O trabalho do repórter e o do policial. Desagravo a Jackson, cinegrafista da Band, algemado e jogado em camburão

O repórter, seja de texto, cinegrafista ou fotógrafo, sai às ruas para registrar o fato. Corre o risco, se voltar para a redação do veículo em que trabalha sem o vídeo/ foto/ história, de perder o emprego. O oficial da PM tem, entre suas atribuições, a preservação do local do crime… e o resguardo do direito dos profissionais de imprensa de fazerem o trabalho deles. Não há, em nenhum manual/ estatuto, até porque isso seria inconstitucional, qualquer recomendação para a truculência policial ou a obstrução da investigação pela imprensa.

Jackson, agredido hoje (27/02) com tapas, algemado e jogado num camburão – não sem antes negarem-lhe o direito de pegar o remédio de cardíaco –, é um cinegrafista experiente. Sabe que precisa lutar para obter as imagens que saiu às ruas para capturar. E, de forma alguma, uma imagem obtida com o poderoso zoom de câmera de vídeo profissional atual pode interferir em cena de crime.

Algema, está reconhecido por todos, só deve ser usada em último caso. Que risco um cinegrafista, com uma câmera na mão, pode representar para um policial armado e comandando equipe de policiais? Policial, oficial, aprovado em rigoroso concurso e treinado em academia, não pode ceder aos impulsos e estapear alguém assim, como Jackson foi estapeado, a ponto de perder a compostura e a própria arma, que ficou atirada no chão.

Fosse Jackson um elemento perigoso, um criminoso desses dos quais a periferia está cheia – e são capazes de matar parando o carro ao lado das vítimas, em via pública movimentada, como a Carvalho Leal – e o oficial corria o risco de desfalcar a família – e a sociedade do investimento feito em sua preparação – com a própria vida.

A corregedoria-geral do sistema de segurança pública tem aí bela oportunidade de mostrar à sociedade como está exercendo o papel de defesa do cidadão, diante da truculência policial, um dos males da sociedade atual, que contribui para a violência e atrapalha o trabalho dos policiais profissionais conscientes. Que, felizmente, são maioria e sabem a dose certa de força a empregar na defesa do cidadão.

O tenente tenente PM Carlos Eduardo Esteves Zedor tem processos, no Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM), por abuso de autoridade e disparo de arma de fogo. A primeira coisa que a corregedoria tem que ver é se esses não são casos em que a proteção do cidadão manda tirar o policial das ruas. Porque se ele faz algo assim, com um sujeito pacato como Jackson, o que não fará numa rua deserta da periferia, noite adentro, com um trabalhador que volte assustado para casa?

A crise é momento de oportunidade. Que o sistema de segurança aproveita esta para corrigir exemplarmente erros de procedimento que mancham o investimento bilionário feito pelo Governo Omar Aziz no setor.

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