Carnaval e futebol na terra de Ajuricaba, um banho de desorganização

As escolas de samba de Manaus decidiram anular o desfile do Grupo Especial. Não cai ninguém. Todas ganham. O “jeitinho” parece caber como uma luva, mas esquece dados fundamentais. Tanto São Pedro quanto Governo do Estado e Prefeitura de Manaus foram democráticos. Choveu em todo o desfile e o dinheiro foi entregue em cima da hora para todas as escolas. “Agora vamos para nossas comunidades, comemorar”, disse o presidente de A Grande Família, Luiz Gilberto. Infelizmente, Gilbertinho, não dá.

Os presidentes têm lá suas razões. Mas o respeito ao público precisa estar acima de tudo. Aqueles 60 mil espectadores – na conta das próprias escolas – que ficaram no Sambódromo, a noite toda, sob chuva intensa, torcendo pela escola preferida, ou mesmo acordados em casa, vendo na TV, mereciam saber o resultado do julgamento. Idem em relação aos jurados, encolhidos numa cabine minúscula, igualmente molhados.

Tem um outro aspecto que é ainda mais grave: o investimento do dinheiro público, por mais que tenha sido entregue muito tarde, só se justifica se houver a motivadora e salutar competição. O que dirão os Ministério Públicos? E o Tribunal de Contas do Estado (TCE)? Poderão, por exemplo, exigir que as escolas devolvam o dinheiro, já que não competiram.

Verdade é que o Carnaval está muito mal organizado. Os dirigentes têm na mão um patrimônio enorme, como se vê nas festas dos fins de semana que antecedem o período carnavalesco, na participação da comunidade, no empenho dos artistas e no enorme público que comparece ao desfile do Grupo Especial. Este foi um dos únicos carnavais amazonenses com menos de 100 mil pessoas na plateia do Sambódromo, com a justificativa mais que plausível da chuva.

Não cai nenhuma. Sobe a Império da Kamélia. Desfilam nove escolas no ano que vem. Quem vai ceder o barracão para a nova integrante do Grupo Especial? A esta altura, falando teoricamente, ela é a única legítima, porque conquistou a vaga desfilando, disputando e vencendo, enquanto qualquer uma das demais poderia cair – teoricamente, vejam bem, porque, claro, um Carnaval como da Reino Unido ou da Aparecida ou mesmo de A Grande Família não cairia, exceto se boi voasse, como costuma voar nesta terra.

Uma instituição como o Carnaval só prospera quando todos estão unidos para organizá-la. Não dá para tolerar que qualquer escola não retire as carcaças de seus carros alegóricos dos arredores do desfile, por exemplo, num acinte à cidadania e em enorme desprezo às regras aprovadas por todos. Inaceitável essa teimosia em não prestar contas do dinheiro público recebido, como manda a lei, tendo um ano inteiro para isso.

É preciso que as regras sejam cumpridas. Quem caiu, caiu. Merece penar no Grupo de Acesso A, onde a disputa fica a cada ano mais difícil, para caprichar quando voltar ao Grupo Especial.

A sociedade não tolera mais panelinha. O Grupo Especial das escolas de samba de Manaus, que, afinal, com toda a chuva, deu um banho de Carnaval no desfile, precisa aprender a conviver com o distinto público. Respeito é bom e conserva a torcida.

Quanto aos ingressos para o jogo Nacional x Remo… subestimaram a fome do amazonense por futebol. A gente protesta quando vê R$ 600 milhões aplicados num estádio, mas, depois de pronto, não abrimos mão do direito de ver como ficou a obra e utilizá-la plenamente.

O www.ingresse.com.br aprendeu, do jeito mais duro, como é quando essa gente bronzeada mostra seu valor. Aqui a internet é capenga, a inclusão digital não é plena, o desenvolvimento ainda está longe, os times patinam na Série D, mas dá para derrubar um site despreparado, fácil, fácil, como aconteceu com esse.

E agora? Quem ainda ousa dizer que a Arena da Amazônia não vai ter público para ver futebol?

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4 comentários

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  1. Fátima disse:

    Marcos Santos, você expressa exatamente o sentimento da maioria das pessoas que foram ao Sambódromo e, assistiram o desfile pela CBN.Quem cai na chuva tem que se molhar, quem não q perder não entra em competição.
    Quanto aos ingressos p inauguração da Arena” VIVALDÃO,” é assim que eu chamo; fui uma das pessoas, que não conseguiu comprar.

  2. PLINIO CESAR disse:

    Um verdadeiro carnaval no amplo sentido da palavra foi o que fizeram as escolas de samba ao tomarem essa decisão ridicula, uma falta de respetio com as pessoas que estiveram la como eu, esses irresponsaveis tem que prestar contas pelo dinheiro publico embolsado.

  3. Denys Cruz disse:

    Concordo com você. Não sou da praia do carnaval mas respeito bastante o trabalho desse povo guerreiro. Estou sempre no Alvorada e via a luta e dedicação do pessoal, ensaiando, comprando as fantasias e etc. Imagino a sensação de ter sido sacaneado. Isso vai refletir nas próximas, hein. E você, narrando, avaliando, se dedicando na TV. Pra quê? Decepção hein. Quanto ao ingresso, o que se percebe é que existe sempre um oba-oba gigante pra se anunciar aportes milionários para sites e startups, erroneamente intitulado como marketing. Na hora do vamo ver, a coisa é bem diferente, deixando a desejar. É, Marcos, muito o que se caminhar ainda na terra de Ajuricaba. Abraços.

  4. Neilo Batista disse:

    Grande jornalista Marcos Santos, parabéns pelo artigo, mas, só para clarear um pouco sua assertiva, esclareço em nome da verdade dos fatos, que o G.R.E.S Reino Unido da Liberdade foi a única escola que não compactuou com essa vergonhosa manobra, nosso presidente não assinou o pleito dos demais. A Reino Unido veio preparada para ganhar este carnaval, e, mais uma vez foi sacaneada. Um abraço!!