Os ‘sindicatos do B’ e a volta das greves às ruas do Brasil

O sistema sindical brasileiro mudou, na prática, profundamente, a partir do momento em que o Partido dos Trabalhadores (PT) chegou ao poder. A máquina partidária, empenhada em governar, acabou engessando sindicalistas tradicionais e, concomitantemente, as greves diminuíram ou morreram de inanição. Exceção? Talvez a dos professores das universidades federais, mas, ignorados solenemente pelos “governos sindicalistas” e diante da desconfiança dos alunos – que entram com a parte do leão, a perda dos períodos letivos ou de semestres da vida –, eles também foram, aos poucos, desistindo. Agora, de repente, as greves estão de volta.

O que houve? Sindicato não é diferente de Prefeitura, Governo do Estado ou Presidência da República. Precisa, como parte do processo democrático, de oxigenação, alternância no poder. O sindicalista que reclamava da “morte de talentos” provocada pelo Regime Militar, para perpetuar o poder, mas usa a máquina sindical para ficar no cargo, eternamente, repete essa ideologia totalitária, excludente e improdutiva. Ganha no bolso, no curto prazo, sem perceber – ou sem ligar para isso – a imagem de pelego que se vai cristalizando na categoria.

A intolerância e a falta de respeito patronal não ficam impunes. Jamais. Pode até demorar, mas chega uma hora em que a insatisfação aflora com virulência.

A máquina sindical pré-estabelecida faz e desfaz secretários, monta e desmonta mansões, muda guarda-roupas, enquanto seus ocupantes, amparados pela legislação, param de exercer a profissão original… Isso tudo é visível, fartamente, no Amazonas. Não tem nada de secreto.

A fervura, então, chegou ao auge. As greves estão de volta. Acordos feitos pelo status quo, dentro do figurino, sem consultar os interesses das categorias, são rompidos nas ruas.

Foi o que aconteceu com a Polícia Militar (PM) do Amazonas, com aquelas vergonhosas juras de contenção da greve sendo sucedidas pela paralisação. É o que ocorre agora, em São Paulo, na greve dos ônibus.

Repete-se, ao mesmo tempo, o processo do “cristão novo”, que precisa mostrar mais fé e ação que os demais: os sindicalistas do B – repetindo os partidos que colocaram a letra “B” para enfatizar a dissidência dos originais, PTdoB, PCdoB etc. – fazem greves mais duras, cruentas, radicais. Estão obrigando o paulistano a caminhar léguas, todos os dias; ameaçaram com o recrudescimento da violência no Amazonas. Por aí.

A população sofre. A autoridade, acostumada aos acordos de cúpula, bem mais fáceis, se vê obrigada a levantar o tapete e encarar reivindicações mais autênticas, diferentes, profundas.

O fenômeno social é novo. A dialética hegeliana – tese, antítese, síntese – ainda se desenvolve.

O povo reage. Não foram poucos os confrontos em São Paulo. No Amazonas, por mais que todos entendam as razões dos funcionários da Suframa, dos professores da Ufam ou dos policiais, houve reação às mercadorias retidas no porto, os períodos letivos perdidos ou à iminência de uma explosão de violência.

Há confrontos pipocando por todos os lados, a começar pela reação do sindicalista viciado, que não quer perder a boquinha. A esperança dos que torcem pelo melhor é que a síntese seja o aprimoramento democrático, a modernização das relações sociais no País.

O Brasil tem muito entulho que precisa ser removido. O do sindicalismo arcaico é um deles.

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3 comentários

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  1. andson disse:

    Realmente concordo com voce. “Sindicalista viciado, que não quer perder a boquinha”, por isso vou me à ter ao Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Manaus ao qual sua direção ja perdura por mais de 10 anos, sento apenas trocado sua direção de um Oliveira para o outro, mas com o mesmo proposito: cabide de emprego de seus familiares; apropriação e venda indevida do patrimônio do sindicato; falta de prestação de contas de 2001 a 2006, de 2007 a 2013 conforme preconiza o art. 530 da CLT; perseguição de forma ditatorial aos sindicalistas que se impunham à contraria-los, inclusive fazendo paralisações ilegais na frente das garagens, ao todo 40 paralisações das quais 50% delas com o intuito de forçar o empregador a demitir seus sindicalistas oponentes de forma vil e covarde; extorquir empresários, conforme denúncia feita pelo empresário Cesar Tadeu à imprensa local; e fazendo de alguns poucos trabalhadores, sua massa de manobra afim de obter vantagens políticas. Não é à toa que fazem parte do grupo dos sindicalistas do B(PCdo B), e daí, vale lembrar que são oposição ao Governo municipal encabeçado pelo partidário do PSDB.

  2. Carlos disse:

    Eu fico me perguntando se essa bandalheira toda não vem sendo motivada por políticos da “oposição” que querem desestabilizar o governo atual, que no início do seu mandato, tinha os mais altos índices de aprovação. Política é um jogo sujo, onde quem está de fora da situação fica esperando o adversário cometer um erro para então se promover como o salvador. Que o diga os que se elegeram aproveitando as péssimas condições das nossas ruas como plataforma. Que aliás continuam péssimas. Aonde não tem buraco, tem “mondrongo”. Oportunismo é tudo na política.

  3. Andre Marques disse:

    Marcos,
    Pra consolidar o seu portal, vc precisa emitir opiniões sobre a cena local num intervalo muito memor do que faz hj. Gosto do seu texto, mas vc precida melhorar nisso.
    Abraço.