O turbilhão de oportunidades e o emaranhado de obstáculos no caminho dos governantes

O Amazonas é um Estado rico. Deixou de ser pobre no exato momento em que a Floresta Amazônica e o manancial de água doce, que pareciam obstáculos ao crescimento econômico, se tornaram riquezas de valor planetário inestimáveis. Isso e mais os nada desprezíveis (cerca de) R$ 18 bilhões de orçamento do Estado e R$ 5 bilhões da Prefeitura de Manaus, anuais, além dos R$ 87,2 bilhões de faturamento da Suframa (2014).

Falta, então, para atingir o necessário desenvolvimento das potencialidades amazonenses, apenas gestão. E haverá, inexoravelmente, o momento em que alguém se tornará o farol a iluminar a trilha correta.

José Melo, governador do Estado, acaba de anunciar o esboço de plano para 2015. Falou em saúde, segurança, educação e produção rural.

São áreas em que o Amazonas está muito longe de atingir a excelência. Entre a vontade do governador e a prática, que seria capaz de mudar a situação atual, há um cipoal de obstáculos emaranhado, quase intransponível.

É o mesmo que ocorre com a Prefeitura de Manaus. O prefeito Arthur Virgílio precisa resolver os problemas do Centro da cidade, que vão desde a realocação dos camelôs, com um verdadeiro exército de reserva a ocupar o lugar dos remanejados para as galerias, até a altura das ruas, cada vez mais vulneráveis às enchentes. Fora o eterno asfalto “morenou”, que cria buracos negros em qualquer orçamento, especialmente no inverno, e o transporte coletivo, cuja solução parece estar em Napoleão Bonaparte e na construção de uma nova Paris – desta vez das selvas.

São tantos problemas que o simples esboço de solução cria heróis. Quem, por exemplo, fizer um asfalto robusto para resistir a, digamos, 20 invernos, vai ganhar busto em praça pública. Arthur foi quem mais se aproximou, com o asfalto deitado durante a Copa na chamada zona nevrálgica, e, espera-se, colherá frutos no verão deste ano, última chance de a malha trafegável ser estendida para os bairros antes da eleição.

Governador e prefeito se queixam da crise econômica e da falta de recursos. Precisam compatibilizar isso com as demandas do custeio, principalmente com a folha de pagamentos, o ralo por onde se vai grande parte dos dinheiros estadual e municipal.

O general chinês Sun Tzu, personagem quase mitológica para marqueteiros e políticos, ensina que quando o exército (orçamento) é pequeno o general deve atrair o adversário para terreno favorável, como um desfiladeiro, onde emboscadas tornarão o combate menos desigual.

Melo pode fazer uma obra que, com dinheiro que cabe no orçamento atual, abrangerá capital e interior: um porto que substitua a maneira medieval como os barcos do interior despejam mercadorias e passageiros em Manaus. E alguma coisa que indique aos futuros governantes esse caminho, também no interior – Parintins e Itacoatiara têm visibilidade suficiente para se candidatar a esse posto.

Não pode, porém, ser um porto como aqueles, construídos há pouco tempo, cuja maioria foi para o fundo. Tem que ser um porto decente, que ofereça comodidade de aeroporto ou, no mínimo, como a do recém-inaugurado porto de Belém (PA).

Arthur podia pegar um quadrilátero, como o do Zumbi dos Palmares, Armando Mendes e comunidade Sharp, que fica entre Grande Circular-Colônia Oliveira Machado, Estrada do Aleixo-Distrito Industrial, e urbanizá-lo exemplarmente. Como? Desapropriações (o Prosamim está aí mesmo para dar o exemplo), construção de novas vias (arborizadas, com calçadas e ciclovias), reconstrução de casas com padrão arquitetônico decente etc.

E, a seguir, uma nova Ponta Negra, desta vez no Puraquequara.

Era até capaz de o povo esquecer o principal cabo eleitoral de sempre em Manaus, o asfalto.

Fica, então, a expectativa para que os governantes sejam criativos, inovadores, surpreendentes. Ninguém mais governa com marasmo. Disso Manaus, o Amazonas e o Brasil estão cansados.

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