A briga pela água do rio Paraíba do Sul e o pouco caso com a água dos igarapés de Manaus, do Mindu, do Quarenta…

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, deu uma declaração sobre a possibilidade de o Estado utilizar água do rio Paraíba do Sul para suprir a atual crise no sistema Cantareira, hoje operando com cerca de 14% da capacidade. O Rio de Janeiro reagiu. O governador Sérgio Cabral disse que o Paraíba, a principal fonte de abastecimento do Estado, mal dá para os fluminenses. Iniciou-se uma guerra verbal, que pode degenerar numa guerra da água, entre os dois maiores Estados brasileiros. Enquanto isso, aqui no nosso quintal, cursos d’água importantes, como os igarapés de Manaus, Mindu e Quarenta, entre outros, são solenemente ignorados.

Há disputa séria, histórica, com escaramuças quase diárias, entre Israel e Jordânia por causa da água. O rio Jordão, onde Jesus Cristo foi batizado, está em situação precária. Água, enfim, é um problema internacional.

As previsões de que, “no futuro”, a água será mais importante que o petróleo, parecem estar perto demais da concretização. O vendedor ambulante da esquina cobra R$ 3 pela garrafinha de água mineral, com um quarto de litro, mesmo preço do litro de gasolina.

A lógica que preside a abordagem dos igarapés de Manaus, enquanto isso, é simples e direta: fonte de água não será problema para o Amazonas pelas próximas décadas. Isso é mais que os quatro/ oito anos de duração dos mandatos. Não importa se, agora mesmo, quase um terço da população de Manaus tenha problemas de abastecimento d’água.

A questão é que as soluções são de longo prazo. O Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus (Prosamim) perdeu ótima chance, ao priorizar a retirada das casas das margens dos igarapés, esquecendo da água, que continua poluída, mesmo nos locais por onde o programa passou.

Manaus precisa, urgente, de um exemplo de recuperação de igarapé. O que ocorreu com o igarapé do Passarinho, que cruza a Ponte da Bolívia, na Torquato Tapajós, não pode predominar nas consciências dos manauaras. A construção da lixeira, em cima do curso d’água, contaminando com chorume o local que banhou tantas gerações, foi um crime enorme. Tampouco é boa didática o que foi feito com o igarapé de Manaus, tubulado no trecho entre as Tarumã e Ipixuna, passando pela Ramos Ferreira, em plena vigência do ambientalmente correto e numa obra do Prosamim.

Igarapé, sob o ponto de vista ecológico, é curso d’água com mata ciliar, corrente, avermelhada, fria, e peixes. Difícil fazer voltar essas condições num balneário como o do Tarumã? Não. Mas alguém precisa começar e isso só vai ocorrer quando a consciência coletiva empurrar os governantes para a atenção com a água.

O rio São Francisco está sendo transposto. Vai irrigar o sertão. O problema da água é tão grave que chegará o dia em que o rio Amazonas terá parte do manancial sugado para alguma plaga distante e carente. E, afinal, o compromisso desta geração com a água deriva diretamente da necessidade de garantir futuro melhor para nossos filhos, netos, bisnetos…

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3 comentários

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  1. Enolahomes disse:

    Isso aí Marcos!!! Acho que nós que vivemos com água em abundância, não damos valor p/ esse bem tão precioso, o que fizeram e fazem com nossos igarapés é de entristecer!! O pior é que não vejo nenhuma atitude concreta dos governantes nem no sentido de reparar o que fizeram de errado e nem p/ educar a população, o que vejo descendo nesses igarapés é impressionante, vai de plástico à geladeira velha, tudo indo em direção ao Rio Negro…e fico pensando: meu Deus, até quando ele vai suportar tanta porcaria? tanta poluição? Observei, nesse final de semana quantos flutuantes estão se proliferando na entrada do TARUMÃ, CONSTRÓI UMA CASA P/ estacionar seus barcoēs, para não pagarem Marina, e dali jogam diretamente dejetos no Rio, não há nenhuma fiscalização, nenhuma conscientização dessas pessoas que só pensam em si….O prosamim foi o pior projeto já realizado, veio p/ enterrar nossos igarapés, perdeu-se a chance de transformar Manaus em uma Veneza, Amsterdã, Paris…será que realmente nunca seremos LIVERPOOL?

  2. Marco disse:

    Concordo com as argumentações, só lamento que no caso do São Francisco ainda não se concretizou esta obra bilionária da transposição.
    A consciência ambiental surgiu a partir da década de 80 quando percebemos que os recursos naturais são finitos e limitados, especialmente a água.
    Quanto aos Igarapés as gerações perdem ou não têm identidade com eles, a falta de educação e a não aplicação das diversas leis já existentes colaboram com a degradação.

  3. Augusto da Costa disse:

    Infelizment, soment agora q a maioria da população está tendo acesso a educação escolar primária, diga-se d passagem, não é uma escola d qualidad, porém os outros tipos d escola como ambiental, econômica, tributária, jurídica ainda não começamos. O compotmto das autoridades e da população em geral é um reflexo de uma ideia atrasada. No brasil atual um cidadão que nunca leu 1 livro tem um carrão, um celular de ultma geração, porém joga lixo na rua, recbe cel roubado etc e será si por muitos e muitos anos. O primeiro mundo tem outro compotmeto pq tem outra ideia