo Mindu, poderia ganhar um balneário, quando as águas estivessem limpas, oferecendo magnífico exemplo ao resto da cidade.

O projeto seria ampliado paulatinamente, até chegar ao Parque 10, à Vila Amazônia, ao Millennium Shopping e ao bairro de São Jorge, de onde o Mindu parte para a corrida final, entre São Raimundo e Glória, rumo ao rio Negro.

Cada um tendo revelado seu quinhão de sujeira e, aos poucos, de limpeza. O cidadão veria, de forma clara e transparente, o tamanho de sua responsabilidade nessa cadeia perversa de agressão ao meio ambiente.

Claro que a Prefeitura cumpriria papel determinante, gastando esse R$ 1 milhão na retirada do lixo acumulado nas redes, evitando que se transformassem em represas e que a água inundasse tudo para trás. E também na contratação de agentes que percorreriam os pontos mais sujos em campanhas de conscientização.

Manaus teria a chance de criar um case, tornando seus igarapés mais limpos a cada enchente.

No momento em que São Paulo, o maior Estado brasileiro, pratica o racionamento de água, por falta de chuvas em seus reservatórios e de juízo dos seus governantes, não é possível que o manauara e o amazonense em geral não acordem para a importância dos seus cursos d’água.

A água e o petróleo são industrializados e enquanto o litro do petróleo custa R$ 3,5, no modo mais nobre, a gasolina, a água mineral custa R$ 4, no mesmo litro, R$ 1 cada garrafinha de 250ml. E, mesmo assim, jogamos lixo sobre essa riqueza.

É hora de inovar na luta contra a sujeira nos igarapés. Vamos dar o lixo a quem o produz, inibindo a política do “todo mundo faz” e oferecendo a chance de cada um oferecer um quinhão na retirada dessa mancha. A pior mancha histórica que Manaus carrega.

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1 comentário

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  1. Henrique disse:

    É mto papinho, mta campanha “educativa”… Tem é q deixar esses porcos no lixo q produzem e jogam nos igarapés por pura falta de educação, isso sim. Que se lambuzem na sujeira!